O texto acima foi escrito por Michal Kalecki em 1943. Hoje em dia existe mesmo todo um campo científico – a Agnotologia - que estuda a produção deliberada de ignorância. O que, no que a finanças públicas diz respeito, bem se justifica. Compreender o sucesso do investimento neoliberal na produção e disseminação de um gigantesco aparato de propaganda que submete um Estado monetariamente soberano aos mercados que dele inteiramente dependem é vital para libertar a democracia dos interesses ocultos que a colocam ao serviço dos poucos contra o interesse dos muitos.
É neste quadro, para combater o mantra do ‘não há dinheiro’ para financiar a despesa pública, que é necessário repetir - repetir sempre - o contra-mantra: Um Estado monetariamente soberano não endividado em moeda estrangeira não enfrenta constrangimentos financeiros e pode sempre adquirir o que estiver à venda na moeda que emite. Pela simples e prosaica razão que, controlando o banco emissor, emite o que decidir emitir, no que nunca depende dos mercados para o fazer.
Corolário que os banqueiros deste mundo preferem que ignoremos: para um Estado monetariamente soberano, pagar juros pelo dinheiro que ele próprio cria é uma opção e não uma necessidade.
E como é criado este dinheiro? “É muito simples”, como explica Peter Praet, membro da Direção Executiva do BCE.
[clique na imagem para aceder ao vídeo; abaixo, a minha tradução]
Praets: A forma como se cria dinheiro é muito simples. Nós criamos dinheiro eletronicamente, se é que posso dizer. Uhm, nós creditamos contas de - bem, isso, as pessoas não vão compreender outra vez. Eu... é uma metáfora, sabem, por isso, quero dizer - isto não está a gravar, certo? - podia dizer que imprimo notas, mas é uma metáfora, sabem. Não é a forma como o fazemos porque passa através do sistema bancário. Por isso, sim...
Colega: Mas não se poderia dizer...
Praets: Como dirias isso? Porque...
Colega: Que emprestamos dinheiro...
Praets: Não, mas emprestar, emprestar, não, não, não é, bem, não, nós criamos dinheiro, não é emprestar dinheiro, nós criamos dinheiro!
Colega: Dá-me um segundo - nós emprestamos a bancos comerciais e...
Praets: Não, não é verdade...
Colega: E o momento deste empréstimo cria o dinheiro porque...
Praets: Não, não, eu sei, não, não, eu percebo o que queres dizer, mas nem sequer é verdade o que dizes. Quando tu... deixa-me dar o... nós não estamos a... essa é a maneira clássica. Ninguém vai entender o que dizes. Mas, normalmente, é... eu apenas... pensa sobre a situação: Eu imprimo notas bancárias, apenas me sento no meu escritório e imprimo notas e, com estas notas bancárias, compro-te algo. Dou-te estas notas bancárias e tu dás-me uma obrigação que já tenhas comprado antes. Tu tens uma schatzbrief [obrigação do tesouro], sabes, tens uma obrigação do tesouro, sabes, no teu investimento e depois envias-ma e eu dou-te dinheiro que eu produzi. Mas nós fazemos isso eletronicamente.
Simples, não é? Uma e outra vez confirmado: "Não é dinheiro dos impostos. Nós [a Reserva Federal dos EUA], simplesmente usamos o computador".
E, se um país abdicar desta possibilidade de criar o dinheiro que usa, quais são as consequências?
Como o economista britânico Wynne Godley escreveu, “o poder de emitir [o próprio] dinheiro, de fazer saques no [próprio] banco central, é a principal característica que define a independência nacional. Se um país desistir ou perder este poder, adquire o estatuto de uma autoridade local ou colónia.”
Tão simples que a mente bloqueia.
É preciso ser muito ingénuo para acreditar que Jean-Claude Trichet não sabia o que estava a fazer quando não financiou os Estados... deixou os Estados à mercê dos "mercados", da máfia Goldman Sachs, agências de rating e outros colossais parasitas, criou uma crise artificial porque queria e podia.
ResponderEliminarOs tribunais não deviam existir apenas para condenar quem não faz parte da "elite"...
Que o dia em que a população em geral entenda o muito mal que os "líderes" lhe impuseram esteja próximo!
E quando é que os dirigentes do Bloco de Esquerda definem a posição do partido em relação à integração europeísta?
É só para depois das eleições?
Se sim, é para não assustar uma parte do eleitorado do BE que se julga cosmopolita e que se imagina no centro, os dirigentes do BE devem saber que se assustam esta parte do seu eleitorado este muda as suas intenções de voto para o Partido "Socialista" rapidamente...
Tanto o BE como PCP deviam insistir sobre este crucial assunto da soberania monetária dia após dia há anos!
Passaram uma rasteira na maioria da população portuguesa, esta foi aldrabada e não esperem que seja o Partido "Socialista" que vai agora contar a verdade sobre a UE e Euro, sabem perfeitamente que não vai acontecer!
Espero bem que o BE e PCP insistam na questão da soberania monetária até às eleições.
Falta neste texto falar dos efeitos desta emissão de moeda. Como o bce tem emitido moeda numa forma de easing a bancos para depois introduzir gradualmente essa moeda na economia não temos visto tanta inflação nos bens comuns. Mas esta emissão o que leva é ao empobrecimento da maioria da população e uma transferência de riqueza para quem tem bens como casas, ações etc. basta olhar para o cavalgar dos preços das casas em Portugal nos últimos 5 anos. O a impressão e debasement monetário são úteis mas perigosos e na maioria das vezes levam ao empobrecimento da maioria e enriquecimento dos mais ricos. Basta olhar para a Venezuelana…
ResponderEliminarOra aí está uma forma sofisticada mas clara de explicar porque Portugal é apenas um dos bairro da UE. E um dos mais pobres (e falido) de essa "União Europeia". Enfim, o novel Reich em que M. Soares meteu os incautos portuguêses, com as suas, dele, melhores intenções, óbviamente.
ResponderEliminarEntretanto constata-se que a coisa não vai ficar por aqui....
Um economista francês chamado Gäel Giraud explica isso muito bem. Para quem entende francês, por exemplo aqui a partir de 21:40
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=2oFARgqG0NA