Parece que um dia perguntaram a Margaret Thatcher qual era a sua grande herança e ela respondeu o novo trabalhismo. Um dia podem perguntar o mesmo a Passos Coelho e ele poderá imodestamente responder o PS de António Costa e agora também de Mário Centeno, o autor da "visão de mercado" para as relações laborais. Na realidade, este PS é muito mais o produto do euro: da agenda para mais uma década perdida a um cenário sem perturbadoras reestruturações da dívida, com algumas hipotéticas melhorias marginais, mas que servem sobretudo para embrulhar medidas bem gravosas. A política social-liberal é cada vez mais a arte do enquadramento, de uma certa manipulação, termo menos neutro, mas provavelmente mais realista para caracterizar quem diz querer acabar com a austeridade neste contexto estrutural.
Em linha com a especialidade do PS desde a paradigmática reforma de 2007 - o corte de pensões futuras, promovendo os mercados financeiros -, a descida da TSU para os trabalhadores é paga pelos próprios, já que o PS propõe um alívio temporário compensado por cortes nas pensões futuras. De forma reveladora, o PS embrulha este aumento míope do rendimento na retórica da "liberdade de escolha", com impactos mais do que duvidosos na dinamização do mercado interno. A redução da TSU paga pelas empresas, por sua vez, é a grande vitória de Passos, já que o PS reconhece implicitamente as virtudes do incentivo da desvalorização interna. Entretanto, o PS diz estar preocupado com a "sustentabilidade" da segurança social. Reduzir as contribuições nunca ajuda. Ao mesmo tempo, dá para o sempre revelador peditório demográfico, acenando no fundo com formas ditas complementares, de mercado, para pensões cada vez mais inseguras.
A "visão de mercado" das relações laborais manifesta-se também na aposta numa concreta liberalização furtiva dos despedimentos individuais, do género despeça já e espere que o trabalhador proteste em tribunal muito depois, que hipocritamente garante não aumentar o poder patronal. Em troca, oferece vagos acenos com a limitação dos contratos a prazo rumo à distopia do contrato único. Sobre a negociação colectiva pouco ou nada, ou seja, o mesmo dos últimos anos. O diagnóstico para esta prescrição é retintamente neoliberal, colocando trabalhadores contra trabalhadores em nome de uma suposta segmentação que é o alfa e ómega da desigualdade neste campo para Mário Centeno e para o PS (e não a real e cada vez mais profunda assimetria entre trabalhadores e patrões).
É claro que há uma aposta na política de mínimos no campo de um Estado social cada vez mais para pobres e também por isso cada vez mais pobre no futuro. Prova disso é a perversa, mesmo que vaga, subsidiação pública dos baixos salários, uma proposta original de Milton Friedman, toda uma visão para colocar a comunidade a subsidiar patrões medíocres. Todo um incentivo, como estes neoclássicos de mercado gostam de dizer.
Que dizer disto tudo, e de algumas medidas positivas aqui e ali, caso do simbólico imposto sucessório, ideal para colocar na lapela em Abril? Tudo pesado, trata-se do mais longo e rigoroso relatório de abandono da social-democracia jamais escrito no país, em linha com a aposta num euro que estará associado, também se depender da vontade do PS, a duas décadas perdidas para o país, mas ganhas para as privatizações que o PS no fundo prosseguirá.
O que estava na agenda para uma década perdida está então aqui, mas com o "rigor" de cenários macroeconómicos pouco esmiuçados no documento e que, de qualquer forma, pouco dependem de um país que quase só tem instrumentos perversos ao seu dispor no contexto do euro. O campo do social-liberalismo está cada vez mais ocupado, mas o do socialismo está definitivamente cada vez mais vazio.
Por uma vez, de acordo no essencial da análise.
ResponderEliminarFalta só concluir que o socialismo já era - por mérito próprio - e este social-liberalismo tem as roupagens que fazem do Estado o pertenso protector de trabalhadores para quem o estatuto de coitadinhos é não só pressuposto como promovido.
Aos patrões sugerem-se novas aptidões para prolongadas conversações/ justificações antes que lhes caia em cima a sentença do tribunal e são de novo convidados a esconder as fortunas. Tudo naturalmente temperado com diálogo e consensos no pressuposto de que os treteiros ocupem o Poder..
