Provavelmente só mais tarde, passada a epidemia, se poderá saber que variáveis contribuíram, e em que medida, para a evolução da Covid-19 nos diferentes Estado-membros da UE. Como assinalado aqui, os contextos são importantes e refletem a combinação de múltiplos fatores, incluindo o perfil demográfico de cada país, a forma como se estruturam as redes urbanas ou a adaptação do vírus às distintas condições climáticas, a par de diferenças ao nível da reação coletiva à epidemia, das medidas adotadas e da capacidade de resposta dos diferentes sistemas de saúde.
Não desvalorizando estes e outros fatores, colocou-se também aqui a hipótese de o desfasamento temporal da contaminação dos Estados-membros da UE28, que permite identificar dois períodos distintos, ajudar a explicar as diferenças de evolução da epidemia, sobretudo em termos de taxa de letalidade, tendencialmente mais baixa nos países afetados numa segunda fase. Os resultados sugerem, de facto, que o conjunto de países mais tardiamente contaminados beneficiaram, quanto ao momento de aplicação de medidas de contenção e da adesão social a essas medidas, da trágica evolução da epidemia em países da primeira fase (como Itália e Espanha).
Há razões válidas para admitir a hipótese, que tem vindo a ser colocada, de Portugal estar a seguir, apenas com semanas de atraso, a trajetória de Espanha e Itália. Com efeito, estamos não só a falar de três países do sul, com condições climáticas, perfis demográficos e culturas semelhantes no quadro europeu, como de casos em que o ritmo de crescimento da epidemia é idêntico. Uma das grandes diferenças reside, de facto, no referido desfasamento temporal: Itália e Espanha foram afetadas na Fase 1 de contaminação (primeiros casos a 31 de janeiro e 1 de fevereiro, respetivamente) e Portugal na Fase 2 (com o primeiro caso identificado cerca de um mês depois, a 2 de março).
Vale por isso a pena comparar a evolução da epidemia nos primeiros 28 dias em cada um destes três países, contados a partir do momento em que se entra na fase de aumento exponencial do número de casos (20 e 24 de fevereiro no caso de Itália e Espanha; 3 de março no caso de Portugal).
Se em termos de número absoluto de casos confirmados a evolução de Itália e Espanha é muito semelhante, atingindo-se cerca de 36 e 29 mil casos ao 28º dia, respetivamente, em Portugal o valor é bastante menor, a rondar os 6 mil casos no fim desse período. Contudo, ponderando estes valores pelo total da população, constata-se uma evolução idêntica nos três países, com rácios a oscilar entre 59 e 62 casos por 100 mil habitantes. A diferença, de facto, parece residir na Taxa de Letalidade (percentagem de vítimas mortais no total de casos confirmados), que é mais elevada em Itália (8% no 28º dia do período considerado), igualmente elevada em Espanha (6%) e bastante inferior em Portugal (2%).(*)
Dados que sugerem que a adoção atempada de medidas de contenção, e uma maior adesão imediata por parte das populações a essas medidas, podem estar a contribuir para esbater o crescimento exponencial da epidemia, favorecendo a capacidade de resposta dos sistemas de saúde e a redução do número de vítimas mortais. O que implica, por seu turno, que a União Europeia não pode continuar a falhar e a tardar como até aqui em matéria dos apoios que se impõem, para responder à crise económica e social sem comprometer a recuperação no pós-Covid. Nem, evidentemente, continuar a falhar aos países mais afetados, como Itália e Espanha, que tendo sofrido o primeiro impacto da epidemia ajudaram os restantes países a melhor saber lidar com ela.
(*) Os dados disponíveis relativos à epidemia devem ser sempre vistos com cautela e relativizados, sobretudo quando se procede a comparações internacionais. De facto, os diferentes países estão a adotar critérios clínicos distintos na confirmação de casos, na aplicação de testes e na atribuição da causa da morte à Covid. Por outro lado, no que respeita à ponderação de valores pela população residente, não deve descurar-se o facto de as dinâmicas epidemiológicas terem uma lógica que assenta em pontos de contágio e na proximidade (incidência territorial delimitada, pelo menos numa primeira fase), tornando por isso de certo modo artificiais as ponderações feitas com base em áreas e contingentes populacionais mais vastos, cujas fronteiras são, para este efeito, de natureza meramente política e administrativa.
Só há uma explicação para tantas infeções em lares de terceira idade, muitos deles em zonas remotas: a quantidade de pessoas infetadas sem sintomas tem de ser muito grande.
ResponderEliminarOu isso ou, então, alguém anda a infetar os lares de propósito.
Foi a UE, repito a UE, mais precisamente a Comissão Europeia, contra a vontade dos governos nacionais com medo das repercussões económicas, que mandou fechar tudo! Lembrem-se sempre disso quando acusarem a UE de ser "neoliberal", quando foi a UE "neoliberal" que instou o governo "socialista" a colocar a vida das pessoas à frente da economia.
ResponderEliminarDe que forma é que a métrica de dividir pela população é relevante?
ResponderEliminarDividir pela densidade populacional vá, talvez fizesse sentido... Dividir pela população total parece-me algo irrelevante nesta altura, até porque o crescimento exponencial do número de infectados não está limitado pelo número de habitantes.
Talvez mais para o pico da dita pandemia seja relevante este calculo, mas ninguém acha estarmos perto deste pico...
Não percebo porque se insiste na asneira de dar significado ao número de casos confirmados, que é muito mais função do número de testes feitos do que da real evolução/expansão da pandemia. Muito mais relação directa com o número de casos reais terão o número de internados ou o de mortos. Com o relativamente baixo número de testes feitos em Portugal, alguns destes gráficos podem estar muito fora da realidade
ResponderEliminar"Foi a UE, repito a UE, mais precisamente a Comissão Europeia, contra a vontade dos governos nacionais com medo das repercussões económicas, que mandou fechar tudo!"
ResponderEliminarMentira.
Mas não ouviu as declarações do próprio Costa? Ou precisa de um gráfico?
EliminarJPF, deixe-se de tretas. E uma mentira transparente.
ResponderEliminarA Suecia, por exemplo, continua sem medidas de "lockdown".
A Hungria fez aprovar um Estado de Emergencia com Governo por decreto - uma ditadura agora formal quando antes era apenas levemente disfarcada.
Os diversos Estados membros fizeram "lockdown" ou nao fizeram, conforme quiseram e na medida que lhes quiseram. Um verdadeiro "salve-se quem puder"...
DEPOIS dos diversos Estados-Membros terem fechado as fronteiras e que finalmente a UE suspendeu o Espaco Schengen...
Onde e que esta a coordenacao da UE? Onde esta a UE "que mandou fechar tudo!"?
Nao seja ridiculo. Ao menos tente mentir de forma convincente.
A OMS que tem os melhores especialistas e investigadores de todo o mundo , e que classifica a propagação do virus como moderado, deve estar surpreendida como um foco que vem dos antipodas se propagou em grande velocidade à UE
ResponderEliminarEstá demonstrado que na Eurocracia e nos Euroentusiastas reina uma grande desorientação.Não passaram do 8 ao 80 mas sim do 0,8 aos 8 milhões.Deverão desde já ser responsabilizados pela situação tragica que se está a passar e por tudo aquilo que há-de vir a seguir.Porque se apostou nos fluxos turisticos no alojamento local, na especulação do espaço urbano e não se tomou logo medidas e se deixou chegar a esta situação?
É espantoso e ridiculo com se passe de fronteiras totalmente abertas a criar uma fronteira por concelho.