sábado, 30 de julho de 2016

A raiz do problema

Peço-vos que percam dez minutos para ouvir este excerto de comunicação do general Wesley Clark, com quase nove anos. Bem sei que o seu passado não é isento de pedras no caminho. Mas vale a pena ouvi-lo.

Fala - nas suas palavras - de um golpe de Estado nos Estados Unidos em 2001 que determinou uma nova política externa dos EUA - que estava já em preparação há anos -, uma nova política não discutida pelas instituições democráticas ou pelo povo desse país. Uma nova política externa para ganhar posições "antes do surgimento de uma nova superpotência" e que passava por derrubar regimes políticos em sete países do Médio Oriente, enquanto a Rússia não pudesse fazer alguma coisa. Tem alguma ideia de quais seriam esses sete países?


Sobre o mesmo assunto, mas mais sobre o grupo Estado Islâmico, veja-se esta entrevista muito dura da Aljazeera. É preciso um maior paciência, porque dura 47 minutos. Mas vejam-se apenas os primeiros minutos (a partir de 7'40'') desta conversa com Michael T. Flynn, ex-chefe da DIA (Defense Intelligence Agency), o serviço norte-americano especializado em defesa e inteligência militar.

E depois ouçam outra vez os apelos à guerra, feitos pelos ridículos - e que se dizem socialistas - Hollande e Valls. Voltem a ouvir as emissões de 24 horas feitas pelas principais televisões do mundo após cada atentado ou ataque, e sintam o ridículo da recente decisão do jornal Le Monde - de um jornal! - de passar a não mencionar o nome daqueles que praticam actos de terror, como forma de não os promover. Sintam aquele aperto no estômago sobre as expressões usadas pela comunicação social: "Subitamente radicalizou-se".

A informação sobre as guerras passou há muito a ser censurada e autocensurada. Quase só vemos as imagens das bombas a vir do céu, limpas. Mas raramente vemos o seu efeito. Apenas escombros. Como uma bomba de neutrões: podem não existir (banidas pelo cinismo de matar vidas e preservar a propriedade), mas mediaticamente reinam. As televisões cortam as imagens do terror vindo do céu porque são ataques à privacidade, por ser um acto de sensacionalismo. Passamos a poder ver as guerras à hora de jantar e nas séries televisivas. Isso não evita que passemos a ser intervenientes desta guerra a partir do momento que ela nos bate à porta, em atentados, em refugiados, que empurram as nossas sociedades para viveiros explosivos da extrema-direita. Mas estaremos a combater os verdadeiros causadores do mal?

Vejam o vídeo.

E depois pensem na urgência de discutir políticas. E na impotência que sentirão para as poder mudar. Depois leiam o que se passou com o FMI, a troika e os resgates recentes a países como Grécia, Portugal, Irlanda, Chipre... e vejam que esta a centralização das decisões e a consequente opacidade de quem as toma fazem parte deste sistema que gostaríamos que fosse uma democracia.

16 comentários:

  1. Vou ganhar coragem para ver todos esses horrores anunciados, e entretanto agradecia que me municiasse com uma definição de democracia que parasse as bombas no Médio Oriente.

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  2. Definição de democracia que parasse as bombas?

    Ó das 13 e 29. Mas até onde vai a demagogia (ou coisa pior)? Não há nenhuma definição, conceito, discurso, texto, palavreado alegre, tonto, fúnebre ou realista que faça parar guerras, sobretudo quando por trás destas guerras está a pata do imperialismo e o desejo do saque.

    Quando Salazar mandou mobilizar para Angola e em força estava a dar início a uma guerra colonial execrável. Que durou treze anos. Nem definição de democracia dum dos lados nem do fascismo do outro lado fez parar a guerra.

    O que a fez tombar foi a luta dos povos, do português e dos colonizados. E de todos os homens de bem deste planeta.

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  3. Mais um mais do que oportuno vídeo que vergasta o imperialismo e os seus jogos de sombra.

    E mais umas boas reflexões de João Ramos de Almeida a tal propósito, relacionando-as com os tempos que hoje vivemos.

    Nesciamente ainda se fala de "democracia". Mais uma contribuição politicamente correcta e completamente oca como bomba de fumo para distrair o pagode.

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  4. Caro José,
    Primeiro passo: parar imediatamente com as bombas. Segundo passo: fechar as torneiras de financiamento a quem - suponho que se saiba a quem - está por detrás da ameaça imediata. Terceiro passo: fechar o fornecimento de armamento - suponho que se saiba quais e para quem vai - para aquela zona do planeta (e depois para outros). Quarto passo: cessar-fogo imediato e convocação de uma conferência internacional com todos os envolvidos, que prosseguisse o fim único: cumprimentos das deliberações assumidas pelas Nações Unidas para aquela zona do globo, sem stress.

    Poderíamos continuar. Mas creio que sabe muito bem que as bombas não se combatem com bombas.

