segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Afirma Pereira, repete Pereira

Voltamos às repetições: o Orçamento não é português, é estrangeiro, subordinado aos interesses dos nossos credores e às políticas que eles impõem, que não são “portuguesas” num aspecto fundamental — é que não servem o interesse nacional, nem as necessidades de desenvolvimento do país, mas apenas a submissão às políticas alemãs e à vulgata política da troika disfarçada de inevitabilidade económica. O Orçamento serve o pagamento da dívida transformado no alfa e no ómega de toda a política de défice zero. Há outras coisas sob o mesmo céu, mas aqui o sol não nasce para todos (...) Nestas matérias está-se como a “voz clamando no deserto”. O que se ouve de imediato como resposta é uma variante do discurso do ocupado que interioriza o discurso do ocupante, uma soma de argumentos ad terrorem, de que quem contesta o oito quer o 80, ou do desabar cataclísmico de tudo, à mais pequena contestação do estado de coisas (…) O PSD, o CDS e PS são partidos do Tratado Orçamental, o BE e o PCP por razão da “geringonça” não têm qualquer autonomia nesta matéria. À mais pequena crise de fora, vai desabar tudo. E depois queixem-se do populismo. 

Excertos da crónica de José Pacheco Pereira no sábado passado no Público. Certamente por acaso, não teve qualquer destaque no sítio do jornal. Concordando no fundamental, tenho duas ou três observações vagamente críticas.

Em primeiro lugar, creio que Pacheco Pereira continua a enfatizar em demasia a dimensão informal do poder na UE, em detrimento da formal, quando as duas estão articuladas. Voltamos também às repetições:

A informalidade do Eurogrupo tem servido bem as grandes potências, em especial a Alemanha. A formalidade das restantes instituições europeias serve o pesado acervo de regras políticas que de forma explícita se destina a construir mercados mais amplos e que operem em cada vez mais esferas da vida, beneficiando os “povos dos mercados”, os ganhadores da integração. E isto à custa da soberania democrática de Estados nacionais desprovidos de instrumentos decentes de política, o que é pior para as periferias, que deles mais necessitam, e dentro destas para os “povos dos Estados”, a grande massa de perdedores. No fundo, a complexidade e opacidade institucional da União Europeia e da zona euro estão ao serviço de duas lógicas que não se articulam espontaneamente, mas que requerem instituições, formais e informais, para esse efeito: a da geopolítica, associada ao poder das grandes potências, e a de classe, associada à dominação do capital financeiro.

Em segundo lugar, não creio que as posições do PCP e do BE possam ser resumidas a uma “falta de autonomia”. Cada um à sua maneira, PCP e BE, nos quais creio que Pacheco Pereira até se revê em matéria europeia, não têm força suficiente ainda. Mas têm autonomamente sublinhado a sua discordância com a tralha europeia e os seus efeitos em termos de soberania democrática e de desenvolvimento nesta e noutras áreas. De qualquer forma, convém insistir mais nesta dimensão nacional, até em termos de investimento programático.

Em terceiro lugar, populismos, tal como nacionalismos, há mesmo muitos. De alguns, não devemos mesmo ter razões de queixa...

16 comentários:

  1. De relativo interesse, apenas para os que se interessem sobre o que se prepara como função para o ESM, o futuro FMI ou IMF da EU. E naquela linguagem mole da propaganda alemã.

    http://www.spiegel.de/international/europe/eurozone-esm-bailout-fund-on-the-road-to-expansion-a-1232958.html

    Sublinhe-se que a função da instituição dirigida por Reggling não tem qualquer controlo político directo dos estados e funciona muito convenientemente num quase vácuo legal.

    S.T.

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  2. O distinto economista Pacheco Pereira seguramente tem um qualquer plano salvífico para a economia do país.
    Como tantos outros distintos economistas resguarda o seu plano dos olhares intrusivos da turba ignara e deixa tão só antever que mais défice e mais dívida é parte essencial ao plano.

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  3. Mais uma vez não passa.

    A tentativa de pedir o pedigree de quem comenta, tentando desvalorizar o sentido, o peso ou a gravidade das críticas, é um processo ínvio. E cobarde.

    Provavelmente no caso concreto de quem usa tais métodos, estes assentem num já confessado amor pelos censores e pela ditadura.

