“Com o advento do sufrágio universal por volta de 1900, os antigos ‘partidos de notáveis’ foram substituídos por organizações de massas com estruturas fortes e hierárquicas, as quais uniam os eleitores com base em experiências sociais partilhadas e em esperanças colectivas relativamente ao que o partido iria conseguir uma vez chegado ao governo.
O papel do partido consistia em traduzir os interesses dos seus eleitores ao nível das políticas públicas, em recrutar e promover líderes políticos capazes de exercer poder executivo, bem como em competir pelo controlo do executivo através de eleições.
O partido de massas clássico ‘deu voz às pessoas’, ao mesmo tempo que garantia que as instituições do governo tinham de prestar contas pela sua actuação. A partir de meados dos anos 1960, os partidos tradicionais foram-se transformando em “sacos de gatos”, procurando recolher votos muito além das suas principais bases eleitorais e dando prioridade à conquista do governo face a qualquer sentido de integridade na representação dos seus eleitores.
A partir de meados dos anos 1980 e 1990, ganha força um modelo de ‘governo de cartel’, caracterizada pela ausência de oposição efectiva – situação que prevalece quando não há diferenças significativas entre os protagonistas partidários, por muito vigorosamente que possam competir entre si.
Nas últimas décadas do século XX assistiu-se, assim, à retirada gradual, mas inexorável, dos partidos da esfera da sociedade civil para a esfera do governo e do Estado. Esta ‘retirada das elites’ foi acompanhada pelo afastamento dos cidadãos, com quedas contínuas nas taxas de participação nas eleições, década após década, e com o fim do envolvimento popular na vida política. O processo implicou a desvalorização da ideia de 'partido no terreno’ em favor da ideia de ‘o partido no parlamento’ ou ‘partido no governo’, com os líderes a privilegiarem o sentido de responsabilidade face à capacidade de responder aos anseios populares.
À medida que os partidos se tornam cada vez mais iguais uns aos outros, afastam-se cada vez mais dos seus eleitores. Ao deixarmos de ter oposição deixamos de ter voz; e perdendo voz, perdemos o controlo dos nossos próprios sistemas politicos. O que resta é uma classe governante.”
[Este texto é a tradução adaptada de um excerto da recensão escrita por Wolfgang Streek (o autor deste livro) sobre o último livro do falecido cientista político Peter Mair, publicada na New Left Review de Julho-Agosto de 2014. Agradeço ao HS ter-me chamado a atenção para este texto, que bem merece ser lido com atenção]
"...O que resta é uma classe governante.” "
ResponderEliminarQuando comparadas,
as CARRAÇAS até parecem...
"meninos do coro"!
Só ESMAGADAS !!!
largam o hospedeiro.
O texto é claro sobre o que se passa ao nível da superesrutura política mas diz pouco quanto aos acontecimentos que condicionaram a base eleitoral - a estratificação de classes a dissolver-se numa prosperidade partilhada, a implosão de polos ideilógicos, o progresso tecnológico,a globalização...em rota para o governo dos melhores assim regressem valores pessoais à política.
ResponderEliminarVale a pena ler o texto original publicado na NLR(mesmo tratando-se apenas de uma recensão e não do livro em si), pois apresenta uma boa sistematização das causas dos fenómenos que descreve.
ResponderEliminar"a estratificação de classes a dissolver-se numa prosperidade partilhada"
ResponderEliminarO jose mudou-se para a noruega, certamente.
Não. O sr jose não se mudou para a Noruega. O sr jose omite dados sessenciais. Como o da distribuição da riqueza, como a apropriação da riqueza,como os numeros da pobreza.
ResponderEliminarDe
Se não fora a irracionalidade militante, seria evidente que liberdade e progresso exigem propriedade e a existência de poupança privada.
ResponderEliminarPor muita raiva que faça aos doridos do mal de inveja, há sempre poupança que conduz à riqueza e não raro é esta quem conduz ao investimento e ao progresso.
Mas o carinho da esquerda é todo para quem depende do Estado, não para quem vive do que é seu.
Pede-se desculpa ao sr jose mas é preciso que a bota tenha algo a ver com a perdigota.
ResponderEliminarOu seja, com o tema do post e com o que se diz a tal propósito.
Pelo que a poupança privada e a propriedade e os doridos e o mal e a inveja estão provavelmente na cartilha neoliberal ideológica do sr jose.mas não trazem nada nem rebatem o que foi dito e que me atrevo a repetir:
"Não. O sr jose não se mudou para a Noruega. O sr jose omite dados sessenciais. Como o da distribuição da riqueza, como a apropriação da riqueza,como os numeros da pobreza.
De