sexta-feira, 9 de julho de 2021

Neomercantilismo alemão: vivo e de boa saúde. Mais desenhos.

O post do Jorge Bateira fez-me pensar que talvez fosse boa ideia atualizar alguns destes números.

Para lá de toda a continuada propaganda e de todos os equívocos sobre a evolução da produtividade alemã que, de facto, desde 1995, cresce menos que em Portugal e menos que na zona euro, a verdade é que, recordemos, não por acaso, os superávites alemães com os países da moeda única só aconteceram a partir da integração monetária. Foi a moeda única que, tornando fixa a taxa de câmbio nominal, permitiu que uma política de sistemática e agressiva repressão salarial gerasse uma taxa de câmbio efetiva real (calculada a partir da evolução dos salários) que continua hoje mais de 15% abaixo do seu nível de 1995. Sergio Cesaratto tem evidentemente razão, esta política só tem um nome: mercantilismo. No caso, neomercantilismo.


Políticas estas que, em Portugal, apesar da corrida salarial para o fundo, da venda a preço da uva mijona de múltiplos ativos estratégicos e de alguma recuperação nas exportações impulsionada sobretudo pelos serviços pouco qualificados, têm como contraparte uma dívida externa que não tínhamos antes do Euro e que torna o país, na prática, uma colónia. 


Mudanças na arquitetura do Euro permanecem tão improváveis como sempre. Afinal por que razão quereria mudar as regras quem está a lucrar com elas? 

De facto, hoje não há mesmo alternativa que não passe por olhar com realismo para as nossas vulnerabilidades macroeconómicas e para os meios de as debelar.

4 comentários:

  1. OS excedentes comerciais na zona Euro são regulados, a Alemanha ignora e viola os princípios da constituição do Euro. Ninguém vai mudar nada de essencial enquanto não se tocar na génese do problema, os povos desta parte da Europa têm de se comportar como gente emancipada, ou a zona da moeda única acaba ou muda radicalmente não há uma terceira possibilidade, o poder apenas têm o propósito de se autossustentar

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  2. O neoesquerdismo aposta em ignorar o passado para se fazer de novas com o presente, e praticar o de sempre: rotulagem das evidências que prefere ignorar.

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  3. Como de costume, a solução de recurso passa naturalmente por imprimir dinheiro. Dizer que a inflação não é um problema é não ser capaz de completar a frase, a inflação não é um problema no quadro do Euro. Eu vivi nos anos 80 com inflação a dois dígitos e não quero voltar para essa sociedade pobre e medíocre.

    A Esquerda tem infelizmente medo de assumir os riscos inerentes à sua estratégia, porque a promessa de uma crise económica num quadro de saída do Euro e até da UE nunca lhe ganharia um voto.

    Assim, fica nas margens a vociferar contra a Alemanha (de notar que a dívida externa portuguesa diminui de 2014 até esta crise, o que são boas notícias) à espera que o PS, que é um Partido centrista porque a coligação eleitoral que o sustenta também o é, dê uma guinada à Esquerda, com um Pedro Nuno Santos como SG, presume-se.

    Na Oposição, bem entendido, onde permanecerá por muitos e bons anos e onde a Esquerda terá capacidade zero de influenciar as políticas da Direita no poder. Boa sorte para isso...

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  4. António Costa: “A ideia de que a Europa é governável por um directório franco-alemão acabou”

    O delírio do “socialista” neoliberal Europeísta Costa…

    A ideia que a Alemanha vai abdicar do poder que conseguiu com a União Europeia, e ainda mais com o Euro, é uma ideia sem sustentação.
    É fácil para Costa dizer estas coisas pois ele não é vítima do europeísmo, ele pode ser governante de um Estado subserviente mas sua subserviência garante boa vida a ele e à família, todos os outros que não fazem parte do complexo mediático/ político/ europeísta que vão morrer longe…

    Eu não gosto de escamotear a realidade, esforço-me para contar a realidade tal como a vejo, aprecio quem faz o mesmo pois me ajuda a ver a realidade, ninguém sabe tudo… É por isso que não consigo chamar “recuperação” aquilo que aconteceu após 2008.
    Têm sido anos tristes e de sacrifício desnecessário só para manter privilégios absurdos de alguns, claro, não é sustentável. António Costa prefere escamotear a realidade e isso impede encontrar soluções para os problemas graves que se avolumam.

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