quarta-feira, 16 de março de 2022
A memória é um país distante (IX)
«Moscovo cometeu um ato de agressão ilegítimo. Mas não é o único. Ilegítima e de agressão foi, para citar apenas a mais gritante e de que ainda sofremos os efeitos, a invasão do Iraque pelos EUA e Reino Unido em 2003. A diferença está em que, em 2003, não se assistiu a este orquestrado clamor “universal”, a esta avalanche de sansões económicas que todos vamos, ou antes, já estamos a suportar. Não recordo, em 2003, apesar de, como hoje, a invasão ter sido condenada pela grande maioria da opinião pública e pela própria ONU e ter arrastado consequências humanitárias, económicas e polemológicas dramáticas, a nível regional e global que ainda hoje persistem, não recordo, repito, que se tenha recorrido a qualquer medida retaliatória contra o agressor. Afinal também os agressores, como as armas nucleares, não são todos iguais, há os bons, os nossos e os maus, os outros.
(...) Ao contrário, na comunicação social ninguém se indigna com a obscena presença, como comentador da guerra da Ucrânia num dos canais generalistas de televisão, evidentemente alinhado no coro dos his master’s voices, da personagem que, como ministro da defesa do Governo Português, apoiou conscientemente a fraude das armas de destruição maciça que justificou a invasão do Iraque em 2003, na qual ele e o primeiro ministro envolveram Portugal! É um testemunho desacreditado e não fiável, mas com direito a cátedra. O homem não tem vergonha nem lhe pesa nada na consciência. Esta presença é um insulto!»
Pedro Pezarat Correia, Ucrânia, uma guerra preventiva (a ler na íntegra, no blogue A Viagem dos Argonautas)
Não me recordo de ouvir Saddam Hussein dizer, alto e bom som e perante a impávida mudez dos líderes do Ocidente como o fez o palhaço Volodymyr Zelensky, que iria adquirir armas nucleares. No entanto, e enquanto o diabo Bush Filho esfregou um olho, o seu país foi bombardeado, invadido e um milhão dos seus habitantes foram chacinados sob o pretexto falso de possuir armas de destruição massiva.
ResponderEliminarUm paraíso de neonazis russófobos com armas nucleares ao lado da Federação Russa deve, certa e obrigatoriamente, acalmar e hipertrofiar a veia pacifista do Senhor Putin; já a inexistência de armas de destruição massiva num país quase nos antípodas dos EUA é certo e sabido que, inevitável e inexoravelmente, desencadeia a justa ira e a redentora sanha sanguinária do cowboy de turno na Casa Branca...
Quanto ao comentadeiro encartado Senhor Portas: que nome havemos de dar a quem designou de "assassinato" o despacho para o outro mundo (numa bem montada operação militar que só pecou por tardia) de um psicopata como Jonas Savimbi e, por outro lado, considera o extermínio de um milhão de iraquianos um decisivo passo na instauração de uma belíssima democracia?
E refira-se ainda que faziam parte desse mesmo governo os seguintes políticos nacionais, um dos quais continua a fazer comentário político dominical num outro canal televisivo generalista, muitos deles comtinuam no activo político, como é o caso do actual vice-presidente da commissão política do PSD:
ResponderEliminarLuís Marques Mendes (Assuntos Parlamentares)
Nuno Morais Sarmento (ministro da Presidência)
José Luís Arnault (adjunto do PM)
Teresa Gouveia (Negócios Estrangeiros)
Manuela Ferreira Leite (Finanças)
Figueredo Lopes (Administração Interna)
Celeste Cardona (Justiça)
António Bagão Félix (Segurança Social e Trabalho)
Carlos Tavares (Economia)
Sevinate Pinto (Agricultura e Pescas)
David Justino (Educação)
Graça Carvalho (Ciência e Ensino Superior)
Pedro Roseta (Cultura),
Carmona Rodrigues (Obras Públicas)
Arlindo Cunha (Cidades e Ordenamento do Território).
José Matos Correia, Advogado, ex-vice-presidente do PSD
ResponderEliminar"É nossa obrigação moral destruir, no domínio do debate das ideias, as vozes que no espaço público dizem inverdades que propagam e as leituras enviesadas a que recorrem"
https://expresso.pt/opiniao/2022-03-16-Ucrania-Russia-democracia-e-autocracia-8c9cdd98
Liberalismo, cada vez mais totalitário, tudo a bem da nação, dos "valores ocidentais", da "democracia", claro...
Já não deve faltar muito para começarem a ilegalizar partidos políticos que não gostam da NATO e UE, tal como fizeram na "democrática" Ucrânia.
