domingo, 20 de setembro de 2015

Linhas vermelhas


Pesada derrota para as forças anti-memorando na Grécia, em particular para a unidade popular, que não terá ultrapassado o limiar dos 3%. Isto significa que os comunistas gregos serão a única força a contestar, no parlamento e pela esquerda, as privatizações e a austeridade, o que diz bem da tragédia grega, por agora com uma apatia mais generalizada. Hollande já enviou felicitações e tudo. Significa isto que os militantes que formaram a unidade popular em condições muito difíceis fizeram mal em romper com o syriza? Não creio. Mesmo em política há coisas que têm de ser feitas, linhas vermelhas que não se passam, independentemente das consequências no curto prazo. Não se desiste.

17 comentários:

  1. Mais vale só... que mal acompanhado!

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  2. Os Gregos querem permanecer no Euro, sabendo de antemão e de forma clara o que isso implica. Felizmente têm a possibilidade, ainda assim, de evitar a aplicação do memorando pela casta corrupta que governou a Grécia. Parece pouco mas não é. E é isso que o Syriza agora oferece, para além do compromisso de gerir o memorando com uma maior sensibilidade social e de o tentar mudar "por dentro" na medida do possível. Repito: do possível.
    Trabalho (muito) difícil para o Syriza. Já a Unidade Popular pode agora tirar férias calmamente: manteve-se puro, não ultrapassou as suas linhas vermelhas e isso vale mais do que afastar a casta corrupta que governou a Grécia. Os Gregos já perceberam: para o mais difícil não podem contar com a Unidade Popular, coitados, que preferem a corrupção e o nepotismo a violentar a sua consciência. Voltam portanto ao comodismo do discurso teórico na Universidades.

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  3. A grande questão (portuguesa) que o resultado das eleições gregas responde é esta:

    Podem os partidos políticos que defendem a saída do euro e o fim da austeridade governar de forma pragmática dentro do euro e debaixo de um memorando austeritário?

    Aparentemente, não. Parece contra-natura. Mas a resposta Grega vem afinal dizer que sim (pelo menos na parte da austeridade). Um partido que não se limita ao protesto e não se acantona em princípios 'puros' ('linhas vermelhas') pode ainda assim corresponder ao desejo de uma parte significativa do eleitorado, que procura uma governação diferente ainda que dentro de constrangimentos que aceita. E o 'diferente', apesar dos constrangimentos, pode fazer a diferença!
    No caso português, o BE tem (teve?) tudo para cumprir esse papel. Tem (teve?) quadros altamente qualificados e, sem abandonar os seus princípios, podia assumir uma atitude pragmática (que no fundo corresponde aos desejos do eleitorado, note-se!) e reconhecer que nem tudo o que defende é o que o seu eleitorado pretende. Ainda assim ficaria muito para fazer.

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  4. A grande lição grega do Syriza é a do pragmatismo: a austeridade é má, mas pior seria se fosse aplicada por um governo de direita que "vá além da Troika". Assim, não concordando com o memorando, assume a tarefa ingrata de o aplicar (porque negociou e assinou o memorando - na Grécia não há dúvidas sobre quem pediu e negociou o 3º resgate), não desistindo de lutar contra ele e de o modificar.

    Mas a lição de pragmatismo não se fica por aí: para tirar as castas do poder (um objectivo maior) não se coibiu de fazer uma coligação com um partido de direita nacionalista (imagine-se a quantidade de linhas programáticas com que não concorda!).
    Em Portugal o BE nem com o PS se coliga, tal é a falta de pragmatismo e a pureza das "linhas vermelhas". É a estratégia do 'ou tudo ou nada', 'mais vale manter a pureza ideológica do que conseguir alguns avanços'.

    A esquerda académica, a pura, que teoriza e escreve livros sobre 'linhas vermelhas' e fantasia com a saída do euro que a grande maioria do eleitorado não deseja, está de parabéns!

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  5. Já repararam no projecto miserabilista dito Europeu?!
    Tratados bruxuleantes, protocolos enigmáticos, memorandos tosquiadores dos povos e etc. e tal…
    Não repararam?
    Ou não quiseram?
    Bem…podia dizer que o problema e´ vosso…no entanto, o problema esta´ no sistema que não escolhemos, mas que fizemos tudo para o ignorar! As demandas políticas actuais , servem para mexer qualquer coisa para deixar tudo na mesma. E´ o caso das eleições…
    Cada vez que falamos do coletivo humano, o núcleo reacionário europeu, aqueles que se viciaram no dinheiro e proceros do capital, tremem! Va´ la´ Siryza…
    Vimos, ouvimos e lemos nesta campanha eleitoral portuguesa que todos os partidos mentem e que querem fazer do povo o seu bode expiatório…
    O eleitorado deixa-se levar pela comunicação social do Balsemão, que por acaso, só poderia ser por acaso, o fundador do PPD/PSD.
    O eleitorado tem medo de perder o posto de trabalho.
    O eleitorado esqueceu as suas origens etc. etc. etc.
    Se os partidos políticos e económicos não tem mais para facultar ao povo uma escolha pro próprio povo…então demitam-se. Ou o povo os demitira! O povo, me parece, esta´ farto de alimentar funcionários partidários, que mais não fazem que alimentar-se a si próprios. Estamos fartos de alimentar comentadores políticos, comentadores de futebol e de mais alguma coisa, como canais de TV. E´ tempo de dizer basta! Nisto que vemos, quem terá razão, quem vai votar ou quem não vai votar? De Adelino Silva

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  6. "Significa isto que os militantes que formaram a unidade popular em condições muito difíceis fizeram mal em romper com o syriza? Não creio. Mesmo em política há coisas que têm de ser feitas, linhas vermelhas que não se passam, independentemente das consequências no curto prazo. Não se desiste."

