quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Estamos a fazer tudo o que podemos no combate à crise?


Por muito que o Governo insista no contrário, o estudo divulgado esta semana pelo BCE mostra duas coisas: não só somos dos países com menor esforço orçamental para combater a crise, como somos superados por países com níveis de dívida pública próximos do nosso. E isso tem implicações importantes para o debate público sobre a resposta à crise, por desconstruir duas ideias erradas.

Por um lado, cai por terra a ideia de que o país tem levado a cabo um esforço orçamental incomportável no combate à crise que se atravessa. Como se vê no primeiro gráfico (acima), quase todos os países da União Europeia têm um nível de apoio público à economia superior ao nosso. Portugal tem sido, na verdade, um dos mais contidos deste ponto de vista, tendo até merecido elogios por parte da Comissão Europeia por isso mesmo.

Por outro lado, a ideia de que a debilidade das contas públicas do país justifica essa contenção não condiz com a realidade: a Itália e a Grécia, os dois países com dívidas públicas superiores à portuguesa, registam um esforço orçamental bastante superior ao nosso (como se torna claro no gráfico ao lado, que compara o nível de endividamento dos países com a variação do seu saldo orçamental primário ajustado ao ciclo, sendo este último uma aproximação mais ou menos razoável do esforço que cada país fez no ano passado, ainda que o seu cálculo seja discutível).

A verdade é que a atuação do BCE, que aprovou um novo programa de injeção de liquidez e aquisição de títulos de dívida pública no início da pandemia, garante que as condições de financiamento se mantêm estáveis com as taxas de juro muito baixas, permitindo precisamente que países mais endividados consigam dar resposta à crise. E parece que a maioria dos países o tem aproveitado. Não é o caso de Portugal.

É preciso ter em conta que este estudo foi feito ainda antes de se conhecerem os dados de execução orçamental dos diferentes países - na prática, avalia a despesa que os governos estimaram, mas não o que foi efetivamente gasto. E esse valor, no caso português, é ainda mais baixo do que o previsto. Começa, por isso, a ser difícil olhar para a gestão orçamental do Governo sem se chegar à conclusão que a fixação com os orçamentos equilibrados e com o défice zero continua de boa saúde. Isto apesar de todas as evidências de que o importante, sobretudo numa recessão como a atual, seria mesmo gastar o necessário.

7 comentários:

  1. Os partidos que governam em Portugal já se habituaram a desprezar os mais frágeis, culpam-nos pela sua condição e na melhor das possibilidades têm para estes a custosa caridade Este país não é governado por pessoas decentes que entendem a importância da igualdade e da liberdade.

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  2. "Os partidos que governam em Portugal" é uma afirmação genérica, assim do género todos ao molho e fé em Deus.
    Assim mais parecida com aquelas afirmações generalistas de que se aproveitam os cães de fila da extrema-direita
    Este país tem pessoas decentes e não-decentes e no meio disto, todo um contínuo de decência ( ou indecência)
    Os partidos defendem ideologias. Podem ou não cumprir o que dizem defender. O que está em causa não é só a igualdade e a liberdade. Um neoliberal fanático, como aqueles que por aí andam, repetem até à exaustão o fado da "liberdade". A liberdade de fazer negócios sempre. E de morrer de fome ou ficar desempregado se for preciso

    Porque ao contrário destas generalidades balofas e perigosas, importa fazer a separação do trigo e do joio. E importam discursos pedagógicos como o de VF que clarificam as coisas- é preciso gastar o necessário e não repetir as receitas austeritárias.

    E não é preciso demagogia um pouco barata e vazia

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  3. Não é tudo ao molho e fé em Deus, referia-me especificamente ao PS e ao PSD, partidos onde o "S" é há muito letra morta. Qual é a ideologia que estes dois partidos defendem, diga lá... Sim, claro, o problema da situação que no encontramos é a falta de pedagogia, é exactamente disso que me lembro quando penso na pornográfica desigualdade deste país. Os discursos de "meias tintas" tipo o seu são de um imenso conteúdo, são o discurso que no final termina na inevitabilidade ou na austeridade "boazinha", cresça e apareça.

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  4. O Costa aponta o erro do Natal que já foi há tanto tempo e nada de parecido com o que se agravou, com óbitos na ordem dos 300 e que ninguém aponta a causa que aconteceu no dia 24 de Janeiro. Esse foi o dia fatídico do qual extrapolámos os níveis da decência. Mas a eleição estava primeiro e ninguém tem coragem de o apontar e reconhecer. JC

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  5. Náo é novo. Portugal nunca gasta tudo aquilo a que tem direito por parte de UE. Para haver os fundos que a UE põe a disposição é preciso gente competente. O que aqui não há. Nem para gastar.

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  6. JC e o dia fatídico. Ou a anedota fatídica.

    Para estas "asneiras" em forma de decência já demos. Basta estar um pouco atento, viver em Portugal e saber fazer contas. E já agora saber alguma coisa do período de quarentena do Vírus e das suas manifestações clínicas. Incluindo, quando acaba em morte

    Não cola. Nem a "coragem" nem a decência que foi extrapolada.

    A decência de resto é um tema que já um "anónimo" tinha referido, no meio daquelas generalizações abusivas tão bem caracterizadas por outro anónimo. Aquele que começava com os "mais frágeis" e com a "caridade", qual verdadeiro discurso digno de qualquer calvinista em pregação.

    Que depois resvala para a pregação do mesmo calvinista, seguramente dos países baixos

    Do que o coitado se vai lembrar quando pensa "na pornográfica desigualdade deste país"?
    Na "falta de pedagogia"

    Está tudo dito

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  7. Este esqueceu-se do CDS e do Chega, nos Açores. Tudo ao molho para ver se passa
    Quando ao S do partido social-democrata...o social está morto. Morreu com a pandemia

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