quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Soberana


Enquanto por cá os euro-liberais de tantos partidos, jornais, academias ou think-tanks nos querem atolar na impotência e na autoflagelação nacionais, o mundo move-se, de norte a sul. Tem de se mover.

Cuba, um pequeno e bloqueado país, exemplar no combate à pandemia, com um sistema de saúde que continua a dar cartas mundialmente, em particular na socialista medicina preventiva, espera produzir 100 milhões de doses de vacinas este ano, estando a desenvolver quatro, a mais adiantada das quais tem o belo nome deste texto, tendo já assinado acordos com vários países do Sul, do Irão à Venezuela, passando pelo Vietname ou pela Índia. O espírito de Bandung, do nacionalismo internacionalista, vive, por muito que tantos tenham feito de tudo, mas de tudo, para o enterrar.

Entretanto, o economista político soberanista francês Jacques Sapir faz um útil apanhado da economia industrial das vacinas, em linha com o seu profundo conhecimento dos complexos militares-industriais, sublinhando os desafios da produção e da distribuição em massa, na escala dos milhares de milhões necessária para debelar a pandemia. 

Num contexto de pluralidade de modelos industriais nesta área, Sapir valoriza os modelos estatais, chineses e russos, dado que, ao contrário das multinacionais, favorecem acordos de licenciamento, o que permitirá difundir a produção, em particular no Sul, mudando a natureza do jogo industrial. 

Crítico severo da UE, contrasta a sua desastrosa estratégia com a planificação real e potencial dos Estados capitalistas desenvolvidos, EUA e Reino Unido, indicando as virtudes da análise comparativa e concluindo que a incompetente centralização da UE implicou perda de velocidade e de flexibilidade, algo que a Alemanha já notou e daí a sua abertura à cooperação com a Rússia. A acção de países, pequenos e grandes, está a contornar na prática a rigidez da UE.  

O segredo da massificação está, então, na cooperação industrial que respeita a soberania das nações, em linha com as suas proféticas análises sobre a resiliência e promessa do Estado-Nação num contexto internacional genuinamente multipolar, questão de vida ou de morte, como se vê. 

Alguém que o traduza. Há vida para lá da UE. Haja esperança e vontade industrial também nesta nossa nação valente.


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