quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vamos ajudar?


Um ano depois do que só com muita ignorância ou desfaçatez ainda se designa por “ajuda”, como está a Grécia? Quebra do PIB de 4,3%, desemprego galopante, que já vai nos 14,7%, défice e dívida revistos em alta. Os efeitos perversos da austeridade não têm fim. Rumores sobre saída do euro à parte, a verdade, como afirma Paul Krugman, é que antes desse cenário, e talvez em vez dele, está, neste contexto europeu, a inevitabilidade da reestruturação da dívida para reduzir o seu fardo. É a arma das periferias para forçar um mínimo de racionalidade nesta desunião. É claro que isto vai contra a lógica da austeridade, cujo propósito é salvar o sector financeiro, os credores, evitando que tenham perdas por agora, quando ainda se está frágil devido à última crise. Duas alternativas: a ameaça da renegociação ou o conselho do economista Mark Weisbrot no New York Times: “podem ter a certeza que as autoridades europeias ofereceriam à Grécia um melhor acordo perante uma ameaça credível de saída do euro”.

Portugal vê-se grego. Weisbrot de novo: “Portugal acabou de concluir um acordo que prevê mais dois anos de recessão. Nenhum governo deve aceitar este tipo de punição.” Os juros anunciados para o empréstimo da UE – algures entre 5,5% e 6% – são incomportáveis. É que, segundo um estudo do próprio FMI, o esforço de consolidação orçamental em curso tem impactos recessivos fortes. No contexto mais favorável, ou seja, quando é possível desvalorizar a moeda e descer taxas de juro, por cada 1% de consolidação orçamental, o PIB cai 0,5%. Num contexto como o das periferias, em que essas opções não estão disponíveis, cada 1% austeridade tende a gerar uma quebra do PIB de 1%. A redução prevista no défice é de 6% do PIB. Façam as contas e veremos que os 4% de recessão nos próximos dois anos, seguidos de tímida recuperação, podem bem pecar por ser optimistas. Jorge Bateira já fez as contas, com pressupostos mais benevolentes, e a dinâmica de insolvência com esta engenharia neoliberal é clara.

Responsáveis são então aqueles que respondem com realismo à principal questão: renegociar a dívida agora, quando ainda temos alguma força económica, ou renegociar montantes, prazos e juros mais tarde quando tivermos ainda mais exauridos por anos de capitalismo de pilhagem? Promova-se uma auditoria à dívida para preparar a sua renegociação e talvez alguma racionalidade, alguma decência, alguma clarividência, surja entre estas elites políticas. Tudo o resto é incompetência, irresponsabilidade e pilhagem. Tudo o resto é a política de bloco central.

Publicado no Arrastão.

11 comentários:

  1. Ontem, salientando a data e sublinhando os efeitos, alguém alertou para isto que está aqui escrito, desejando não se esperar um ano (ou dois) para decidir pelo caminho certo. Vamos muito provávelmente ter de percorrer o caminho dos gregos e enviesar quando não tivermos um tostão para poder pagar (situação que só aparentemente será a de hoje...)

    Excelente post este do "arrastão" e que bem fizeram em colocar aqui.

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  2. Nenhum governo deve aceitar este tipo de punição...ok

    Os juros anunciados para o empréstimo da UE – algures entre 5,5% e 6% – são incomportáveis. É
    verdade e é simples reduzam brutalmente as importações de bens não essenciais através de taxas mais altas sobre produtos de luxo

    e poupança forçada aos 200 mil pensionistas acima dos 1500 euros

    e principalmente salários e pensões pagas pelo erário público acima de 4.000 euros

    redução dos consumos de serviços e de bens não essenciais no estado

    congelamento das carreiras

    só no exército e marinha podia-se poupar 200 milhões com facilidade

    não se pode obviamente hoje há brigadeiros com 47 anos na força aérea a dar com um pau

    e generais suficientes para várias companhias




    o esforço de consolidação orçamental em curso tem impactos recessivos fortes.

    mas podia ter muito menos se houvesse contenção de gastos

    mas o que é público tudo se rouba leva emprestado e delapida-se

    queimam-se uns milhares de caixotes de lixo por ano e ecopontos por ano....são trocos


    tiram-se centos de milhões de fotocópias para filhos sobrinhos e para consumo próprio nos serviços

    são trocos

    gastam-se milhares de milhões de folhas em burocracias inúteis e em toners porque apesar de vivermos num paraíso digital

    imprime-se tudo em triplicado e fotocopia-se uma cópia para arquivo



    por cada 1% de consolidação orçamental necessariamente o PIB cairá

    agora num povo que deixou de poupar

    em velhos que compram bombas com matrículas de Maio de 2011 para os filhos para si e para os netos
    a crédito porque têm pensões que pagarão esses empréstimos

    quando dezenas de milhares estão reformados aos 57 anos

    e quando milhares dos 18 aos 50 emigram porque os estrangulamentos de crédito às empresas levam a fechos diários ...enfim

    Deus ajuda a quem a si mesmo ajuda

    claro que se o pedinte se arrasta e diz sou incapaz não sei fazer

    ensinem-me....pois

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  3. não temos a dívida dos gregos

    mas o nosso sector público tem todos os defeitos dos gregos e mais

    há gente que poupa e tem capacidade para amortizar

    há gente que retira as poupanças e as gasta porque desconfia do amanhã e quer levá-lo todo hoje

    somos esgraçadinhos profissionais

    andamos todos ó gamanço dos bolsos alheios

    é por isso que olhamos de lado os carteiristas

    não têm finesse...

