Mas o europeísmo é também a doença infantil de muito do que passa por teoria crítica, que vai permeando aqui e ali a esquerda, como denuncia Philip Cunliffe num livro magnífico saído no ano passado.
Este breve ensaio é escrito a partir das relações internacionais, na tradição, explícita logo no título, de denúncia implacável de utopias liberais com consequências distópicas do historiador E. H. Carr. Carr é o autor do melhor livro que li da disciplina de que foi um dos pais fundadores, The Twenty Years Crisis, 1919-1939, publicado no mês de Setembro do ano em que começou a Segunda Guerra Mundial na Europa.
O diagnóstico deste seu continuador tem validade para lá das RI, cujo estado parece realmente deixar muito a desejar. Sim, a cronologia de Cunliffe é um pouco, só um pouco, forçada – Kosovo e Euro, no início –, mas a simetria é elegante. No fundo, argumenta que a teoria crítica tomou por adquirida a estabilidade aparente do sistema internacional dominado, também ideologicamente, por aquele eixo no momento unipolar norte-americano, olvidando as questões de poder, as nos e dos Estados, que ainda contam.
Esta atitude conformista implícita tornou-se explícita no momento em que este sistema entrou em crise, desafiado pelas catástrofes geradas pelos EUA-UE. A multipolaridade realista que lhes respondeu está para ficar e muita gente anda de cabeça perdida por causa disso.
A sua dissecação implacável da “eurotopia” é tão sintética quanto acertada, ou não fosse um dos autores do Full Brexit, teoria crítica da mais consequente que há, da que, por exemplo, antecipou o colapso do trabalhismo às mãos da distopia de um segundo referendo.
É realmente um sintoma de falência de um certo paradigma que quase todos os teóricos supostamente críticos tenham sido Remainers fanáticos no Reino Unido.
Richard Tuck, um dos mais conceituados intérpretes de Hobbes, ou Costas Lapavitsas, um dos melhores economistas políticos marxistas, são alguns dos seus raros camaradas naquela viagem corajosa, com quem tenho aprendido tanto, mas tanto. Em todo o marxista há um realista de certo tipo, ainda ando a tentar descobrir qual, que tem de desabrochar. Eric Hobsbawm, influenciado por Carr, creio, é um bom modelo na análise histórica, como atesta a sua tetralogia das eras, onde medo, poder, mas também lutas sociais em várias escalas se entrelaçam.
Trata-se de um livro que pode ser lido com muito proveito nesta periferia. Alguém que o traduza e, já agora, também ao clássico de E. H. Carr de que é tão tributário. Fica o desafio para as Edições 70, por exemplo, até para ajudar a fazer esquecer a mancha no catálogo...
Sempre gente pequena quer uma quinta ao seu tamanho.
ResponderEliminarNão há uma Europa militar e diplomática que se sobreponha às políticas nacionais, mas os incapazes de influenciar as políticas do seu próprio país sempre se socorrem da Europa para justificar a sua impotência.
Mancha no catálogo? Não está a sugerir que se censure o livro de Marchi, pois não, para depois eles se virem armar em vítimas, como de costume.
ResponderEliminarO trabalhismo não colapsou às mãos da distopia de um segundo referendo, João Rodrigues. Colapsou às mãos da má fé e da burrice de um Corbyn que não percebeu que se o Brexit dividiria o Partido Conservador, dividiria irremediavelmente o eleitorado do Labour. E é mais fácil mudar o Partido que o eleitorado...
O João Rodrigues persiste na utopia mandelsoniana de que o eleitorado liberal que vota à Esquerda seguirá a Esquerda Nacionalista 'because they have nowhere else to go'...
Tem que vir a Direita e governar para vos convencer que não alinhamos em frentismos esquerdistas? Olhe, pois que venha... Depois, não se queixam, porque vai fazer o Governo Passos-Portas parecer um piquenique. E aí, é toda a estrutura sindical e autárquica do PCP que irá ruir por terra.
Claro, depois estou mesmo a vê-lo a fazer as queixinhas do costume, desta vez em relação à PS e esperar que a próxima crise internacional dê o golpe de graça na UE. Cuidado com o que deseja...
Quanto a doenças infantis, bom, existem doenças infantis e doenças senescentes, como as de quem persiste em continuar a admirar um império tirânico morto (leia-se uma terra vazia) e chamar-lhe paz... Se isto é soberania, tragam-me já as grilhetas de Bruxelas...
O Jaime Santos expressao verbal de pensamento critico com o papaguear de um psitaciforme colorido.
ResponderEliminarA unica resposta possivel e dar-lhe um biscoito e por a gaiola ao escuro para a criatura adormecer contente.
