sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Vai haver ou não corte nas pensões?

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Ou seja, a ministra Ana Mendes Godinho acha que a actual fórmula de actualização das pensões (ou, quem sabe? um dia da própria fórmula de cálculo do valor das pensões...) põe em causa a sustentabilidade da Segurança Social. Mas, apesar de tudo isso e de a ministra não saber "como, para onde" irá redundar a mudança da fórmula, sabe que não haverá "cortes, nem agora nem no futuro".

Mas nesse caso, para que se mudará a fórmula?

Fernando Medina já dissera algo semelhante, ao afirmar que a fórmula não fora desenhada para conjunturas de inflação elevada: "Nós vivemos durante muitos anos num contexto de inflação baixa e também de crescimento baixo e a fórmula estava desenhada para esses momentos". Ou seja, por outras palavras, quando a inflação é mais elevada, os pensionistas deverão esperar um corte no poder de compra da sua pensão, porque é impossível às contas da Segurança Social cobrir a evolução da inflação.

As duas declarações parecem contraditórias. Mas tudo depende do conceito de "corte de pensão". 

Se um corte for um corte no valor nominal das pensões, os dois políticos estão certos; se o conceito for uma redução face àquilo que estava previsto na lei, os dois políticos estão a omitir a verdade porque haverá um corte no poder de compra das pensões, mesmo que se mantenha o valor nominal da pensão. Aliás, no debate parlamentar de anteontem, a ministra dos Assuntos Parlamentares Ana Catartina Mendes apoiou toda a sua intervenção no que a direita fizera quando esteve no poder: o cortar no valor das pensões. Mas nada disse sobre o corte do poder de compra das pensões no futuro, a desenhar pelo Governo que apoia.

Já os pensionistas agradecem que não se lhes corte a pensão. Mas se a mesma pensão apenas servir para comprar meio melão, quando antes comprava um melão inteiro, de que vale a diferença conceptual? Apenas se estará a discutir a dimensão do corte! E a dimensão do corte das pensões no futuro.

O Governo "não sabe bem como ou para onde", mas sabe que os pensionistas vão ficar a perder, de alguma forma, mas não o quer assumir claramente. A direita por seu lado, cavalga a contradição do Governo, mas baralha tudo: não garante - se fosse Governo - nem o poder de compra nem o valor da pensão, nem está disposta - como o actual Governo - a penalizar quem, nesta conjuntura de inflação elevada, não só não é penalizado, como ganha com a inflação.

De qualquer forma, fica a frase para a memória futura. E já agora que todos prometam aquilo que o ex-deputado José Magalhães uma vez prometera no programa da TSF Flash-Back: "pintar a cara de preto" caso uma sua previsão não se concretizasse. 

Para mim, pode ser de qualquer cor, até para evitar múltiplas leituras; agora tem é de se ver...

4 comentários:

  1. "de que vale a diferença conceptual?" (cortar no valor das pensões vs corte do poder de compra das pensões)

    Esta e outras "diferenças conceptuais" (semânticas?), tais como cativações vs cortes na despesa pública, compensaram o PS com a chegada ao Governo e uma maioria absoluta.
    No fundo o que o PS vem dizer é que não havendo alternativa à substância restam as diferenças conceptuais/semânticas. O resultado era o mesmo mas ao menos no Governo PSD/CDS as coisas eram mais claras. Mas há muito quem prefira ser enganado.

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  2. Caro anónimo,
    Olhe que quem cortou mesmo no valor das pensões - a direita - também enganou os pensionistas, e de forma mais gravosa, dizendo que não haveria cortes. Foi bem mais enganador. E convém sempre sublinhar que há uma efectiva diferença entre as duas realidades.

    Porque uma pressupõe a concordância teórica com a vantagem económico dessa austeridade e tem pressuposto a mensagem aos jovens "Nâo descontem porque não vão ter pensão"; enquanto na segunda se está a alinhar em pequenos passos com essa teoria, embora com efeitos bem menos gravosos, pressupondoo a defesa de uma previdência pública e da manutenção de um sistema de repartição, intergeracional. Só que não se tem a coragem de reconhecer que se está a gerir uma teoria falhada como a neoliberal.

    Ná nuances e às vezes as nuances são importantes. Até para convencer do erróneo em que se está a cair. E como se ajuda a direita ao cair nestas meias tintas

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  3. Caro Joao Ramos de Almeida:
    Tomo a liberdade de explicitar o que esta implicito na sua resposta ao Anonimo de 09-09-2022 @ 11h06

    "O amigo 'nonio, e um sonso!"

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  4. Pior que tudo é ver Marcelo assistir tolhido, ou ainda mais grave apadrinhar os desmandos de Costa e seus escudos protetores, que quando inúteis e esgotados na função são lançados pelo artista no óleo escaldante da sua frigideira.

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