quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jogos com fronteiras

“As medidas de segurança vão aumentar os gastos públicos, mas a segurança é mais importante do que as regras orçamentais da União Europeia”, afirmou Hollande, numa declaração de guerra, depois de ter decretado o estado de excepção. Tudo é mais importante do que regras estúpidas.

Como sublinha Jacques Sapir, a propósito do estado de excepção decretado por Hollande, estamos perante uma afirmação soberanista com amplas ramificações: soberano é quem define a regra e sobretudo a sua excepção, quem define e redefine as prioridades que valem para um certo território e para uma certa população num certo contexto. Isto não quer dizer que concordemos com as prioridades definidas, claro. Quer dizer que cabe a cada comunidade política, idealmente democrática, aos seus legítimos representantes, defini-las. A crise revela o valor da soberania.

Entretanto, fiquem com outra oportuna e complementar reflexão deste economista político sobre o papel das fronteiras: “Falar do regresso das fronteiras implica presumir que temos vivido num mundo sem fronteiras, o que não é evidentemente verdade. A questão está mal formulada. A verdadeira questão não é a de saber se estamos a favor ou contra as fronteiras, mas para que é que estas servem. A fronteira é, na realidade, a condição da democracia. É ela que permite associar decisão colectiva e responsabilidade.”

A decisão colectiva democrática sobre quem incluir e as razões para o fazer, sobre a gestão política democrática da integração internacional, sobre os fluxos económicos a controlar, pressupõe fronteiras. A utopia de um mundo sem fronteiras, sem Estados soberanos, é uma distopia custosa, que só serve para fomentar, na prática, o poder dos Estados mais fortes e o poder de um certo capital: perguntem às vítimas dos “estatocídios” cometidos pelo imperialismo, perguntem aos que são prejudicados pelo euro-imperialismo, pelas crises sucessivas causadas pela liberdade de circulação internacional de capitais, dada a abdicação de tantos países nesta área.

2 comentários:

  1. Como assim…não há fronteiras?
    Então a segurança obliterou-se?
    Andaram estas trempes dezenas de anos a cogitar guerras de petróleo, de água e de tangerinas, para agora um simples magrebino da Moita, um árabe ou asiático do Barreiro furar o esquema…
    As voltas que a hipocrisia da´…Antes cruzavam o Mediterrâneo para destruir Jerusalém em nome da salvação eterna. Para la´ chegar escavacavam tudo que encontravam pelo caminho, veja-se a antiga Bizâncio.
    Agora, pela mesma salvação eterna, Paris esta´ a arder com a Líbia a ferro e fogo, a Síria – Arbela e Palmira a saque e o Iraque da velha Mesopotâmia num inferno dantesco…
    E não estamos nos tempos de Gibal Tarik ou dos Cruzados ou mesmo de Sir Lawrence das arabias. Vá la´, vá la´… Pelos vistos ainda podemos dar-nos por felizes.
    De Adelino Silva

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  2. Pragmatismo: além de ser uma proclamação soberanista por parte da França, lá se vai o cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

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