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Focando-me na substancia do texto do Joao Rodrigues, nomeadamente no que concerne a estrategia suicidaria do segundo referendo no pos-Brexit, relembro os mais esquecidos (e tambem papagiaos avulsos antes do seu soninho descansado) que o segundo referendo era primeiro e principal ponto no manifesto eleitoral que os liberais democratas (terceiro partido no parlamento britanico) levaram as elecoes parlamentares de 2019 - os resultados foram, de resto, previsivelmente e conforme previsto, calamitosos.
Dá algum gozo ver um do "orgulhosamente só" se transformar num europeísta convicto, daqueles mais convictos, que sonha com uma política militar e diplomática.
ResponderEliminarA impotência é o diabo, sobretudo quando se esgrime com a dita.
É isso aliás que liga o paleio pro-militar de quem foi derrotado também militarmente, com o esbracejar linguístico de Jaime Santos. O que sobra no intervalo entre os dois ( ou na reunião dos ditos) é mesmo isso. A impotência. A multipolaridade realista está para ficar e muita gente anda de cabeça perdida por causa disso.
Daí também e de forma impotente, os lugares-comuns num e noutro: Um acrescenta o habitual "sempre se socorrem". O outro implora pelas grilhetas
Fora deste triste panorama. Os textos de João Rodrigues têm esta particularidade de serem decisivamente estimulantes.
*O Jaime Santos CONFUNDE expressao etc etc etc...
ResponderEliminarSempre? Quer o João Rodrigues convencer-nos que com a sua idade foi "sempre" anti EU?
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ResponderEliminarO suposto nacionalismo de esquerda tem um fundamento e gera duas motivações:
O fundamento é o total desprezo pela História do país, um indisfarçável triunfalismo pelas suas derrotas na cena internacional, base que lhes é necessária para que se proponham criar um país novo, que naturalmente configurariam a seu modo.
Para um tal projecto, com um tal fundamento, só lhes é possível, e portanto necessário, mobilizar a ralé, uma vez que esta não tendo cultura não tem memória.
Acresça-se a promessa do saque, e logo veremos como a ralé se mobiliza e se exprime em termos que aqui se vêm regularmente em comentários.
Passámos da impotência para a ralé
ResponderEliminarParece que na mouche.
O europeísta convicto, ávido pela política militar e diplomática, aquele que zurzia os incapazes e impotentes, aparece aqui transfigurado
Esquecido da sua derrota também militar, atira para as urtigas o dito anteriormente. Sem memória ( ou não tivesse andado por aqui numa de apagar a memória dos anos negros do fascismo) e sem cultura ( ficara presa na Kultura da exposição do mundo português em 1940) parece que agora reconhece que ainda é possível "influenciar as políticas do seu próprio país", recorrendo à "ralé"
Este voltar atrás, este auto-desmentido, esta boçal "promessa de saque", estes passos de dançarino canastrão...
Que mais sinais serão precisos para evidenciar (ainda mais) esta impotência?
"A multipolaridade realista está para ficar e muita gente anda de cabeça perdida por causa disso"
Mas parece que há ainda coisas mais fundas que obrigam a estas figuras toscas que assim se desnudam, entre as "ralés" do seu pedantismo de classe e o saque dos seus porno-ricos.
Sim, também impotência. Mas seguramente não só
Este comentário dum tal "Sandro Marques" é estranho.
ResponderEliminar"Quer fazer-nos convencer"? Aqui não se trata de convencer
Trata-se de princípios e ideias. Coisas difíceis de engolir para os doentes infantis ou esclerosados
«O trabalhismo não colapsou às mãos da distopia de um segundo referendo, João Rodrigues. Colapsou às mãos da má fé e da burrice de um Corbyn que não percebeu que se o Brexit dividiria o Partido Conservador, dividiria irremediavelmente o eleitorado do Labour.»
ResponderEliminarAssim explica a mentalidade do casmurro que nunca se quis informar ou entender aquilo que foi o processo da maior campanha suja, alguma vez feita na Grã-Bretanha, para demover Jeremy Corbyn da liderança do partido trabalhista.
Se o mesmo bacoco gosta de utilizar expressões inglesas no seu discurso, como «because they have nowhere else to go», entenderá também o que significa a palavra «smear campaign», ou aquilo que a imprensa e televisão fez a Corbyn antes e depois do Brexit.
Bacoco é um termo "estranho". E a questão não passa por casmurrices.
ResponderEliminarAs smear campaign misturam-se com os cavalos de Troia. Valha-nos Lowlander para subir o nível dos bacocos