sexta-feira, 3 de julho de 2020

Para lá das perceções

Muito pelo facto de a região de Lisboa ter começado a destacar-se nos valores registados em todo o país, e dado o surgimento de focos de contágio com especial incidência nesta região, tem-se gerado nas últimas semanas a ideia de uma inversão inesperada da trajetória da pandemia, de descontrolo ou mesmo de que o caos se está a instalar.

Importa lembrar, desde logo, que era previsível que o desconfinamento se traduzisse num acréscimo do número de casos, face ao aumento da circulação de pessoas e à retoma gradual da economia, implicando o acompanhamento da situação e a resposta aos problemas que foram surgindo. E mesmo que se pudessem ter antecipado alguns impactos mais específicos do desconfinamento (que veio revelar diversas fragilidades estruturais da AML), ou ponderado melhor algumas opções, o facto é que não se verificou, até agora, nenhuma espécie de descontrolo ou reversão, além do que se poderia esperar, de ganhos anteriormente obtidos. Ou seja, continuamos a não ter tragédia nem milagre que justifiquem o destempero na análise, por pânico ou euforia.


De facto, quando se analisam os dados disponíveis, prevalece a ideia de que, depois da contenção do contágio conseguida com as medidas de confinamento, se entrou numa fase de relativa estabilização, com aumentos comparativamente pouco significativos nos principais indicadores (incluindo os relativos ao número de internados e número de óbitos). Se por exemplo desde o «pico» no número de infetados (24 mil, no início de maio) se passou para um mínimo que é metade desse valor, o aumento desde então situa-se em apenas cerca de mil. De forma análoga, a tendência recente de aumento o número de internados e de óbitos está muito longe de poder corresponder a uma inversão simétrica, em termos de ritmo, à registada no período de diminuição após o «pico».


Não se sabe, evidentemente, como tudo vai evoluir e até quando se manterá a atual situação de relativa estabilidade e aumento moderado dos valores. O que se sabe, e é o mais importante, é que a capacidade de resposta do SNS para gerir o volume de situações mais críticas está longe da pressão a que o mesmo já foi sujeito, quando se registou o maior número médio diário de infetados, de novos casos, de internados e de óbitos.

3 comentários:

  1. A paf encerrou dezenas de hospitais públicos, todos eles ex-santas casas da misericórdia, todos eles obsoletos e, por essa razão, praticamente sem se dar por isso (com a ajuda dos media, claro).
    Isto foi uma das respostas dadas às exigências da troika e continua a ser recomendação (por enquanto...) em todos os semestres europeus.
    Os neoliberais não querem camas desocupadas nos hospitais, porque é um custo sem retorno e a saúde é para ser 200% privada, pelo que não pode haver custos- apenas proveitos.
    Resultado: o tratamento de qualquer surto de doenças infecto-contagiosas encontra os hospitais sem capacidade de resposta, porque o número de camas/enfermeiros/assistentes/médicos não está dimensionada para internar mais gente que aquilo que é a média das taxas de ocupação.
    Refira-se que são os hospitais as únicas unidades de saúde vocacionados para tratar doenças infecto-contagiosas.
    Conclusão:qualquer surto provoca de imediato numa situação de catástrofe, com o pessoal dos cuidados primários a ser chamado a fazer maratonas de visitas ao domicílio, para tratar os doentes que não têm lugar nos hospitais.

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  2. Um comentário lúcido e sereno de Nuno Serra que motiva uma resposta, perdoe-se mas é o termo,completamente idiota de joão pimentel ferreira, escondido sobre anonimato.

    "A paf encerrou dezenas de hospitais públicos, todos eles ex-santas casas da misericórdia, todos eles obsoletos"
    (Propaganda às misericórdias, sob a forma de aldrabice em estado obsoleto)

    " a saúde é para ser 200% privada, pelo que não pode haver custos- apenas proveitos" ( uma idiotice regista-se como idiotice independentemente de quem a diz. Há no entanto uma curiosa persistência de concordância desta com a sua habitual fonte emissora)

    "o tratamento de qualquer surto de doenças infecto-contagiosas encontra os hospitais sem capacidade de resposta, porque o número de camas/enfermeiros/assistentes/médicos não está dimensionada para internar mais gente que aquilo que é a média das taxas de ocupação." (Mais tretas,porque para desespero dos neoliberais como JPF, o SNS conseguiu aguentar o embate. E conseguiu não cair até aqui nos espectáculos horríveis da Espanha ou da Itália. Até mesmo JPF, aquele papageuador das virtudes da saúde dita privada na Holanda e das maravilhas das PPP na saúde em Portugal, teve que meter o bico na asa e refugiar-se no anonimato)

    "Refira-se que são os hospitais as únicas unidades de saúde vocacionados para tratar doenças infecto-contagiosas."
    (Mais asneiras que confirmam que estamos perante o aonio eliphis joão pimentel ferreira. Os hospitais "não são as únicas unidades"... blablabla . Uma doença infecto contagiosa pode ser até tratada em casa, como toda a gente sabe, quando tem uma banal gripe. O que este ressabiado travesti de holandês queria é que todos os doentes com Covid-19 fossem internados nos Hospitais. Para rebentar com o que resta de uma das belas conquistas de Abril-o SNS)

    "qualquer surto provoca de imediato numa situação de catástrofe, com o pessoal dos cuidados primários a ser chamado a fazer maratonas de visitas ao domicílio, para tratar os doentes que não têm lugar nos hospitais"
    (Não. O pessoal dos cuidados primários não fazem maratonas de visitas ao domicílio. Nem isto o coitado do JPF sabe. Quanto aos doentes que não têm lugar nos Hospitais é porque simplesmente não têm necessidade de aí estarem internados).

    O enorme claudicar da medicina privada em Portugal, revelado por esta epidemia, deixa o pobre do JPF neste estado lastimável

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  3. Quando se pegam nos números nacionais sim. Quando se.isola a LVT não. Há mesmo uma situação preocupante.

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