Dando nota da propensão da comunicação social (e não só), para um certo alarmismo impulsivo no acompanhamento da crise pandémica, pergunta aqui, e muito bem, o João Rodrigues, se fará sentido «enquadrar a nova vaga pelo prisma das anteriores», numa fase em que «a população adulta está vacinada», e se esse tratamento mediático não poderá ter «efeitos perversos, levando a uma descrença em relação à principal medida de saúde pública» (que é, comprovadamente, a vacinação).
Bem sabemos que nada sabemos, como diz o João. Mas, de facto, a primazia mediática concedida à evolução do número de casos, secundarizando a evolução dos indicadores relacionados com as manifestações mais graves da doença, tende a obscurecer a mudança de padrão que o processo de vacinação permitiu, com uma redução muito significativa do número de óbitos na vaga atual, apesar do aumento de casos, como mostra o gráfico seguinte.
Com efeito, desde os primeiros registos de pessoas vacinadas com as duas doses (meados de janeiro de 2021) e até ao momento atual, em que cerca de 88% da população tem já a vacinação completa (valor que coloca o nosso país em lugar cimeiro em termos de taxa de vacinação), os períodos de aumento do número de casos de contágio não têm a repercussão que antes tinham em termos de aumento do número de óbitos e de internamentos.
Aliás, se compararmos (gráfico aqui em cima), a proporção de situações (casos, internamentos e óbitos) registada a 1 de dezembro de 2020 face à mesma data, em 2021, as diferenças são claras. Enquanto que o número de casos registado nesse dia em 2021 representa quase 70% do número de casos registado no mesmo dia em 2020, já a proporção de internamentos (geral e UCI) e de óbitos é significativamente inferior (25% no caso dos internamentos em geral, 21% nos internamentos em UCI e 17% no caso do número de óbitos). O que significa que, não devendo nunca perder-se o sentido do equilíbrio e do ajustamento das medidas a cada momento (até porque, apesar de tudo, vem aí o Natal), a situação atual não é comparável com a situação de há um ano atrás. Graças, essencialmente, à vacinação.
O discurso público sobre a vacina está a ficar fora de controlo.
ResponderEliminarPrimeiro tivémos os negacionistas para quem nenhuma prova servia para provar a utilidade da vacina e os pró-vacina que diziam que com 60 a 70% de vacinados atingíamos a imunidade de grupo.
Foi engraçado ver os negacionistas a tentarem provar que a vacina era completamente inútil. Agora temos a fase em que os pró-vacinas têm de provar, mostrem os números o que mostrarem que a vacina é muito eficaz.
Parece ser eficaz na redução da gravidade da doença, mas está a criar uma armadilha. Como não impede os contágios, sem medidas de contenção o número de infetados vais subir em flecha sempre que se pararem as medidas de contenção e, se se atingirem números de contágios suficientemente grandes, com uma pequena percentagem dos contagiados doentes teremos muitos doentes.
Fazer comparações de um ano para o outro não tem grande utilidade visto que a periodicidade dos picos de contágio não é anual e não tem de ser. Talvez não se lembre mas por esta altura no ano passado tivemos uma vaga de frio que este ano ainda não chegou. Se pensarmos nas doenças sazonais que já conhecemos, como a gripe, percebemos que a comparação de um ano para o outro não faz sentido. Há anos bons para a gripe e anos maus e não parece haver qualquer padrão lógico.
Caro Anónimo,
ResponderEliminarNão é por acaso que, para além da comparação do mesmo dia em 2020 e 2021, se inclui neste post um gráfico que mostra a evolução dos indicadores desde o início da pandemia. E a mudança de padrão é clara, sendo difícil justificá-la - parece-me - sem falar do processo de vacinação. Quanto ao futuro, sim, muita coisa pode acontecer. É da vida.
O padrão mudou com a vacina, é um facto. O que não é minimamente certo é que a vacina venha resolver algo no longo prazo como os seus defensores dizem.
EliminarHouve uma ilusão quanto à verdadeira eficácia da vacina para erradicar a doença, ilusão essa que, sendo doce, custa a deixar.
O que quero fazer notar é que andar a viver de ilusões é sempre mau, sejam elas quais forem
Não há ilusão nenhuma. Há dados claros.
EliminarAqui quem vive de ilusões é precisamente quem contraria os dados. Basta comparar o número de mortes. No dia 8 de Dezembro do ano passado tivemos 81 mortes. Ontem, dia 8 de Dezembro tivemos 15. A diferença tem sido significativa.
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