Este post do João Rodrigues io que tem a mais em adjectivos tem de menos em fundamentação.
ResponderEliminarJá percebemos que o João Rodrigues é da tribo dos puros dos autênticos e verdadeiros. Logo os hereges que ousem pensar diferente são despachados com ferretes e condenados à fogueira, ponto. Fim da discussão.
É o debate a que os "detentores da verdade" se permitem porque não dá para mais.
Parafraseando Engels "a teoria deve justificar-se perante o julgamento da Razão ou deixar de existir". ESte post segundo Engels, é um nado morto.
Com o título do seu artigo imaginei “ Passos de costas” mas e´ bom demais…de qualquer forma o PS e António Costa não iludem ninguém. Estes, tal como o PSD e P. Coelho sao só mais um poucochinho a´ esquerda do CDS. Alias o CDS e´ ate´ um poucochinho mais social-
ResponderEliminarNos meus 76 anos de vida, em termos sociais políticos e económicos só tive vida fértil, produtiva e alegre no período 1974/1982. Diguem la´ o que quiserem!
Com ou sem liberalismo, socialismo de rosto humano e ou sovietismo o homem quer se livre e alegre de viver!
Utopia dirão uns. Néscio dirão outros! E´ verdade!
Prefiro assim. Rendido não!
Com o título do seu artigo imaginei “ Passos de costas” mas e´ bom demais…de qualquer forma o PS e António Costa não iludem ninguém. Estes, tal como o PSD e P. Coelho sao só mais um poucochinho a´ esquerda do CDS. Alias o CDS e´ ate´ um poucochinho mais social-
ResponderEliminarNos meus 76 anos de vida, em termos sociais políticos e económicos só tive vida fértil, produtiva e alegre no período 1974/1982. Diguem la´ o que quiserem!
Com ou sem liberalismo, socialismo de rosto humano e ou sovietismo o homem quer se livre e alegre de viver!
Utopia dirão uns. Néscio dirão outros! E´ verdade!
Prefiro assim. Rendido não!
de o catraio com respeito
Um novo regime de cessação do contrato "por via conciliatória"em condições "equiparadas às do despedimento colectivo",taxa social única em função dos despedimentos uma trapalhada jurídica e política-o ps quer ganhar ao psd com os piores trunfos do social liberalismo...
ResponderEliminarUm bom artigo de João Rodrigues que tem a coragem de chamar o nome aos bois para crispação de uns tantos. Pena que haja quem cite o Anti-Duhring de Engels, demonstrando que Engels continua a ser utilizado de forma desonesta.
ResponderEliminarO que vemos aqui é que os axiomas neoliberais não têm ultrapassado o julgamento da razão. O que temos aqui é que o PS tem-se assumido de facto como neoliberal. O que vemos aqui é que Engels zurziria sem piedade a traição assumida pelo PS ( e pelos partidos social-democratas em geral) perante o socialismo e perante o mundo do trabalho
Invertem-se assim as coisas. E quem denuncia que afinal a razão não sustenta a colecção de mimos saídos desta trapalhada do PS leva ainda por cima com citações de quem sempre pugnou pelo socialismo... e pela razão
Ora citemos Engels a propósito deste ruído de latão apresentado nestas quase centena de páginas:
" Ruído de latão em poesia, em filosofia, em política, em
economia, em história; latão na cátedra dos professores e na tribuna; em toda parte, um ruído de latão que
aspira à superioridade e à profundeza do pensamento".
Ruído de latão...thatcher sabia do que falava
De
Quando ao primeiro comentário lastima-se a nota mas... o "socialismo não era". Isso queria o neoliberalismo e o social-liberalismo, na terminologia utilizada pelo autor do post. Logo, isso queria jose ,ávido defensor do neoliberalismo mais extremista, vivendo paredes meias com a direita-extrema.
ResponderEliminarPercebe-se que para quem assume tal posição, mesmo o social-liberalismo lhe caia mal no goto. A prova é aquela defesa quase animalesca do patronato e dos grandes interesses económicos, escondidos por vezes de forma ridícula atrás das Micas de ocasião , usadas e utilizadas como outros usam as prostitutas.
