No meio das habituais parangonas dos rankings, a sentenciar de forma fraudulenta que o ensino privado tem um desempenho superior ao das escolas públicas (sem exigir dados sobre o perfil socioeconómico dos seus alunos, que permitam dar suporte a essa comparação), surgem análises substantivas, com qualidade, que vão para lá da ordenação simplista dos resultados das escolas. É o caso de um artigo assinado por Diogo Camilo (Rádio Renascença), dedicado à inflação de notas e que vale mesmo a pena ler na íntegra.
Comparando as médias internas (classificações no final do ano) com os resultados nos exames, o jornalista constata que a redução é mais expressiva no ensino privado (-4,8 valores) do que no ensino público (-3,6 valores). Quando os alunos dos dois subsistemas são sujeitos à mesma prova (exame nacional), a vantagem de partida do privado, em termos de resultados, diminui substancialmente, passando de 2,2 para 1,0 valores. O que, considerando o facto de os privados captarem em regra melhores alunos (desde logo os que podem pagar), esvazia a tese da sua vantagem comparativa.
Não surpreende por isso que «as dez escolas com maiores diferenças entre notas de exames e média interna» sejam privadas, tendo a diferença de valores, no universo dos colégios, aumentado face ao ano passado (de -4,2 para os referidos -4,8). Ao que acresce o facto de a inflação de notas ser «superior a 5 valores em quase todas as disciplinas», ao contrário do que sucede no ensino público, onde «nenhuma disciplina chegou aos 4 valores de discrepância».
Significa isto que há uma vantagem induzida do ensino privado, com reflexos no acesso ao ensino superior, por exemplo, que não decorre, por isso - e ao contrário do que é propalado -, de um alegado melhor desempenho das escolas deste subsistema. Uma vantagem artificial, portanto, que de resto é confirmada a posteriori por estudos que demonstram que «os alunos das privadas têm piores notas no ensino superior».
Num comentário aos recentes resultados, o agora secretário de Estado Alexandre Homem-Cristo referiu que os rankings são uma «mais-valia», uma «ferramenta útil» para perceber o que pode ser melhorado, em sintonia com a opinião, igualmente favorável, do seu ministro. Pois bem, tem aqui matéria objetiva para pensar e agir, nas suas novas responsabilidades de governante. Até porque não se trata de uma simples questão de «melhorias», mas antes de uma gravíssima situação de inaceitável iniquidade. E não venham depois dizer que o elevador social não funciona.
E ha que distinguir no ensino publico os alunos internos dos e externos. Tb gostaria que se fizesse uma análise mais fina com as modas e medianas, para cada um dos universos. Mas como professora acho que os rankings sao perversos
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