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  4. Sabem o que vai acontecer?
    A Grécia restrutura a dívida. Pois restrutura.

    AI jesus que lá vai o Euro! Näo, a Alemanha näo deixa. Entäo?

    O BCE vai imprimir os euros necessário para colmatar o buraco, entregando o montante aos bancos. Esse ficam com o principal, perdem só os juros. Ou entäo, até se imprime mais, e até os juros säo pagos.

    E continuamos na boa.
    Até a Alemanha se chatear de vez, e pronto, a dívida soberana passa a ser da Euroländia.

    Ficam todos contentes.

    (menos os Américas, cujos motores económicos, Califórnia e tal, estäo falidos)

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  5. O BCE vai imprimir os euros necessário para colmatar o buraco

    tão simples aumenta a massa monetária aumenta a tão temida inflação

    aumentam os juros

    aumenta o....aumenta a ....

    é maquiavel do século XXI nem bom pensador nem bom ecu no totta mista

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  6. Já se viu que o tal dinheiro impresso nunca chega ao mercado, fica a tapar os buracos financeiros dos bancos para que mantenham liquidez, chamam-se RESERVAS, ó louva-a-deus idiota.

    Ou os 70.000 milhöes € (ou foram ainda mais) só em 2009 provocaram alguma inflaçäo por aí além? Quanto muito serviram para emprestar à Irlanda a 15% ou a Portugal a 7%.

    Continuem a votar na troika de cá (PS/PSD/CDS) para bajular a troika de lá (FMI/BCE/UE) enquanto isso a Argentina e o Equador väo prosperando!

    Ai quando estoirar... em Portugal nem é preciso helicópteros, iriam de submarino...

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  7. Agradecido pelo insulto, nos anos 90 tive a meu cargo cerca de 60 maquiavéis argentinos

    eram engenheiros e gestores com qualificações várias chegavam tarde
    por vezes às 11 horas

    quando o horário flexível era das 8h45m às 9h45

    não sujavam as mãos

    e queixavam-se das 249 libras semanais que ganhavam

    e lembravam-se dos tempos nessa década em que ganhavam na Argentina 3 a 10 vezes mais

    e como nós nos sujeitavamos a salários relativamente baixos consideravam-nos assi uma espécie de gajos de 2ª


    à dívida para preparar a sua renegociação e talvez alguma racionalidade........

    o PIB argentino desceu em 3 ou 4 anos mais de 1/3

    presumo que tenha tirado economia em ÉVora seu Maquiavel

    ou tenha ai uma média de 12

    ou então seja congénito

    seja por via ideológica

    seja por ego inflaccionado como os señoritos argentinos

    a única diferença entre nós é que eu sei desde os 6 anos que sou um idiota.....

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  8. manter reservas em notas que não circulam ou injectar moeda virtual nos bancos dá no mesmo

    e poupa custos de impressão...

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  9. Talvez tenha tirado economia no I.U.B.I?

    acertei

    era pior do que Évora

    ou que o Proto Bento de Jesus Caraça dos fins dos anos 70

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  10. Comparado com Sócrate só Vale e Azevedo, que ainda hoje tem benfiquistas admiradores.

    Só que Sócrates será um dia um caso de estudo profundo para muitos professores de política.

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  11. João Carlos Graça12 de maio de 2011 às 12:40

    Caro João, cito o Paul Krugman: "Second, Greece, as a relatively poor country with a history of shaky governance, has a lot to gain from being a citizen in good standing of the European project — concrete things like aid from cohesion funds, hard-to-quantity but probably important things like the stabilizing effect, economically and politically, of being part of a grand democratic alliance. A euro exit could do much more damage to Greece in the long run that Argentina faced from its devaluation."
    Ou seja, o fundamental da argumentação de PK para sugerir à Grécia que se mantenha "na linha" em matéria de Euro está assente: 1) numa visão ela própria claramente preconceituosa sobre o povo grego, que tem supostamente tendência para uma "má governação" quando deixado entregue a si próprio; 2) numa lógica de "cenouras" e subsídios internamente à UE; 3) numa noção simultaneamente muito rósea e algo "americanocêntrica" da realidade da UE, a tal "grande aliança democrática".
    Se deixarmos de lado estas fantasias róseas e estes preconceitos semi-racistas de PK, que retiramos então da sua linha argumentativa? Evidentemente - e ao contrário do que a própria esquerda (BE e PC) defende neste momento em Portugal - a reestruturação da dívida, embora decerto necessária, já não vai bastar. A reestruturação não pode ser pensada como alternativa à saída do Euro, mas como seu complemento...
    Quer em nome da saúde económica: a alternativa à desvalorização explícita à Argentina é a prazo inevitavelmente a "desvalorização interna" à países Bálticos. Quer em termos de saúde política e de auto-estima colectiva: é indizível (mas decerto imenso) o mal que faz a povos como o grego ou o português esta visão "auto-racista" propiciada pela leitura de gente como o PK - mas, já agora, ele não diria o mesmo dos argentinos antes de estes terem feito o que fizeram?...

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