quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Da conjuntura e da estrutura económicas


Através do resistir.info, tenho tomado contacto com as acutilantes análises do economista político indiano Prabhat Patnaik, na melhor tradição radical, que procurou ir à raiz dos problemas económicos, de uma certa Cambridge. No seu último artigo, Patnaik assinala algo muito importante, mas que tem gerado equívocos a remover: “O único modo de promover a procura agregada sob o regime do capitalismo neoliberal que continuou a existir foi portanto através do estímulo a ‘bolhas’ de preços de activos; e a política de taxa de juro foi utilizada para este propósito.”

Reparem que Patnaik não diz, como as tais vozes equivocadas, que a política de taxa de juro baixa é parte do problema especulativo. Como é evidente, esta política é parte da solução, uma parte hoje pequena, certamente, mas parte, ou não tivesse sido a “eutanásia do rentista”, a política de taxas de juro reais tendencialmente negativas, uma componente do mais vasto regime keynesiano dos chamados trinta gloriosos anos, logo a seguir à Segunda Guerra Mundial.

Na realidade, e ao contrário do que acontecia no regime keynesiano, a raiz do problema está aqui: “os países permanecem presos no turbilhão de fluxos financeiros globais”. Esse instável turbilhão especulativo foi o produto institucional dos processos de liberalização financeira, incluindo a abolição por demasiados países dos controlos de capitais, sobretudo a partir dos anos oitenta. A UE é o nome dessa liberdade reconquistada para o capital, liberticida para o trabalho, em parte do continente.

Contrastando com o tranquilo período anterior, esta configuração institucional e de classe liberal gera instabilidade financeira, quer de forma directa, quer de forma indirecta, já que a hegemonia do capital financeiro bloqueia em muitos contextos um uso adequado da política orçamental, com vista à estabilizadora socialização do investimento, de que também falava Keynes, e cria um regime de nula pressão salarial. A crise é sempre de procura.

A crise é realmente sistémica e os meios para a superar também têm de o ser. Uma política de pleno emprego pôde historicamente ser apodada de social-democrata. Hoje, é absolutamente radical. No fundo, talvez seja a social-democracia que hoje parece o cúmulo do radicalismo, de tal forma que os que são formalmente social-democratas a rejeitam na prática e muitas vezes até na teoria. Olhem, uma vez mais, para os países da UE.

7 comentários:

  1. Também um dos motivos porque o LdB é um blog de referência, são posts como este
    Não entrando pela demagogia barata, nem pela superficialidade que alimenta os malabarismos do costume

    E sem medo de enfrentar a complexidade das coisas, com a radicalidade que estes tempos precisam

    Os coiotes virão uivar à porta

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  2. Desde que o Keynes alimenta, ainda que às postas, as teses dos marxistas a situação fica demasiado complexa.
    Já tenho saudades dos socialistas marxistas!

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    1. Este ignorante do josé nem sequer percebe o que lê?
      E que Prabhat Pratnaik é um economista marxista?

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  3. Pobre jose

    Agora assina um manifesto de impotência. Cognitiva e argumentativa

    Coitado

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  4. ( acho que jose também ficou assim, perturbado e sem perceber patavina, quando leu que "a poupança depende do investimento, e não ao contrário."

    "Na verdade, são novos tempos! Ele há coisas…!" dizia ele, entre o atónito e o assombrado.

    https://www.blogger.com/comment.g?blogID=4018985866499281301&postID=5128297951409976031


    Situações demasiado complexas para o sujeito, de facto


    Pobre jose )

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  5. A especulação económica foi má? Olhem quem diz que a desregulação correu mal...
    https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-09-03/deregulating-financial-markets-was-stupidity-says-schaeuble

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  6. No contexto económico, social e politico que vivemos a defesa do pleno emprego é o mínimo que se devia exigir a qualquer partido que se senta na assembleia da república portuguesa.

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