    Mas Pacheco Pereira tem todo o direito e toda a capacidade intelectual para escrever o que escreve, sem que lhe exijam a identidade ( como nos tempos da pide, defendida por jose?) e a licenciatura em economia

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  4. As tendências autoritário-papistas, em respeito pela santa lei religiosa de jose, não são a única prova de má fé deste

    JPP aponta contra um discurso do "ocupante". Este jose aponta e defende um discurso do ocupante.
    E, para disfarçar o seu carácter pró-ocupante, parece que exige um plano salvífico a quem lhe desmascara os jeitinhos de vende-pátrias.

    Acontece que claramente o autor do texto vai muito mais longe do que o "défice e dívida" , aqui citados por jose.

    Pelo que as "massas ignaras" ( antes usava o termo "chulos") são de facto enganadas, mas pelo próprio jose. Que põe na boca de outros o que outros não disseram. E que assim vai abrindo caminho ao desvirtuamento do que se debate.

    Desta forma desonesta e com aspectos ...

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  5. De facto, o problema dos populismos é que ou não dispõem de um plano ou se dispõem não o mostram. Confiem em nós e tudo correrá bem. E isso é assim com todos, de Direita ou de Esquerda.

    Aliás, o uso da designação 'populista' é algo injusto para com o movimento original, nascido nos EUA. Aqui, trata-se mesmo é de demagogia...

    Ficamos pois à espera, João Rodrigues, que os Economistas Soberanistas expliquem como sair do Euro sem estourar com a nossa Economia (Pacheco Pereira tem pelo menos a justificação de que não é Economista nem defende qualquer espécie de radicalismo).

    É que soberania, João Rodrigues é do povo todo, não apenas da classe operária, sabe, embora você não reconheça isso aos outros, nem sequer de facto à classe operária, cuja soberania é para ser exercida pela vanguarda medíocre do costume...

    Mas numa coisa PP tem toda a razão. A suposta autonomia de BE e PCP/PEV não existe. Se existisse, há muito que você próprio teria exigido a demissão deste Governo. Só que isso, nem pensar...

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  6. Ah

    Parece que há justificação diferente para os economistas e para os não-economistas. O que seria de nós sem termos “economistas” do género do defendido por Jaime Santos. Assim do género de Cavaco ou quiçá do Passos Coelho? Quem sabe se do Guterres ou mesmo de Sócrates?

    E já se reparou no suspiro de alívio de JS pelo facto de JPP não ser radicalista? JS avança tão demagogicamente que nem se atreve a criticar Pacheco Pereira. Para não passar ainda para a direita, ainda mais para a direita?

    Também parece que é necessário oferecer um dicionário ao JS para este aprender a destrinçar populismos da demagogia.

    Infelizmente a demagogia ( pode ser que JS vá aprendendo a destrinçar a coisa) continua. E continua atribuindo palavras e ideias a outros, que são falsos. O tema sobre a classe operária é tudo pura treta. Pode-se dizer que mais do que demagogia é mentira. Pode. E deve. Mas revela todo um processo de actuação. Miserável

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  7. Uma nota final.

    Não se percebe o que a autonomia do PC e do BE têm a ver com os escritos de Joäo Rodrigues. Espanta sempre esta pesporrencia anti-democratica de umas ditas elites que andam sempre com a democracia na boca e depois se comportam desta forma vergonhosa, perante quem serenamente aponta para outro lado que não o do seu peculiar caminho único

    Não dão jeito vozes que desmintam os interesses da submissão rasteira. E tudo serve para tentar calar tais vozes?

    JS, o senhor não tem um pouco de vergonha?

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  8. Aquela fatalidade evocada,de não haver melhor, quando se fala de democracia (?!),

    não bate certo com o autismo dos "representantes",

    quando se fala...da VONTADE da MAIORIA!

    Daí,
    essas tretas da etimologia e significado dos populismos/nacionalismos,

    referidos pelos instalados da "coisa", como de cátedra se tratasse!

    Depois, não há volta a dar...

    Trumps...Dutertes...Bolsonaros...e o que ainda há-de vir.

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  9. Pacheco Pereira ao chamar os bois pelos nomes, ocupante a uma potência estrangeira que impõe restrições políticas orçamentais ao exercício da soberania, e ocupado a um país cujos governantes apenas aplicam as normas impostas pela potência imperialista, Pacheco Pereira, dizíamos, está apenas a ser brutalmente explícito.

    Por outro lado alienação é a palavra que define a situação em que o ocupado pela não das suas elites compradoras se alheia dos seus próprios interesses para servir a potência ocupante.

    Jaime Santos é o exemplo chapado do colaboracionista pétainista de que fala Pacheco Pereira.
    Isto só para que não reste sombra de dúvida.

