Adam Smith, uma das principais referências da economia política liberal, já nos havia alertado no século XVIII: quando os capitalistas de um mesmo ofício se reúnem para conversar, geralmente é para conspirar contra o público. No último século, capitalistas de diferentes ofícios, ou os seus representantes, reuniram-se frequentemente para conspirar contra as democracias. Em Portugal também. A 18 de Junho de 2020, numa quinta em Loures, como relata uma investigação do jornalista Miguel Carvalho na Visão, foi servido um belo repasto a «seletos convidados», que «pesam muitos milhões na economia nacional e até além-fronteiras»: reuniram-se para conspirar com o deputado do Chega André Ventura; a questão do financiamento deste partido não terá estado naturalmente ausente. João Bravo foi o anfitrião. Este capitalista com negócios nas áreas da defesa, da segurança e dos incêndios, necessariamente entrelaçados com o Estado, afiançou: «desde 1974 que o País se afunda».
A investigação de Miguel Carvalho deu-nos assim a ver um momento de consolidação das mais importantes redes sociais deste partido, sem as quais a acção nas outras redes, também chamadas sociais, nunca teria a mesma eficácia, até por falta de recursos. Profundo conhecedor da extrema-direita portuguesa, ou não tivesse sido autor do livro de referência sobre o seu terrorismo a seguir a 1974, Carvalho já havia começado a investigar a galáxia reacionária de que é feito o Chega: de quadros fascistas à mobilização de sectores evangélicos em modo bolsonarista, passando pelos negócios mais ou menos sórdidos – da segurança ao imobiliário de luxo – de muitos dos seus dirigentes, sem esquecer as ligações internacionais ou o caldo cultural obscurantista, de onde o negacionismo climático não está ausente. É aliás neste caldo que mergulha hoje toda uma economia política neoliberal ao serviço do aumento dos poderes discricionários indissociáveis do capital e do Estado securitário.
O resto do artigo, que recupera e desenvolve notas críticas recentes a uma apologia deste partido e à sua normalização pelo PSD de Rui Rio, pode ser lido no Le Monde diplomatique - edição portuguesa de Setembro.
Tudo expectável, portanto.
ResponderEliminarA única questão é saber se tanto entusiasmo salazarento terá, ou não, efeitos eleitorais.
Isto porque, os nossos EXTREMISTAS da direita e do CENTRO têm uma grande dificuldade em lidar com a realidade.
Talvez por desprezarem o povo e não ouvirem o que as pessoas comuns pensam, eles iludem-se facilmente.
Querem um exemplo?
Sabem quem ia ser a próxima primeira-ministra da Portugal?
Pois, era a Cristas.
Agora, enfiou a violinha no saco e desapareceu de vez.
Depois de 46 anos 'a caminho do socialismo', o aborto a que se chegou - nem cá, nem lá, antes pelo contrário - seguramente terá consequências.
ResponderEliminarQuer isto dizer que nem o socialismo deixou vestígios económicamente operativos nem o capitalismo tem condições decentes de funcionamento.
O problema, João Rodrigues é que para si o remédio é ser-se anti-liberal (algo que Smith obviamente rejeitaria).
ResponderEliminarA seguir vai provavelmente falar na necessidade de recuperar o Estado Nacional, do Brexit, do One Nation Toryism de Johnson e por aí a fora.
Pois bem, o neoliberalismo mais radical veste hoje em dia roupagens nacionalistas e anti-liberais: https://www.theguardian.com/commentisfree/2020/sep/01/no-10-lobby-groups-democracy-policy-exchange.
Johnson e Cummings procuram minar a democracia britânica justamente através da centralização do poder, em nome de uma vontade popular que deve ser cumprida, contra as instâncias de intermediação que supostamente se opõem à soberania do parlamento.
O poder do dinheiro veste o fato que for preciso...
Comparado com estes, Ventura é um principiante...
Tenha cautela com o que deseja, João Rodrigues, é capaz de o conseguir, mas talvez não no formato exactamente imaginado...
Excelente contribuição para lançar mais luz sobre o amamentar da besta
ResponderEliminarJá há pouca pachorra para as idiotices das múmias paralíticas
ResponderEliminarDepois de 46 anos a "caminho do socialismo" diz um. Uma espécie de aborto linguístico ou outra coisa pior?
A decência do comportamento do capitalismo refere-se concretamente a quê? Aos offshores directamente apoiados pelo governo de Passos Coelho? Aos porno-ricos saudados publicamente pelo Jose? Aos terratenentes banqueiros do mesmo jose?
O mais curioso é que o texto de João rodrigues fala dos elos que ligam o capital e o chega. E o caldo em que "mergulha hoje toda uma economia política neoliberal ao serviço do aumento dos poderes discricionários indissociáveis do capital e do Estado securitário".
Jose prefere falar nos 46 anos, a "caminho do socialismo". Os patriotas estavam na Pide e no mdlp e jose considerava Cavaco Silva um perigoso esquerdista
João pimentel ferreira fala nos extremistas do centro
ResponderEliminarRIP
Jaime Santos também tem o mesmo comportamento de jose. Atira para o lado .
Isto de falar nas ligações estreitas do capital com a extrema-direita é um assunto tabu.
(Antes de mais a pergunta impõe-se.Aquele neoliberalismo de pinochet-friedam era exactamente o quê? um neoliberalismo fofinho à espera de poder avançar para outras coisas mais radicais,quando já não conseguir vender a sabujice?)
Parece que JS ficou irritado de se ter trazido ao debate as palavras de Adam Smith, sobre a conspiração contra o público,quando capitalistas do mesmo ofício se reúnem para conversar.
ResponderEliminarDeve-se ter revisto nas suas afirmações contra a banca pública. Em prol dos capitalistas da área.
Para JS, depois de ele ter lido o post de JR, o problema é o remédio de JR, (de acordo com a opinião de JS, claro)
Assim deste jeito : ser-se anti-liberal
Bom, confesso que estou confuso. O problema é ser-se anti-liberal, porque JS se assume como liberal, é isso? Despiu o casaco social-democrata e assumiu o de liberal?
Mas JS diz que há uns neoliberais mais radicais que são anti-liberais. Fazem parte do problema de JS? Ser-se anti-liberal é o problema,mas JS , neoliberal após a sua rendição ( "eles ganharam", é o que anda para aí a dizer), esboça aqui um comportamento anti-neoliberal mais radical.
Logo, JS faz parte do problema de JS,como anti-neoliberal da classe radical neoliberal
O que faz um tipo para esconder o chega debaixo das asas agora da dita democracia britânica.
O ventura que até é um principiante...e toca de o benzer assim deste jeitinho tão à JS
Bora lá mudar para o Cummings
Que saudades tem Jose desses tempos em que as bestas da pide e da legião, sob as ordens daquele néscio de botas, permitiam condições decentes para o capitalismo funcionar.
ResponderEliminarAbortaram o fascismo em 25 de Abril de 1974. Jose ainda chora pelo aborto