A presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheceu ontem que subir as taxas de juro não resolve o problema da inflação atual: "Se a causa é predominantemente da oferta e dos preços da energia, isso é um trabalho para outros". Dito isto, o banco central decidiu... subir as taxas de juro.
Ao subir as taxas de juro, o BCE está a aumentar os custos do crédito com o objetivo de reduzir o consumo e o investimento. Esta compressão da procura terá um impacto negativo na atividade económica e no emprego: na prática, a política do banco central induz uma recessão com enormes custos sociais associados ao desemprego e à quebra dos salários, como se tem escrito neste blog (aqui ou aqui). O próprio BCE prevê um "abrandamento substancial" da economia da Zona Euro até ao final do ano.
Só que a inflação atual resulta de problemas do lado da oferta - mais precisamente, da disrupção das cadeias de produção e distribuição internacionais de algumas matérias-primas, como os combustíveis fósseis ou os bens alimentares, após o início da guerra. Comprimir a procura pode estancar a subida dos preços, mas fá-lo à boleia de um aumento do desemprego, da pobreza e das desigualdades. Uma resposta progressista à crise energética faz-se com regulação de preços, compressão de margens e lucros extraordinários e investimentos públicos na produção doméstica de energias renováveis e na eficiência energética, reduzindo as necessidades de consumo.
Cada vez mais bancos centrais estão a aumentar as taxas face à inflação, como se vê no gráfico acima. Numa altura em que os preços da energia já estão a afetar as economias, a inversão da política monetária aumenta os riscos de uma recessão que vai atingir sobretudo os mais vulneráveis - aqueles que supostamente se quer proteger.
Às tributações extraordinárias seguir-se-ão umas ajudinhas..a socialização aos solavancos.
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