quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O monstro que ninguém dispensa

Este gráfico de Eichengreen e O'Rourke, parte de uma análise em constante actualização, compara a evolução da produção industrial mundial nos meses que se seguiram à crise de 1929 e à de 2008. Parece que a Grande Depressão foi evitada. É o que diz Lains: défices públicos e dívida pública ajudaram. O monstro que nenhuma economia capitalista avançada dispensa, com as suas garras monetárias e orçamentais, evitou, até agora, que a história se repetisse. Como já várias vezes aqui se defendeu, a questão central de economia política não diz respeito ao peso do Estado, o seu aumento ao longo da história dos capitalismos é em si pouco informativo, mas sim às ideias e aos interesses que guiam as políticas públicas, entendidas como acção colectiva que necessariamente condiciona, restringe e liberta as diversas acções individuais, indicando a cada um os custos e os benefícios, em sentido amplo, que poderá ou terá de considerar ou de transferir para terceiros...

5 comentários:

  1. Gostava de perguntar ao J. Rodrigues e aos Ladrões se acham possível algum combate à recessão, seja pela via da austeridade e desregulação ou pelo investimento público e federalização, quando enfrentamos um novo estrangulamento energético gual ao de 2008, que foi o catalisador de tudo isto.

    Existe alguma sociedade imune à indisponibilidade de energia barata?
    Em caso negativo, devíamos estar a pensar como sair disto pela via do consumo e renegociação da dívida ou a alterarmos esta dependência total de uma única fonte energética, cada vez mais escassa?

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  2. O uso do consumo público em período de crise catastrófica não é um monstro. O monstro está antes e depois. Quem tem um endividamento razoável pode usar esse instrumento quando necessário. Veja-se os vários países do leste da Europa que estão a regressar a uma crescimento de 3 ou 4 % ano.
    já agora como explica que em países como portugal onde o estado tem um peso imenso na economia a desigualdade seja tão grande?
    Ou será que a subida dos salários em carriras técnicas da função pública, sen concorrência com o exterior, contibuem para essa desigualdade?

    Jorge Rocha

    ResponderEliminar
  3. Nunca vos ocorreu que o endividamento está associado à independência de uma estado? Se a China tiver uma grande fatia de dívida portuguesa pode usá-la politicamente para fazer pressão política. Por exemplo na política comercial.


    João Paz

    ResponderEliminar
  4. "já agora como explica que em países como Portugal onde o estado tem um peso imenso na economia a desigualdade seja tão grande?"

    Muitos países europeus onde o Estado tem o mesmo peso na economia não herdaram estas desigualdades do seu regime do pós-guerra antes "resolveram-nas" em parte nesse período.
    Apesar de termos após introduzido um Estado-providência semelhante, herdamos a mesma estrutura social e influência de interesses privados no Estado que tínhamos antes da revolução, logo, a mesma desigualdade.

    O que mudou foi a postura e o papel do Estado enquanto instrumento dessas forças na instituição destes desiquilíbrios.

    ResponderEliminar
  5. Caro João Rodrigues
    De acordo genericamente consigo. Todavia, acrescento que em termos gerais a tese verdadeira é precisamente a oposta à que Ricardo Reis defende. Embora o "peso do Estado" seja algo que deve sempre ser analisado no concreto - e nisso, repito, concordo consigo - em geral são melhores os casos das economias em que é maior o "peso do Estado" (despesa pública / PIB; mas talvez seja melhor começar a chamar-lhe o "contributo do Estado"). São geralmente as economias mais prósperas; e são também geralmente essas as sociedades mais igualitárias.
    A contrario, é ver para Portugal o caso dos governos Sócrates, de que à direita, e em nome de um mínimo de honestidade intelectual, qualquer comentador rapidamente se põe a louvar os "cojones" (ainda que a contragosto, como parece ser o caso com RR), por ter "walked the walk" onde o PSD e o PP só tinham "talked the talk", etc.
    Depois, e quanto ao estudo de Eichengreen e O'Rourke, registo que a evolução do output industrial por país tem na verdade sido pior do que na crise de 1929-33 para a maior parte dos países mencionados. Assim, e por exclusão, creio dever atribuir a terceiros - talvez sobretudo a China - a comparativamente rápida recuperação. Pode confirmar, sff?
    Outra nota: adentro dos países dignos de menção no estudo, só os EUA se têm mesmo assim portado menos mal. Graças, é claro, a enormes défices públicos, a "quantitative easing", etc. Ora bem, considerando que tudo isso se escora na posição privilegiada do dólar à escala mundial, creio poder concluir do fundamental que: a) na sede do império a populaça tem de ser tratada com mais deferência do que na periferias, onde todo o "rigor" é permitido; b) a política de "intransigência" e "rigor" orçamentais do lado do BCE não é tanto a oposta das autoridades dos EUA, como o seu reverso e complemento. Joga e "encaixa" nela às mil maravilhas. Verdade ou não?

    ResponderEliminar