quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Estabilidade para quem?



O ex-ministro da saúde Correia de Campos, o das parcerias público-privadas, do esvaziamento do Serviço Nacional de Saúde, decidiu decretar que Cavaco garante “estabilidade”. Claro que garante. Estabilidade para quem quer aproveitar a crise para fragilizar o SNS e outros serviços públicos, substituindo os direitos sociais pela ineficaz caridade. Estabilidade para quem, como Passos Coelho, quer aprofundar as políticas de subversão constitucional, as que transferem ainda mais instabilidade para os trabalhadores através de mudanças nos princípios que enquadram as relações laborais. Estabilidade para os banqueiros que vivem à custa do Estado bombeiro. Cavaco sempre se deu demasiado bem com banqueiros. Estabilidade para criar crises políticas. Estabilidade para apoiar o FMI em tudo o que for preciso, da generalizada redução dos salários até à entrega de ainda mais recursos públicos aos privados. Estabilidade para criar instabilidade para a maioria. O ressabiamento é menos importante do que a ideologia na reacção de Correia de Campos. As suas posições são a expressão da colonização ideológica da social-democracia pelo neoliberalismo, como já aqui defendi. Manuel Alegre, pelo contrário, sempre recusou esse triste destino, um destino que contribuiu para o actual impasse da União Europeia e para esta crise.

O Rui Tavares já disse o essencial sobre Manuel Alegre e sobre os seus valores. Sublinho apenas dois ou três pontos. Em primeiro lugar, Manuel Alegre foi dos primeiros em Portugal a defender a necessidade de uma iniciativa diplomática das periferias para evitar uma austeridade que as vai destruir, o que requer reformas na arquitectura do euro. Em segundo lugar, Manuel Alegre tem um compromisso político firme com a defesa do Estado social e com o seu reforço, uma das melhores expressões de uma comunidade política decente que não desiste de garantir as mais amplas e concretas liberdades para todos. Isto também passa pela defesa de direitos laborais fundamentais, já que a democracia não pode ficar à porta da empresa. Isto quer dizer que Manuel Alegre é o candidato em melhores condições para garantir a estabilidade constitucional ameaçada por derivas reaccionárias. Em terceiro lugar, Manuel Alegre sabe que o actual “capitalismo de pilhagem” ameaça o Estado social, gera crises e desemprego e tem de ser superado pela acção de um Estado estratego autónomo face aos grandes interesses. É preciso mudar os termos da conversa.

Estas parecem-me ser as linhas de fractura mais importantes na actual conjuntura política, as linhas onde se decide politicamente a estabilidade para a maioria. É aqui que as esquerdas têm de estar, nas presidenciais e para lá delas.

Imagem de gui castro felga. Publicado no arrastão.

9 comentários:

  1. Manuel Alegre apoia e é apoiado por José Sócrates. Em termos de política económica, Sócrates e Cavaco não se distinguem.

    A esquerda hoje em Portugal está reduzida a isto?

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  2. Há sp a possibilidade de serem declarações de ordem táctica para prejudicar Cavaco! Que ele nãio vota Alegre isso é certo, mas daí a votar Cavaco......
    Acho que no dia ,que espero que longe, que o PPD chegar ao poder se verá e se sentirá a diferença entre a direita (estado caridade)e o PS.

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  3. Nuno

    O PSD já esteve no poder há uns anos e nunca se atreveu a fazer o que Sócrates faz. Não tarda nada Portugal faz os EUA parecerem um estado comunista.

    Quanto a Correia de Campos, foi ministro ainda até há pouco tempo, de um governo liderado por... José Sócrates.

    Nas presidenciais anteriores Mário Soares garantiu que Cavaco era eleito. Nestas eleições Sócrates conseguiu que fosse o próprio Alegre a fazer esse papel!

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  4. Concordo com tudo o que diz sobre Alegre. É precisamente por isso que ele vai levar o banho vergonhoso do próximo domingo.

    Fgcosta

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  5. Já se percebeu, pelos "senhores idiotas" anteriores", a quem CSilva deverá a sua vitória, no caso de isso vir a acontecer...
    Artistas na arte do insulto à diversidade, insulto ao futuro, insulto à cultura e às ideias, insulto a quem não tem medo de erguer a voz contra a injustiça e os ataques á democracia,insulto a quem não se deixou nunca comprar ou silenciar, nem por um par de Purdeys, quanto mais por umas acções com 140% de lucro ou uma permuta com "Gaivotas azuis" e Coelhas...
    CSilva só ganhará se os sujos como ele o elegerem.
    Espero que Portugal seja maior do que este candidato e a corja que o endeusou (comprando-o).

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  6. Insulto às pessoas. Alegre fez troça de alguém por não ter o berço que ele teve. Sendo incompeetente vai ter uns 20% e é muito. Ele quer dizer aos mercados que estão a ser injustos. Um país que tem uma dívida de 120% do PIB.


    joão Paz

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  7. Sei que alguns dos membros deste blogue são apoiantes do Alegre.

    Por isso, e tendo em conta o desenho publicado nesta mensagem, pergunto: se o governo permitir que o FMI entre por Portugal adentro, mandando ao ar a soberania popular/ nacional (ou seja, destruindo o pouco de democracia que ainda há), será que o Alegre demite o governo?

    Esta questão põe-se e parece-me importante.

    P.S.: Não sou comunista, mas li algures que o Francisco Lopes, caso seja eleito, está pronto a utilizar o poder de dissolver a Assembleia, assim as circunstâncias o imponham.

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  8. Carlos Albuquerque, discordo totalmente, sobretudo a comparação com os EUA, apesar de a entender como irónica! Mas no geral esse é o caminho dos senhores da UE, o neoliberalismo, mesmo com evidências da sua falência!

    Nos EUA a proposta de reforma de saúde Obama é semelhante ao que republicanos propuseram há 15 anos atrás! Os republicanos de hoje acham-na socialista!
    O actual PPD, nada tem a ver com o de há 15 anos atrás, e as suas intenções percebem-se pela proposta de revisão constitucional. O estado social para esta gente é a caridade!

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  9. É o fundo de estabilização europeia e não FMI. A soberania é perdiada temporariamente devido ao endividamente excessivo.
    Já agora, Portugal perdeu a soberania em 1983-85 quando chamou o FMI? Chamou não foi imposto.

    Jorge Rocha

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