Estes liberais europeístas, pró Nato, pró oligarquias ocidentais devem sentir que perderam o controlo da narrativa para expressarem-se desta forma, é que já nem disfarçam!
Todos eles foram coniventes com a invasão do Iraque,a solidariedade deles com o povo ucraniano
ResponderEliminaré pura hipocrisia.
O Pezarat está velho, como eu, e talvez por isso não se tenha lembrado de um outro traste governamental conivente com a invasão e a destruição do Iraque (e com a sua ocupação colonial, com governador e tudo) e que também anda por aí (nos jornais e nas TVs) a vomitar atoardas. Para além dos nomeados (o traste mor, o oportunista Durão Barroso, e o inefável homem de negócios Paulo Portas), refiro-me ao então Ministro dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz, que de há uns dias para cá faz de comentador nas centrais de desinformação e de manipulação.
ResponderEliminarJMC.
Como os websites de notícias rt.com e sputniknews.com foram censurados por cá, para não sermos vítimas da "desinformação russa", recorri hoje ao website tass.com, ainda disponível, para dar uma vista de olhos à dita desinformação. Quanto às dezenas de "biolabs" sobre os quais a representaçaâo da Rússia (e depois também as da China, da Índia e do Brasil) nas Nações Unidas exigiram explicações dos EUA, pude ler o seguinte: https://tass.com/world/1422769
ResponderEliminarFiz uma rápida pesquisa sobre o que os EUA assumem acerca dos tais "biolabs":
- Aqui vai a informação recentemente disponibilizada online pela própria embaixada dos EUA na Ucrânia sobre o "Biological Threat Reduction Program", estranhamente financiado pelo "US Department of Defense" (Pentágono):
https://ua.usembassy.gov/embassy/kyiv/sections-offices/defense-threat-reduction-office/biological-threat-reduction-program/?_ga=2.60785645.1906057104.1646945032-668887648.1646945032
- Foi no Verão de 2005, meses depois de Viktor Yushchenko assumir o cargo de presidente da Ucrânia, que o Pentágono começou a tratar de assuntos de "saúde" naquele país, de acordo com o "2005 Agreement between the US Department of Defense and Ukrainian Ministry of Health
Concerning Cooperation in the Area of Prevention of Proliferation of Technology, Pathogens, and Expertise":
https://2001-2009.state.gov/documents/organization/95251.pdf
Como se pode ver, quem assinou em nome do "US Department of Defense" (Pentágono), dois anos depois da invasão do Iraque, foi o próprio Donald H. Rumsfeld...
A, Correia
Como "A memória é um país distante", vale a pena recordar o seguinte, em complemento do que escrevi no meu comentário de ontem:
ResponderEliminar1. A propósito de Viktor Yushchenko:
'No dia 28 de janeiro de 2010 o Centro Wiesenthal, uma organização internacional de direitos humanos, com sede em Los Angeles, que adotou o nome do "caça-nazis", falecido em 2005, emitiu um comunicado a condenar a decisão do então presidente ucraniano, Viktor Yushchenko, por conceder postumamente o titulo de "Herói da Ucrânia", uma das maiores honras do país, a Stepan Bandera. O Centro Wiesenthal, que é reconhecido pela ONU, pela UNESCO, pela OSCE, pela OEA e pelo Conselho da Europa - nada tem a ver com Putin - descreve Stepan Bandera com estas palavras: "um lider nacionalista ucraniano cujos seguidores mataram milhares de judeus e outros durante a II Guerra Mundial" e acusa o presidente ucraniano de "abraçar o legado de Bandera"':
https://www.dn.pt/opiniao/o-ucraniano-simon-wiesenthal-deve-ser-esquecido-14684134.html
2. A propósito de Donald H. Rumsfeld:
No dia 20 de Dezembro de 1983 - durante a guerra do Iraque contra o Irão (1980-1988), com o Iraque a recorrer a "armas de destruição maciça" -, encontrou-se com Saddam Hussein, e certamente não foi para jogar às cartas:
https://nsarchive2.gwu.edu/NSAEBB/NSAEBB82/
Enfim, Rumsfeld viria a ser um dos principais instigadores e organizadores da invasão e ocupação do Iraque, iniciadas duas décadas depois do famoso aperto de mão, sob a acusação falsa de que nessa altura o Iraque possuía "armas de destruição maciça" (além de "ligações com a Al-Qaeda")...
Saddam morreu enforcado em Dezembro de 2006 - mês em que Rumsfeld, depois da missão cumprida, cessou funções como chefe do Pentágono. Rumsfeld viria a morrer há menos de um ano, de causas naturais.
A. Correia