Como é que todos os que andaram a defender os Códigos do Trabalho e as políticas para uma desvalorização salarial "competitiva", agora se mostrem escandalizados que o salário médio seja de 1000 euros...!
Mudaram de opinião, querem fazer crer que mudaram de opinião antes das eleições ou jogam na confusão?
Segue um exemplo.
Veja esta entrevista do banqueiro Horta Osório, dada em 2013 a José Gomes Ferreira, sobretudo a partir do minuto 8, quando o entrevistado se pronunciou sobre a necessidade de aplicar todo o programa de austeridade ("vivemos acima das nossas possibilidades"), que colocou a população portuguesa a pagar os "buracos" da banca e que, por definição, adoptou a política de desvalorização dos salários, como forma de aumentar a competitividade do país.
E depois passe para o minuto 45'45', onde a mesma pessoa, na mesma entrevista, alerta para o grave risco, no quadro do euro, de "o fosso entre norte e sul não permitir que a legitimidade dos governos continue a construir o projecto europeu". "Tenho graves reticências do que se passa no sul da Europa em termos de dessintonia da vontade dos governos e a crescente insatisfação da população que tem de ser ponderada devidamente"...
Agora deixe passar dois anos.
Horta Osório afirma numa conferência que não havia alternativa a baixar salários (reais e nominais) em Portugal para ajustar a economia.
"Como em qualquer família temos que viver dentro das nossas posses. Quando se baixa a procura interna isso tem um enorme impacto ao nível desemprego. A solução é aumentar as exportações", acrescentou. Defendendo que as reformas estruturais, tal como insiste o FMI, são o caminho para a recuperação económica, Horta Osório frisou que estas devem ser orientadas sobretudo para a melhoria da competitividade e para a correção dos desequilibrios externos."
E se não bastasse a contradição, passados seis anos, já nem se admite qualquer problema estrutural. O problema é apenas de política interna...:
A afirmação é justa, dada a remuneração anual milionária de Horta Osório...
Mas esquecendo o fosso salarial evidente - que naturalmente gera descontentamento - o banqueiro volta ao ponto de início e defende que a prioridade deveria passar, novamente, pela redução da dívida pública. Mais austeridade. Critica Portugal ("os portugueses estão satisfeitos com uma economia que não cresce") - visando claramente o debate eleitoral -, e elogia a Irlanda, mas esquecendo que esse caso é sempre empolado (ver aqui).
Vivemos, pois, num carrocel. Alguma coisa deve estar a mudar... para que pouca coisa mude.
As pessoas começam a perceber qual é o projecto que esta gente tem para a larga maioria da população e isto assusta-os, por isso falam dos ordenados baixos, faz parte do logro, nenhum destes liberais defende a justiça ou igualdade na distribuição do rendimento, é importante confundir e passar a ideia que estão do lado dos oprimidos e não dos opressores, a solidariedade desta gente vem sempre acompanhada com a chantagem e com a ameaça, é o modo de vida. Quando um insuspeito gestor passa por moderado ou esquerdista há algo profundamente errado.
ResponderEliminar