sexta-feira, 17 de julho de 2020

Chega mesmo de apologias


Tomando como ponto de partida uma entrevista televisiva a Riccardo Marchi, um grupo de investigadores em ciências sociais e humanas publicou no passado Sábado um texto contra esta “higienização académica do racismo e fascismo do Chega”. A entrevista é coerente com o livro, naturalmente.

Em reacção, Luís Pereira Coutinho informou-nos, também no Público, que o tal grupo era composto por 67 investigadores e partiu daí para uma defesa banal de um debate público vivo e plural. Nem por uma vez se engaja com os argumentos apresentados. Coutinho sabe contar e é praticamente tudo. Já no bem financiado blogue das direitas puras e duras, também conhecido por Observador, Rui Ramos acha que aquela tomada de posição democrática deve ficar ao lado da expulsão de académicos da universidade no tempo do fascismo, o que é coerente com as décadas de relativização e de branqueamento que já leva, do miguelismo em diante.

Colectivamente, o combate ao fascismo passa pela cabal aplicação da Constituição, proibindo formações desta natureza, mas também passa pela superação da impotência democrática do Estado nacional no campo das escolhas socioeconómicas. Já do ponto de vista da circulação académica ou no restante espaço público, não há alternativa à sujeição das ideias a um apertado escrutínio crítico. Um livro apressado, alinhando com as ideias do Chega e editorialmente oportunista sobreviverá pior desta forma. E isto incomoda muitos intelectuais das direitas. Já não escondem as tentações, as mesmas que levaram liberais como Ludwig von Mises, uma das referências explícitas do Chega no campo da economia, a saudar o fascismo italiano nos anos vinte por ter salvo o princípio da propriedade privada. Toda uma tradição a que convém estar atento sobretudo nas curvas apertadas da história.

Entretanto, António Costa Pinto diz na badana que é um livro “sério” e “desapaixonado”. É precisamente o contrário, como já argumentei numa primeira versão de uma recensão: aliás, se eu fosse dirigente da extrema-direita, aconselharia o livro aos militantes. E se a paixão de Marchi fosse assumida de início, ao invés de ser traficada no porão da isenção, poderíamos discutir noutro plano as questões da seriedade.

5 comentários:

  1. proibir formações dessa natureza implicaria extinguir as duas que se encontram em listas eleitorais na actualidade e quem decide que elas são fascistas?

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  2. O sr. Marchi, defende as extremas-direita, fingindo que as denuncia, sendo tao dificil haver dinheiro para investigacoes, as verbas disponiveis para qualquer investigacao sao reduzidas ao minimo , como consegue este senhor italiano, as verbas para as suas. Alias dinheiro NUNCA faltou ao Chega, e nunca ninguem investigou de onde vem, o Sr. Marchi que parece bem informado poderia dizer algo sobre o assunto.E a editora poderia informar, quem pagou a edicao do livrinho.

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  3. O fascismo só vencerá se todas as opções políticas tradicionais falharem.
    É claro que tudo tem falhado, mas os Portugueses ainda não desistiram das opções políticas tradicionais (mas nada é garantido para sempre...).
    Quem parece ter desistido é o PSD, que tem sido berço deste tipo de partidos, que seria mais apropriado chamarem-se seitas, dada a paródia ideológica em que assentam: foi a aliança (que "não consegue vender"...), a il e o chega.

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  4. Lapidar João Rodrigues, num texto que aborda esta questão sob vários ângulos.

    É preciso fazer frente no campo das ideias a esta serpente que se vai desenrolando debaixo dos nossos olhos. Uma nota quero todavia ressaltar. Este combate "também passa pela superação da impotência democrática do Estado nacional no campo das escolhas socioeconómicas"

    (Não adianta dar corda ao João pimentel ferreira mais os seus apartes idiotas. Ele,um assumido defensor do estado dito social dos nazis, vem agora fazer o papel que a ele lhe cabe. Irá para o sítio que lhe compete por direito)

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  5. Ao contrário também do que se diz, nem o PSD desistiu de nada, nem as "seitas" se arrumam com esta facilidade.Aqui não há nem "seitas" nem paródia ideológica.

    Há outras coisas e bem mais profundas do que esta tentativa de vender bonecos desta forma tão comezinha. Demasiado. Quase a raiar a água benta de.

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