    Quanto à definição de democracia, sabe tão bem como eu qual o sentido: plena transparência dos actos políticos e discussão das questões que realmente importam a cada país e aos seus povos. Tão simples, não é?

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  5. Aterrador...aos poucos a população do ocidente vai tomando a consciência que não vive em democracia e que as guerras não passam de mentiras para perpetuar o poder dos poderosos. Há um cem numero de criminosos de guerra que se passeiam por este mundo como altas individualidades, sem qualquer despudor, estas pessoas são símbolos da impunidade, são a prova inequívoca de um mundo injusto e cruel. Todas as guerras sejam elas económicas, financeiras ou militares servem o mesmo propósito.

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  6. Vejo - já por aqui não passo há uns bons tempos - que os mesmos do costume continuam agarrados, com unhas e dentes, a um mundo que já acabou ou está prestes a acabar. A questão - e é essa a questão capital - é se esse mundo vai para o caixote de lixo da História sozinho ou se com ele leva uns quantos milhões de cadáveres de crianças, de mulheres e de homens. Podem chamar-me pessimista (estou-me borrifando para o adjectivo, pois "optimistas" são todos aqueles senhores e senhoras que se agarram à velha ordem neocolonialista e neoimperialista e ao lucro imenso que ela traz), mas penso que a coisa não vai nascer sem um parto extremamente sangrento. Basta olhar para quem se perfila para ser o próximo presidente dos EUA, basta olhar para a galeria de imbecis que nos governa nesta UE da treta que mais não é do que uma semicolónia da única nação verdadeiramente "imprescindível" existente à face da terra.
    Enquanto a coisa andou pelo massacre de Estados pigmeus e pela sua redução a escombros coetâneos da Idade da Pedra, tudo correu pelo melhor à nação do "destino manifesto" e aos seus rafeiros europeus de estimação. Foi assim que, sem problemas de maior, a Jugoslávia, o Panamá, o Iraque e a Líbia pagaram com rios de sangue a democracia que agora desfrutam... A coisa começou a descambar (calma, estamos só no começo de uma longa e sangrenta procissão...) quando a infinita "hubris" do Império o fez "pivotar" para a Ásia e colocar na mira do seu democrático fogo a RPC. Qualquer indivíduo com dois dedos de testa deveria ter em consideração um facto histórico: nem nos anoa 50, na Guerra da Coreia, a "nação indispensável" conseguiu vencer os chineses, como não venceu os seus aliados vietnamitas vinte anos depois. Se nós, Europeus, queremos embarcar numa aventura que trará a nossa infinita desgraça (como, aparentemente, já embarcámos, de alma e coração, na supina estupidez de provocar com vara curta o irascível urso Russo), essa é que é a verdadeira questão. Assim sendo, deixem-me perguntar aos meus caros/caras companheiros/companheiras de blogue a pergunta vitalmente crucial: estão vossas excelências dispostos a ver morrer os vossos filhos e filhas numa guerra pela manutenção do Império e da sua excepcionalidade ou querem vossas senhorias que vivam, eles e elas, num Mundo onde as nações valham todas o mesmo e escolham os seus caminhos políticos e económicos como muito bem aprouver aos seus povos?

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  7. Levei para minha página FB
    Peço desculpa pelo abuso

    Manuel Veiga

    https://www.facebook.com/manuelveiga0

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  8. Caro anónimo de 30 de Julho de 2016 às 23:13:

    Um prazer relê-lo. E mais uma vez uma síntese admirável.

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  9. Faltava aqui ainda que o quadro se completasse com mensagens messiânicas: «...num Mundo onde as nações valham todas o mesmo e escolham os seus caminhos políticos e económicos como muito bem aprouver aos seus povos?».
    O Quinto Império ressuscitado!

