Os avisos que o PS não quer ouvir sobre as “criptocoisas”

Na semana passada deu-se o colapso de uma das maiores plataformas cripto, a FTX, e da sua "moeda" associada, a FTT. Uma sucessão de eventos rápidos, alimentados por comunicados no Twitter, espalharam o pânico e com a sua queda deu-se a desvalorização de todo o setor, altamente interconectado e exposto. Agora o universo cripto parece estar finalmente descredibilizado e está a tentar ao máximo fingir uma reinvenção. Na sua essência nada mudará. 

Esta segunda-feira, o CEO da Binance, a atual maior corretora e com quem a FTX competia diretamente, anunciou a intenção de criar um fundo de recuperação para todo o setor. A ideia é garantir que não ocorrem novas crises de liquidez, fornecendo reservas. Mas a verdadeira estabilidade continua a cargo do Banco Central. Caso haja uma corrida aos dólares, será este que garante ou não as reservas da moeda socialmente aceite. Esta ideia é pois mais uma fraude.

Para além disso, o que isto mostra, mais uma vez, é a incapacidade de estabilidade sem uma autoridade central. Desmente-se a premissa de uma moeda descentralizada. Como já aqui se disse “A moeda é produto do monopólio da violência legítima e da confiança social que só um Estado capaz garante”.

Ao mesmo tempo que isto acontece, o governo português avança com um sistema fiscal com o intuito de atrair criptoespeculadores, concedendo-lhes cada vez mais benefícios e isenções. 

Pior ainda: baixa a fasquia também para o tratamento fiscal dos ganhos de capital dos instrumentos financeiros tradicionais. As ações e obrigações, que antes estavam sujeitas a uma taxa única de 28%, passarão a pagar 22% quando detidas entre cinco e oito anos e a 11% quando detidas mais de oito anos. 

Este é um precedente perigoso porque utiliza as “criptocoisas”, altamente permeáveis aos interesses privados de um nicho de investidores, como bitola para todo o sistema financeiro. 

Os avisos sobre a instabilidade e fraude já foram muitos e a última grande queda antes desta deu-se em junho, não há muito tempo. Seria bom que o governo não se deixasse enganar pelo canto da sereia.