    EXACTAMENTE

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  7. Vejam lá ao que chegamos:

    Os "maus", são os que não se conformam.

    O paleio do "mal menor"... é a seiva dos instalados!

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  8. Tsipras merecia ter perdido as eleições se olharmos para o simples facto de que não cumpriu nada do que prometeu. Mas julgo que a população premiou a sua tenacidade, apesar de ter tergiversado ao longo de todo este processo. E premiou também o bom senso de, perante o abismo, não ter dado o passo em frente. Goste-se ou não, o homem é um sobrevivente e pertence à casta dos Pragmáticos. Fazer um pouco é melhor do que não fazer nada. Já quando à Unidade Popular pode regressar, como bem diz o Anónimo acima, ao discurso teórico das Universidades e à pureza dos seus princípios. Se fosse só por eles, a Direita poderia dormir descansada...

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  9. A sugestão da semelhança entre a realidade política/social da Grécia e Portugal é de uma curteza de vistas impressionante, ou talvez algo mais.

    Então o BE já tem 36%? Pode ser que se aproxime mas, ainda não chegou lá.



    As linhas vermelhas por cá sublinham frases do tipo, e quem as passar fica agarrado e comprometido com o desastre e descomprometido com a maioria das pessoas:

    “o PS vai cortar 1660 milhões de euros em pensões e reformas”;

    “o PS de Seguro assinou com o PSD/CDS, de primeira sem pestanejar, o Tratado Orçamental (austeridade em pó) e, o Costa vai aplicá-lo com demonstrações de elevado QI para tuga ver”;

    “o PS propõe alterações na Segurança Social que são a forma enviesada do seu desmantelamento e pensões mais baixas no futuro” e “o PSD/CDS querem acordo com o PS para rebentar e privatizar a Segurança Social e este não diz que não”;

    “o PS rejeita a reestruturação da dívida mesmo que a sua insustentabilidade signifique um garrote permanente, ou um novo resgate, assim de repente, com o PS novamente a chamar e a assinar se ‘preciso’ for”.

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  10. O ensinamento que podemos tirar, cá em Portugal, da votação grega, será o de fazer pensar os líricos que se têm em muita conta, mais as suas elaboradas teorias, mas que não é acompanhada pela opinião da grande maioria dos que votam!! Onde é que trinta deputados achavam que tinham legitimidade ou razoabilidade , para tomarem as posições siryzicas e demagógicas que tomavam, se nem um deputado conseguiram eleger.
    Faz-me lembrar os crentes demagogicos e ortodoxos, que continuam a seguir as regras lógicas a 2 mil anos, mas que são prova de irracionalidade seguidas hoje.

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  11. Há uma epidemia nacional que percebo pouco, a das linhas vermelhas!!! Ultrapassáveis ou não? Quem decide quando e onde ultrapassar? A PVT?

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  12. "Tsipras merecia ter perdido as eleições se olharmos para o simples facto de que não cumpriu nada do que prometeu" mas ...

    Afinal um governo pode não cumprir nada do que prometeu e ainda assim merecer ganhar eleições. É bom saber.

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  13. "O paleio do "mal menor"... é a seiva dos instalados!"

    Não é isso que a realidade mostra. Até este momento, em Portugal, a "seiva dos instalados" tem sido a falta de pragmatismo e o excesso de 'linhas vermelhas' da oposição à esquerda do PS. Como o Syriza provou na Grécia: aí sim 'os instalados' perderam as eleições!! Mas nada disso interessa aos 'puros' que se dão até ao luxo de ignorar os factos. Continuemos portanto no mesmo caminho: " Não se desiste."

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  14. Caro anónimo das 09:00, Eu não teria votado em Tsipras se fosse Grego, que fique claro. Fiquei contente em Janeiro com a sua eleição, mas tal como Krugman, sobrestimei a competência dos Syrizistas (a sua falta de coerência preocupa-me menos, devo dizê-lo). Mas o que eu disse também se aplica a Portugal, e verdade, sobretudo se olharmos para as ultimas sondagens. O eleitorado tem memoria curta e eu pergunto-me de entre as intenções de votos que as ultimas sondagens dão a Direita (40%), quantas dessas pessoas e que estiveram presentes na manifestação de Setembro de 2012 ou quantos e que ainda se lembram da 'demissão irrevogável' que deixou o Pais a beira do abismo? P.S. Ja agora, em relação ao outro post, a Direita não precisa de 50% para chegar a Maioria Absoluta de Mandatos na AR, lembram-se das Legislativas de 2002? Foram ganhas com menos votos do que a Esquerda. E agora, com a coligação, se calhar só precisam de 45%... Acautelem-se com a ideia de que vai necessariamente haver uma Maioria de Esquerda no Parlamento. O método de Hondt tem destas coisas...

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  15. Acho curioso,
    ninguém ligar á razão de haver

    MAIS 2 MILHÕES de votos...p´rá Abstenção!

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  16. Caro Jaime Santos,

    O que afirma, com o que eu concordo totalmente, é que o não cumprimento de promessas eleitorais não pode ser um critério de censura automática de um partido/governo. Há que reconhecer que a realidade é cada vez mais volátil e eu acho preferível que os partidos que governam se adaptem à mudança do que se agarrem às promessas eleitorais e ignorem a realidade/circunstâncias que mudam. A solução melhor seria que os partidos se deixassem de promessas e compromissos taxativos nas campanhas eleitorais (o que seria logo alvo de críticas).
    Mas há que ser coerentes. Essa premissa aplica-se tanto ao governo do Syriza como a qualquer outro governo. Certo?

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