quarta-feira, 16 de março de 2022

Ficções pouco amigas


Vital Moreira defende, em linha com a OCDE, um imposto temporário sobre os inesperados ganhos, caídos do céu, das petrolíferas, garantindo que é uma solução conforme com o mercado (“market-friendly” no seu jargão anglo-saxónico neoliberal ou “marktkonform” na versão alemã do neoliberalismo que, em geral, prefere).    

Sabemos que o mercado é uma ficção conveniente nesta e noutras áreas, naturalmente centralizadas, dominadas por mastodontes empresariais, mais valendo que o seu controlo pelo menos parcial seja público: por exemplo, a Galp nunca devia ter sido privatizada e os preços liberalizados.

Sabemos que famílias como a Amorim, símbolo do rentismo das Galp desta vida e do porno-riquismo, tudo farão para evitar perder este poder e os ganhos associados. 

Sabemos que um governo de maioria absoluta do PS é muito vulnerável ao poder deste capital grande, que vive em cima das possibilidades da maioria: o Estado fiscal é de classe, afinal de contas. 

Sabemos que qualquer medida fiscal nesta área tem de ser complementada por controlos de margens e de preços e que tal mudança requer, por questões de informação e de melhor controlo, alterações nas tais relações de propriedade, sempre cruciais para se ser consequente. 

Sim, taxar para redistribuir não chega por si só. As amizades ao mercado não nos levam longe. E à UE, que torna o Estado menos ágil e logo mais preso aos interesses, ainda menos. 

Talvez o protesto agilize as coisas...

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