«O comissário francês Pierre Moscovici terá apresentado ao ministro grego das Finanças um texto de compromisso, cujo conteúdo foi agora divulgado. Trata-se de um documento muito bem construído em que é feita menção à difícil situação económico-social que a Grécia atravessa, reconhecimento que sempre pareceu, a muitos observadores, essencial para que Atenas pudesse vir a aceitar outras medidas. (...) Subitamente, o presidente do Eurogrupo fez retirar de discussão o documento que Moscovici apresentara a Varoufakis (...). O que se terá passado nos corredores de Bruxelas? Que sombra imperativa se terá projetado nas negociações? A história o dirá um dia.»
Francisco Seixas da Costa, O mistério de Bruxelas
«O objetivo era procurar "terreno comum" entre dois programas, mas o Eurogrupo resolveu insistir que não há alternativa a pedir a extensão do atual programa da troika (que é inaceitável para os gregos, e que foi vetado em eleições) e só permitir negociar a sua flexibilização em algumas medidas. Não é um problema de semântica, de fraseologia, mas de substância. Os irlandeses impuseram uma saída limpa quando entenderam, os portugas até saltaram um exame e fecharam antecipadamente o programa. Mas aos gregos não lhes é permitido encerrar este capítulo e partir para um novo acordo. Resumo: apesar do cinismo, sobretudo dos socialistas do Eurogrupo, o objetivo é Grexit ou guerra civil na Grécia.»
Jorge Nascimento Rodrigues (facebook)
«O meu problema não é só o facto de esta não ser a Europa que eu quero. O meu problema é que esta é precisamente a Europa que eu não quero. (...) Não há e nunca houve nenhuma negociação, nenhuma flexibilidade, nenhuma abertura, nenhum desejo de resolver o problema. A proposta do Eurogrupo é o programa de austeridade tal como foi aceite pelo governo grego derrotado. Nesta Europa, nenhuma democracia será perdoada. (...) Merkel e Schäuble estão furibundos com a estupidez de alguns europeus que ainda não perceberam quem manda na Europa, que ainda não perceberam que o tempo das democracias morreu com a diluição dos estados na União Europeia, que a União Europeia não é uma democracia nem se prepara para o ser, que todos os estados-membros são apenas os membros de uma cabeça chamada Alemanha e que todos eles estão presos na armadilha de tratados que não são autorizados a referendar e de dívidas que não podem pagar.»
José Vítor Malheiros (facebook)
«Ao dizer hoje que "sinto muito pelos gregos, que elegeram um governo que se porta de forma irresponsável", Schauble ultrapassou uma barreira de agressividade e impunidade que terá consequências. A Alemanha passou a ser isto. Assim, ninguém – o Eurogrupo, o governo alemão, os outros governos – deixou qualquer dúvida: ou a Grécia se verga ou sai do euro. (...) As autoridades europeias colocaram-se por isso numa posição em que não admitem nada senão a cedência. (...) Não havendo acordo, começa a contagem decrescente para o "Armagedeão", nos termos de Varoufakis, e será o BCE o instrumento da cólera desta divindade: no dia em que cortar o crédito de liquidez aos bancos gregos, a Grécia tem de emitir moeda para salvar o país. E esse dia poderá vir em breve. (...) O ultimato à Grécia é o culminar do desastre da austeridade. Mas é também o início de tempos muitos mais perigosos.»
Francisco Louçã, O ultimato à Grécia e já nada será como dantes
«Um acordo razoável com a Grécia seria a última hipótese de redenção do euro, a moeda anormal. Mas a Europa continua cega e alucinada, esquecendo-se de que a seguir ao Syriza quem ganhará as eleições em Atenas serão os neonazis da Aurora Dourada - e que a Marine Le Pen será a próxima presidente francesa. As razões históricas da chegada de Hitler ao poder estão estudadas e deviam ensinar alguma coisa aos europeus, se algum líder europeu quisesse aprender alguma coisa. O estado de negação das instituições europeias há-de ser objecto de estudo dos historiadores do fim do século XXI.»
Ana Sá Lopes (facebook)
«Em democracia, ouve-se quem sabe. Todos sabem isto. Incluindo Schaubel, o todo-poderoso ministro das Finanças. Um político de décadas, experiente, que nada sabe de economia. Obviamente. O que surpreende é haver tanta gente a pensar que o que está a ser imposto à Grécia decorre de uma análise económica, ainda por cima melhor do que qualquer outra. Não, não decorre. Decorre da política. Quem desenhou o euro fez um péssimo trabalho de economista. Sabemos hoje. [Em Economia], ao contrário do futuro, é fácil avaliar o passado. Construíram uma armadilha. Passos está lá preso, como os demais colegas partidários por essa Europa fora. E Costa, como os demais socialistas europeus, está a olhar para a armadilha, sem coragem para fazer o que é necessário.»
Pedro Lains, A armadilha de Schaubel
Apraz-me declarar que, no essencial, não discordo de qualquer dos autores!
ResponderEliminarSerá possível que tão clarividentes criaturas tenham, enfim, entendido dúas questões fundamentais:
- Democracia política não é fazer o que o povo quer, é dar a escolher ao povo entre propostas políticas viáveis.
- As provocações de esquerda acirram as reacções da direita, direita que é a mais temida pelos democratas e que farão o necessário para a conter, ainda que castigando brutalmente a Grécia governada por provocadores de esquerda.
Por toda esta situação se vê que quando se fala "da Europa" é preciso especificar de que Europa se fala.
ResponderEliminarAnónimo, se esteve atento, o Governo Grego já disse que aceitava 70% das medidas previstas no memorando. Só não concorda nem aceitará manter as que considera recessivas.
ResponderEliminarTanta solidariedade só me parece pouco viável porque se baseia em duas questões:1- Baseia-se no dinheiro dos alemães e no seu superavit.
ResponderEliminar2. Baseia-se em declarações deselegantes, infelizes e não saĩdas duma negociação mas duma visão unilateral de quem será o beneficiario.
superavit alemão à custa dos consumidores(grandes malandros né?)do sul europeu e outros,além do lucro sobre os juros que recebem e do que não pagam nos mercados...gostava de vos ver a defender a Alemanha merkeliana quando os "panzers" vos estivessem a esmagar.
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