    E reafirmo, que numa perspectiva de recuperação da soberania nacional faz falta um partido soberanista de direita, não porque fosse a minha primeira escolha, mas pela simples razão de que os partidos fora do leque de apoio ao Tratado Orçamental, o BE e o BCP são incapazes de gerar um consenso suficientemente alargado que conduza à libertação monetária.
    S.T.

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  10. Errata
    Onde se lê:

    "Por outro lado alienação é a palavra que define a situação em que o ocupado pela não das suas elites compradoras se alheia dos seus próprios interesses para servir a potência ocupante."

    Deve ler-se:

    "Por outro lado alienação é a palavra que define a situação em que o ocupado pela mão das suas elites compradoras se alheia dos seus próprios interesses para servir a potência ocupante."
    S.T.

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  11. Apenas como nota de referência, note-se como o discurso de Pedro Mota Soares exprime o medo, ou até mesmo o pavor de que algumas bases do CDS-PP possam reviver um passado de eurocépticismo.

    "O dirigente centrista usou esta "colagem" para pedir que a direita não se deixe "contaminar" pelas ideias de extrema-direita que estão a progredir na Europa e no mundo. "O futuro da direita na Europa é ser fiel aos seus valores"."

    O artigo do DN é este:

    https://www.dn.pt/poder/interior/vice-presidente-do-cds-compara-pcp-e-be-a-le-pen-e-salvini-9992790.html

    O que fica claro é a submissão dos dirigentes do CDS-PP aos interesses da potência ocupante e o indisfarçável pavor de que algumas gentes de direita descubram que a submissão não é uma inevitabilidade e que o soberanismo defende os interesses nacionais e é transversal ao espectro tradicional esquerda-direita.

    Será que já houve algumas movimentações à direita de que ainda não nos chegaram os ecos?

    S.T.

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  12. Entretanto na frente italiana...

    "...European Commissioner Jean-Claude Juncker hinted as much Tuesday morning when he told Italian reporters that accepting the budget would be tantamount to inviting an widespread revolt against the EU..."

    Tradução automática:

    "...O comissário europeu Jean-Claude Juncker insinuou na terça-feira de manhã quando disse aos repórteres italianos que aceitar o orçamento seria o mesmo que convidar a uma revolta generalizada contra a UE..."

    https://www.zerohedge.com/news/2018-10-16/europes-juncker-eu-cannot-survive-without-italy

    Eu apenas acrescentaria: Tudo no bom caminho e no horário certo! "So far, so good!"

    Todas estas movimentações me fazem irresistivelmente lembrar aquele sketch publicitário de antigamente, em que uma senhora chega ao balcão de uma tasca e pergunta se não têm pastelinhos de bacalhau.
    "Pastéis de bacalhau não temos." Responde-lhe o taberneiro.
    "Olhe, já que não tem pastelinhos de bacalhau, sirva-me uma amarguinha..."

    Como é óbvio, todas estas movimentações visam colocar a EU e a Alemanha numa posição impossível e insustentável e engendrar a ruptura por iniciativa das potências do núcleo da EU, que serão assim forçadas a assumir o odioso das suas políticas.

    S.T.

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  13. .... Curioso, Pacheco Pereira a apoiar os partidos que permitiram ao PS governar, comentando negativamente as limitações do O.E. 2019, proposto pelo Governo...
    Nunca lhe conheci nada com a mesma tendência enquanto a direita - e sobretudo, enquanto o seu venerado amigo Cavaco Silva - "governou (?)" este país...!

    ....Mudam-se os tempos, mudam-se as análises....
    Esperemos que as esquerdas, que permitiram esta única e exemplar forma de alternativa de maioria parlamentar, não se deixem seduzir pelos que agora tão compreensivos são das suas queixas...

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  14. Ó Guia, mas alguém acredita que o actual governo é um "governo de esquerda"?
    Só alguns papalvos do PSD e do CDS (mais uns "perdidos" do PS) é que acreditam nessa treta, ou fazem de conta que acreditam.
    Mais que não seja, para fingir que existe oposição, sei lá, não fosse o povo perceber facilmente que um Parlamento é algo dispensável num protectorado.

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  15. Pertencer ao clube dos ricos tem custos pesados...

    A maioria dos portugueses não se importa de pagar esses custos desde que tenha um carro com menos de 20 anos e sensores de estacionamento, desde que tenha uma casa com vidros duplos e elevador e desde que tenha poder económico para ainda por cima ter TVCabo e androide com internet.É car0? Eu sei, isto é, não quero saber !

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