Tais processos deveriam servir de alerta aos que desgraçadamente parem ( do verbo parir) tais programas,comprometidos até ao tutano com os mercados e com esta UE fraudulenta,anti-democrática e saqueadora
De
O José Moreira vem aqui atacar não sei para quê.
ResponderEliminarNão existem aqui nenhuns autênticos e verdadeiros, existem opiniões. E qual é a sua?
João Rodrigues, o seu colega de blog escreveu um post que se aplica tanto a si como à pessoa do PSD.
ResponderEliminarAquilo que escreve é mais um reflexo pavloviano, um exercício de desonestidade intelectual de um economista de citações que vive para a vaidade de alimentar um puritanismo artificial e absolutamente estéril.
Acabei de ler excertos do dito relatório e para falar a verdade acho que constam lá medidas sensatas e compatíveis com os valores da Social-democracia ou Socialismo Reformista: a restrição dos contratos a termo a situações de substituição de trabalhadores, o aumento das indeminizações por despedimento, a aplicação de um imposto suplementar sobre grandes heranças, o aumento dos abonos familiares, etc. Quanto à aplicação do complemento salarial para trabalhadores a auferirem rendimentos baixos, até acho que faz sentido, com a condição de ser acompanhada por um aumento progressivo do salário mínimo nacional. Admito que em alguns campos há uma certa aproximação ao Social-liberalismo, no entanto acho que ainda estamos bem longe de um Social Liberalismo à la Schroeder.
ResponderEliminarParece que se trata da apresentação de um documento apenas para marcar presença.A situação na Europa actualmente é de tal forma complexa que não é possível fazer previsões.
ResponderEliminarQuem tiver duvidas é ver os indicadores macroeconómicos da UE e mais concretamente da zona Euro.Nós não sabemos que modelos económicos ou econmétricos foram feitos para se chegar aqueles valores apresentados pelos tais peritos. É lícito perguntar como se chegou áqueles numeros , quando a Europa parece estar perante um novo 1929 em câmara lenta.
Num país de capitalismo fraco e que está quase desindustrializado
como será possível inverter a tendência ?
Por questões de natureza ideológica e por imposição do exterior não se aposta no investimento publico quando o nvestimento privado também não aparece.
Parece que enquanto não partirmos deste principio básico não chegamos a lado nenhum : A adesão ao Euro deu origem a uma enorme fuga de capitais e de cérebros.
Salvo melhor opinião o anónimo das 23 e 39 é intrinsecamente desonesto.
ResponderEliminarEste anónimo diz que um colega de blog do João Rodrigues escreveu um texto que tanto se pode aplicar a este como à pessoa do PSD
Manifestamente falso e daí também a catalogação referida acima.
O que diz o Correia do PSD? "As propostas estão lá e não as conheço, não tive oportunidade de ler o documento..."
Ora o artigo de JR prova que este fez exactamente o contrário do que fez o psd de turno.
Porque ao contrário deste, pode-se ter a certeza que JR leu e estudou e conhece bem as propostas do PS.
Daí que pese o esforçado esforço do referido anónimo em apoiar este exercício do PS, pode-se com toda a legitimidade dizer que tal esforço é um reflexo pavloviano, um exercício de desonestidade intelectual de um anónimo que vive não só para a vaidade de alimentar uma corrente neoliberal artificial e absolutamente estéril, como também de seguir os passos do passos e companhia.
Assim com esta política económica não vão lá. Nem com tais entorses à verdade dos factos
De
Não considerando o seu
ResponderEliminar" semelhante como igual ",
as espertezas saloias,
são muito expeditas a depreciar OS POUCOS (!) que,
têm a ousadia de colocar a opinião dos instalados,
em causa
– “ pimenta no cu dos outros… “.
A “representação”,
limita-se a subverter o interesse e vontade da maioria.
O que não falta são acólitos lambe-botas, a reforçar as muralhas do SISTEMA.
UMA PESSOA, UM VOTO.
…também na DECISÃO!
Eu sei…
é uma chatice!