sexta-feira, 14 de janeiro de 2022
Costa não confia na esquerda, mas exibe os seus efeitos na governação
Se existe matéria a que o Partido Socialista se mostra avesso, de forma consistente, nos últimos 35 anos da sua história, é no avanço do caráter não mercantil dos serviços públicos. Na verdade, sempre que governou sozinho, deu passos políticos de sentido contrário: as privatizações, as parcerias público-privadas (PPP), o aumento contínuo do valor das propinas.
Mas quando chega a campanha, o Partido Socialista tem consciência de que parte do seu eleitorado só é mobilizável se disser qualquer coisinha de esquerda.
Foi essa cartada que jogou ontem à noite. Perante Rui Rio, António Costa agitou o alargamento do caráter não mercantil dos serviços públicos de transporte (com o passe social intermodal a preço reduzido) e de educação (com a redução das propinas) durante o seu Governo. Mas esqueceu-se, convenientemente, de referir um detalhe fundamental: nenhuma das medidas constava do programa do PS em 2015.
Uma visita a um passado pouco distante recorda-nos aquilo que a maioria do Partido Socialista realmente pensa a este respeito. No âmbito dos transportes, o Governo de José Sócrates era a favor da convergência do preço para o custo marginal de utilização individual. No âmbito da educação, o PS nunca antes se tinha oposto ao aumento das propinas, quanto mais reduzi-las.
As medidas que Costa alardeou só as devemos à maioria de esquerda e à inclusão de Bloco de Esquerda, PCP e PEV na esfera de apoio parlamentar do governo entre 2015 e 2019.
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