sábado, 30 de março de 2024

O poder brilha


O investimento de milhões do dono da polaca eurocash, Luís Amaral, no observador e no menos liberdade está a começar a pagar: os liberais até dizer chega estão neste Governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos. Não há mesmo almoços grátis na luta político-ideológica. 

O menos liberdade tem por referência apoiantes de Mussolini e de Pinochet, como Mises, Hayek ou Friedman. Isso é suficiente para Luís Aguiar-Conraria, com o rigor que se lhe conhece, apodar Fernando Alexandre, membro da sua direção, de social-democrata. Ignorância ou desonestidade intelectual? 

Sendo estudioso de Mises, Hayek e Friedman, considero a qualidade intelectual relativamente independente do posicionamento político-ideológico, mas daí a chamar Fernando Alexandre de “académico brilhante”, como faz o Diretor do Público, vai uma grande distância, até porque tem tido muitos afazeres fora da academia, das polícias aos aeroportos. Dou dois exemplos da distância. 

Em primeiro lugar, mobilizo o estudo de que Alexandre e Conraria foram coautores para a Associação Portuguesa de Seguradores e onde advogam a privatização da segurança social, o que é muito social-democrata, como se sabe. Esqueceram-se aí de dois pormenores da melhor teoria económica prática: é o investimento que determina a poupança e não o contrário, estando o primeiro dependente das expectativas de vendas; o sistema de pensões por capitalização, como o de repartição, distribui em cada momento entre quem está no ativo e quem não está. Não há almoços grátis, mas nos almoços servidos por capitalização só restam ossos para os reformados, já que a carne foi comida pela finança. Da Argentina à Polónia, esta experiência neoliberal tem sido revertida, mas isso não impede Alexandre e companhia de tentarem. Os cortes nas pensões são um meio.

Em segundo lugar, lembro que Alexandre esteve no Tudo é Economia, onde debatia semanalmente com Ricardo Paes Mamede. A sua prestação era de tal forma penosa que teve de encontrar um pretexto para sair do programa, sendo substituído pelo mais capaz Ricardo Arroja. A maioria dos neoliberais não se aguenta num debate em igualdade de circunstâncias. Daí terem necessidade de monopolizar a comunicação social, no que contam com a colaboração dos proprietários. 

Enfim, Alexandre, pela sua ligação aos interesses capitalistas, tem poder anti-social-democrata. Poder não é brilhantismo, embora brilhe.

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