Paula Amorim é a pessoa mais rica de Portugal e logo das mais poderosas. Vivemos em capitalismo e com cada vez menos freios e contrapesos à grande ameaça à democracia: o poder do capital, o que pode bem conduzir ao fascismo.
Paula Amorim encarna o capitalismo fóssil, graças à Galp, herdada do pai, mérito de uma privatização ruinosa, e da Amorim Luxury, mimalhice tão reveladora. Encarna por isso também o porno-riquismo, ou seja, o consumo conspícuo na era das desigualdades pornográficas.
Com regularidade, o seu serviço de relações públicas coloca-a na primeira página de jornais e revistas cada vez mais submissas, como aconteceu agora com a Sábado.
Aliás, é para toda a ação política que colocou ideólogos liberais como Adolfo Mesquita Nunes na vice-presidência da Galp ou que o apelido Amorim paga parte do Eco Patronal. Paula Amorim já “escreveu” na revista do Eco Patronal e tudo (23 de novembro de 2023). E que escrita, como argumentei na altura no Le Monde diplomatique – edição portuguesa:
Ficámos então a saber que é tudo uma questão de “atitude”, “com resiliência e espírito positivo”. Infelizmente, segundo Amorim, os “empreendedores” vivem no medo de existir: “No temor do Estado, das suas possíveis represálias e da sua permanente oscilação”, “sepultados numa teia de burocracia, regulamentações excessivas, impostos extraordinários e provisórios que persistem em permanecer”.
Nem um só exemplo concreto é dado ao longo do texto para justificar tal distopia intervencionista, até porque esta é inexistente. Afinal de contas, Paula Amorim sabe muito bem o poder que tem num país onde nem sequer existe imposto sucessório, quanto mais regulamentações que a impeçam de transferir custos sociais para terceiros, por exemplo encerrando refinarias ou apropriando-se de rendas fundiárias na Comporta, pagando os impostos que bem entende, beneficiando da total liberdade de circulação de capitais, graças ao mercado único, à moeda única e, logo, à política tendencialmente única.
Num contexto onde o justificado temor está concentrado na base da pirâmide social, a empresária ainda se julga no direito de nos dar lições: “Acrescentei valor ao meu património e ao meu Portugal”. E isto quando são os trabalhadores que criam tudo o que tem valor, como no fundo saberá.
Entretanto, a 23 de julho de 2025, todos temos a obrigação de saber que o dinheiro procura comprar tudo, ocultar a verdade, algo que o jovem Marx tinha já explicado em 1844 nuns manuscritos económico-filosóficos. A obsessão de Paula Amorim é alardear, comprar, aquilo que não tem: mérito.
Para isso, tudo é impecavelmente coreografado. Afinal de contas, o seu marido-sócio já tinha metido a pata na poça uma vez, quando verbalizou parte da violenta verdade de classe ao Expresso: “não podemos ter pessoas de classe média ou média baixa a morar em prédios classificados”.
O exibicionismo de Amorim é só um dos mais poderosos sinais de que a classe dominante, rentista até à medula, não tem medo, nem pudor. Pode ser que se engane. Já se enganou no fascismo, afinal de contas. Uma palavra: nacionalização; outra, vá: socialismo. A história não acabou.
o imposto sucessório quando existia só tributava os pobres, logo era um imposto inútil
ResponderEliminarQueria o quê? Uma industrial? Já agora, sector de alta tecnologia? Isto é Portugal. O turismo é a nossa IA.
ResponderEliminarAinda agora a procissão vai no adro. À medida que a Europa for empobrecendo maior vai ser a miséria.