sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Não existirá cordão sanitário

Alguns liberais, como João Miguel Tavares, anteciparam criticamente a abertura entretanto revelada por Rui Rio para alinhamentos com o Chega, o que é de resto coerente com o autoritarismo anti-parlamentar de que Rio tem dado mostras. Tratar-se-á de transpor para Portugal uma solução política que tem feito o seu caminho em vários países da União Europeia. Está em curso a normalização da extrema-direita, com a ajuda de apologias que passam em alguns círculos por trabalhos isentos e sobretudo com o apoio que certas fracções do capital já lhe estão a dar, como indicou Miguel Carvalho na Visão. Não existirá cordão sanitário.

Os liberais esquecem que este tipo de convergência entronca numa economia política retintamente liberal, partilhada, por exemplo, pelo Chega, pelos economistas de Rio ou pela Iniciativa Liberal: da diminuição da progressividade fiscal ao reforço da entrada do capital em áreas do Estado social, passando pelo reforço da discricionariedade patronal. 

E é preciso não esquecer, como ainda recentemente sublinhava Pacheco Pereira, que o esvaziamento dos poderes do parlamento em áreas relevantes da soberania é um dos subprodutos da integração europeia. Esta integração euro-liberal é apoiada de forma consequente por todas as direitas nos seus eixos fundamentais, do mercado único à moeda única. A origem estrutural do enviesamento para a direita passa de resto por aqui. 

A fraqueza e colonização ideológicas do PS e a erosão do seu poder pela crise farão o resto, isto se deixarmos que as coisas sigam o seu curso. O PS é um partido cuja visão estratégica parece resumir-se a um “pacto Estado/empresas”, ou seja, a uma forma de Estado de bem-estar empresarial, onde é dada cada vez menos relevância ao mundo do trabalho, aos sindicatos, e onde a presidência da concertação social é entregue a um admirador confesso de Passos Coelho chamado Francisco Assis.

Felizmente, existem alternativas políticas tão democráticas quanto anti-liberais na economia política.

6 comentários:

  1. As actividades anti-racismo da extrema-direita europeia têm uma enorme notoriedade?

    ResponderEliminar
  2. O europeísta e neoliberal Francisco Assis ao elogiar Passos Coelho o que ele verdadeiramente pretende é fazer crer que a austeridade foi e é obrigatória, não fosse o lema dos neoliberais/ europeístas: T.I.N.A. "There Is No Alternative".

    Ao defender Passos Coelho e a sua governação o neoliberal Assis está a ser coerente com a sua ideologia latente.
    Tolos são aqueles que acham que Assis é um "social democrata" ou mesmo "socialista"!

    E como o neoliberal Assis há vários outros no Partido "Socialista" que são apresentados na comunicação -manipulação- social como a "ala responsável, moderada e séria do Partido Socialista".

    Francisco Assis não é um moderado, a sua condição de neoliberal não o permite, embora, ele se esforce muito em fazer passar a ideia que tem consciência social, não engana tantos como ele deve pensar que engana...

    Francisco Assis é também cúmplice na ascensão da extrema-direita!

    ResponderEliminar
  3. Mais uma vez excelente

    De facto a integração euro-liberal é a porta de entrada de toda a direita, de todas as direitas.

    Não haverá cordão sanitário. Eles entendem-se sempre

    ResponderEliminar
  4. A esquerda nominal assobia para o lado a ver se passa.
    No final do dia, estão marcados uns copos com os gajos da direita nomina, para acertar posições na tarefa de manter o status-quo.

    ResponderEliminar
  5. Que confusão vai por aí. Que discurso mais atabalhoado

    Então o europeísta e neoliberal Francisco Assis ao elogiar Passos Coelho o que ele verdadeiramente pretende é fazer crer que a austeridade foi e é obrigatória?
    Ele pretende muito mais do que isso. Isto é discurso de quem não tem nada para dizer

    E o que será isso de ideologia latente? Será uma ideologia travestida doutra ideologia? Ou um travesti ideólogo travestido de outro para ver se é desta?

    ResponderEliminar
  6. A esquerda nominal e a direita nomina. Mais os copos da ordem e o status quo

    Faz demasiado lembrar aquele tipo que dizia que estava no meio de uma ponte com a direita de um lado e a esquerda do outro. Um "equidestante"

    Depois foi apanhado na contra-mão a fazer discursos racistas e abjectos. Não, não se tinha passado para o lado da direita escumalha. Sempre lá tinha estado.

    Era tudo fita para ver se passava

    ResponderEliminar