Esta crise é causada pela inflação que retira poder de compra, portanto, rendimento real. É verdade que grande parte desta crise é exógena e está relacionada ainda com as disrupções causadas pela COVID-19 e mais recentemente pela Guerra na Ucrânia que são as causas últimas da inflação. Mas esta inflação não está a afetar a sociedade e a economia de forma proporcional. Pelo contrário, o que está a ocorrer é uma gigante transferência de rendimentos do trabalho para o capital que o Paulo Coimbra e o João Rodrigues calcularam aqui. Uma transferência que, como eles bem notam, é a maior do milénio e, portanto, maior até do que a operada aquando da intervenção da troika. Portanto, nem todos estão a empobrecer.
Como já expliquei aqui, as transferências de rendimentos e riqueza numa situação de inflação nunca são neutras, mas sim resultado inequívoco da relação de forças na luta de classes. Aliás, basta pensar que os salários são, eles próprios, um preço. Que este preço quase estagne quando os demais crescem mostra o resultado de escolhas políticas. Estas políticas promovem propositadamente o empobrecimento como forma de controlar o suposto desenrolar de uma espiral inflacionista e são apenas a contraparte orçamental da política monetária que já critiquei aqui. Estamos perante políticas deliberadas de empobrecimento com justificações débeis e efeitos nefastos.
A solução para isto está, portanto, na resposta dos trabalhadores como está tão bem expresso nesta imagem partilhada já pelo Vicente Ferreira e que deixa poucas dúvidas sobre a tendência das últimas décadas para desvalorização dos salários e da sua relação com a capacidade de luta laboral:
Perante tudo isto, resta-me aderir e mobilizar para a greve desta sexta-feira da Administração Pública. Mas não só, a luta tem de ser geral e de todos os trabalhadores. Só assim poderemos contrariar a espiral de empobrecimento que nos querem impor.
Mais uma greve à sexta-feira...
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