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  10. A sua incomensurável ignorância, caríssimo Herr José, fá-lo pôr na boca dos outros aquilo que lhe vai no fundo da alma, tentando fazer desses outros os espelhos da sua mentalidade bafienta e inexoravelmente defunta. "Quinto Império"?!!! Soubesse Vossa Excelência do que fala e entenderia que o bom do Padre António Vieira era só mais um - como poderia deixar de o ser? - imperialista inveterado; um imperialista que, dadas as vascas da agonia em que se encontrava na altura o 1º Império Português (ou melhor, o que dele restava) e a enorme desvantagem militar e económica do Luso Reino face aos seus concorrentes europeus no afã da rapina, saiu-se com essa ideia videirinha de um Império do Espírito Cristão consubstanciado no herdeiro, revisto e melhorado, dos impérios Assírio, Persa, Grego e Romano: o "Quinto Império", pois claro. Só que, não tendo o bom padre cão e lançando-se ele à imperial atividade cinegética com um cristianíssimo gato, a coisa não deu: o bichano estava irremediavelmente manco e desdentado e lá se foram as terras das especiarias. Ficou o Brasil e os seus apêndices fornecedores de escravos. Quando o forrobodó imperial acabou (sacanas dos indianos e dos pretos, não é, Herr José?), já a coisa ia no apodrecido 3º Império Colonial Português e as ideias de comunhão cristã há muito que tinham sido afogadas num oceano de sangue, guerra, esbulho e iniquidade.
    Pela resenha histórica podemos nós ver que sempre houve quem vendendo aos papalvos perfeições filantrópicas a haver no Céu o que pretendia era amanhar-se neste mundanal vale de lágrimas com a terra, a riqueza, o suor e o sangue dos outros. Só que os outros depressa se fartaram das pretensões civilizacionais de ontem como hoje também rapidamente se fartam cada vez mais das pretensões humanistas e democráticas da "Cidade de Deus" em cima da colina, desse "Sexto Império" do grande país que nasceu do genocídio sistemático e do tráfico negreiro - os EUA - e dos seus multinacionais rafeiros de estimação.
    A história dos impérios dá-nos lições de proveito e exemplo, caríssimo Herr José. Soubesse Vossa Excelência proveitosamente aprender com o exemplo da História e tiraria as devidas conclusões do facto de nunca ter o poderosíssimo Império Romano conquistado o Reino dos Partos nem, tão pouco, ter conseguido projetar o seu imenso poder militar muito para lá do Reno depois do humilhante esmagamento das todo-poderosas legiões de César Augusto às mãos de Hermínio. Soa-lhe a algo familiar que nos dias de hoje se passe, Herr José? A mim vêm-me à memória os nomes de dois países: a Federação Russa e a República Popular da China.
    Passe Vossa Excelência muitíssimo bem, Herr José, e aproveite a calmaria do Verão para visionar os derradeiros episódios dessa série tão ao seu gosto que já está no ar há uns sangrentos e malfadados setenta anos: "God bless America and may He let us fuck all the rest of the world".São os últimos que poderá visionar, pois a casa produtora do televisivo artiguelho está prestes a chocar de frente com a dura realidade do desmoronar do Império.

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  11. Pior que ignorante é o presumido sábio que sabe tanto de Vieira como de Partos.

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  12. Pior que a ignorância e a presunção de quem quer que seja é a vasta e profunda indigência mental que Vossa Excelência passeia, com orgulho e desde há muito, por este blogue. E acontece que, se for Vossa Senhoria o termo de comparação, qualquer alma de Deus com dois neurónios a funcionar é, com ou sem Vieira e Partos, um génio. Entendeu ou quer que eu lhe explique mais alguma coisinha sobre o mar de coisas que Vossa Excelência não sabe, nunca soube e jamais saberá?

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  13. Temos por aqui um assumido sábio, o que ainda que sendo falso é melhor notícia que os ignorantes assumidos que por aqui pululam.
    Tão sábio é o bicho que para além de cães e gatos não perdoa a Vieira ter perturbado o doce viver dos índios retirando da sua sábia comtemplação a humanidade em estado primitivo.
    É sem dúvida espírito sublime, afastado da dúvida e seguro de um discernimento que lhe vem de um qualquer misterioso dote alvar.

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  14. Jose afadiga-se irritado e crispado.

    Chamaram-no de ignorante e indigente mental. Acertaram na mouche.

    Mas deixaram-no perturbado , qual noiva esganada à espera do seu dote.

    E agora vem, sem desmentir uma única palavra da lição dada, falar na sorte dos índios e de outras patacoadas próprias dum colonialista confesso.
    Ressabiamento pela independência das ex-colónias?
    Regurgitações pela sua conhecida propensão ao darwinismo social que professa ?

    Mas não deixa de ser sublime este seu tremor das bochechas, este seu agitar do ventre perante a "dúvida" .Um amante confessado pesporrento e malcriado da via austeritária, pregando as virtudes do saque e da dívida, esmolando pelos offshores protectores da gatunagem que defende, está agora convertido em ansioso e submissso servo da dúvida e da insegurança do discernimento.

    Pobre tipo das 14 e 55. O que faz quando confrontado com a sua indigência mental. Dá o dito pelo não dito e o não dito pelo dito e esquece por momentos a sua agenda dos coitadinhos de onde agora se quer safar.

    Uma verdadeira delícia.

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  15. Definição de democracia que parasse as bombas no Médio Oriente? Israel.

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  16. Israel? Parar bombas?

    Deve estar a brincar. Um dos maiores exportadores de bombas e de atrocidades?

    E de bombas proibidas pela legislação internacional?

    Muitos exemplos há. Imensos. Dois apenas em meios de comunicação insuspeitos:

    "Médicos denunciam que Israel testa armas proibidas em Gaza" ( 16 de Julho de 2014)

    "Pela primeira vez desde o início da operação militar israelita em Gaza, e após as reiteradas queixas de organizações de direitos humanos, fontes militares reconheceram nesta segunda-feira a um jornal israelita que foram utilizadas bombas de fósforo branco na região palestina".

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