Em tempos de crise, a reeleição à primeira volta de um chefe de Estado que já efectuou dois mandatos não acontece muitas vezes. A de Evo Morales, com 61% dos votos, deveria, em consequência, ter sido mais sublinhada. Até porque a sua façanha eleitoral acontece num país, a Bolívia, que viu sucederem-se cinco presidentes entre 2001 e 2005. E porque ela coroa uma redução de 25% da pobreza, um aumento de 87% do salário mínimo real, a diminuição da idade da reforma e um crescimento superior a 5% ao ano, tudo isto desde 2006. Se, como nos dizem, importa reencantar a política, por que não fazer com que sejam conhecidas estas boas notícias? Será porque a sua explicação se prende com reformas progressistas e tem como actores regimes de esquerda?
(...)
Desde que abriu às multinacionais o sector da energia que Peña Nieto é adulado pela imprensa económica. A França atribuiu-lhe a grande cruz da Legião de Honra. Irão algum dia os seus admiradores interpelá-lo sobre a quase impunidade de que beneficiam no seu país as forças policiais e os corruptos representantes eleitos? Talvez os grandes jornais ocidentais, os intelectuais mediáticos, Washington, Madrid e Paris não saibam que questões colocar ao presidente mexicano. Imaginem então as perguntas que espontaneamente teriam surgido nos seus cérebros se o massacre dos [43] estudantes tivesse acontecido no Equador, em Cuba ou na Venezuela. Ou nessa Bolívia sobre a qual se diz baixinho que acaba justamente de reeleger o presidente Morales.
Serge Halimi, Sabia que na Bolívia...?, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Novembro de 2014.
Ou de como numa dúzia de linhas se esboça um perfil da "informação" que nos é servida, da manipulação a que somos submetidos e da enorme dualidade de critérios que pesa sobre as notícias que nos impingem.
ResponderEliminar...servindo de aperitivo para a leitura do Monde Diplomatique.
O mundo gira.E poucos são os que
ousam e conseguem ultrapassar a imensa barragem mediática que nos é servida quotidianamente.
De