Há quem defenda que a melhor solução para a presente crise é
iniciar um caminho de federalização da política orçamental: orçamento da UE
financiado por um imposto europeu, despesa pública da UE em gastos sociais e
investimento nos países menos desenvolvidos, transferência para a UE das
dívidas nacionais acima de 60% do PIB, etc.
Deixando de lado, por agora, o incontornável problema
político – é imaginável não fazer eleições para legitimar quem vai gerir a
política orçamental? – temos ainda o problema dos custos deste federalismo
orçamental.
À semelhança do que acontece no interior de cada país, o que
seria gasto nos países mais pobres viria da receita fiscal recolhida nos países
mais ricos. Segundo um estudo do banco francês Natixis, as transferências anuais
para a Grécia, Itália, Espanha e Portugal representariam cerca de 12% do PIB da
Alemanha, durante muitos anos. Entretanto, o economista francês Jacques Sapir
estimou essas transferências da Alemanha em cerca de 8% do PIB. Qualquer que
seja o número, não é imaginável que a Alemanha aceite pagar uma factura dessa ordem de grandeza.
Ao mesmo tempo, os países assistidos por estas
transferências perderiam ainda mais autonomia orçamental. Ficariam como regiões
autónomas, situação de que já não estão longe com o visto prévio do Semestre
Europeu, e com as metas do Tratado Orçamental, acompanhadas de multa. Sem moeda
e sem orçamento, ou seja, sem soberania. Também sem instrumentos de política
económica para qualquer estratégia de desenvolvimento. O livre funcionamento
dos mercados trataria de nós, como já fez desde o final dos anos 90 do século
passado. Adeus Portugal, Estado-nação com quase nove séculos de independência.
Porém, este caminho do “federalismo orçamental” não vai
acontecer. Aos alemães ocidentais já lhes basta suportar os custos permanentes
com a integração do Leste. Não estão dispostos a pagar mais, agora para “os
preguiçosos” do Sul. Aliás, no dia em que a tempestade especulativa voltar a
abater-se sobre a dívida da periferia – e esse dia vai chegar, por muito que
faça o BCE – o Mecanismo Europeu de Estabilidade terá de aumentar
significativamente o seu capital para, mais uma vez, resgatar estes países. Mas
a participação da Alemanha terá de ser aprovada no Bundestag, o que se afigura
difícil.
De notar que, depois de ter financiado o défice comercial da
periferia Sul da zona euro, a Alemanha está agora voltada para o exterior
(países do Leste, China, etc.). Apenas lhe interessa o euro para evitar a
valorização da moeda própria que resultaria dos seus enormes excedentes
comerciais. Assim, os défices dos outros países com o exterior da zona euro
sustentam a competitividade da Alemanha no mercado global.
Em suma, o federalismo orçamental não é viável, nem
económica nem politicamente. Só resta a continuação do empobrecimento, no
quadro da presente germanização da UE, ou o fim do euro (“controlado”, havendo
negociação e acordo, OU “turbulento”, por saída unilateral de um país). Qual é
a sua escolha? Se é que tem escolha.
Portugal sem soberania? O problema para mim não é a falta de soberania, mas a irresponsabilidade dos dirigentes que a autonomia a mais, para fazer disparates lhes dá, com as medidas de correção a terem que ser implementadas pelos responsaveis de fora. O que se devia fazer era mutualizar a governação e não a divida.
ResponderEliminarA minha escolha é...SOBERANIA.
ResponderEliminarA democracia representativa
não tem
- NÃO PODE TER ! -
legitimidade,
para abdicar de
SOBERANIA.
Pefeitamente de acordo caro ALeixo.
ResponderEliminarUm bom texto este de Jorge Bateira
Quanto à "autonomia a mais" faz-se parecer os casos de protectorados coloniais , em que as "elites" discutiam a dose de autonomia a atribuir às ditas, sem nunca,nunca lhes dar mais do que o necessário para continuarem a chupar o sangue fresco da manada.
Já quanto à "irresponsabilidade dos dirigentes".Sejamos francos. Qual irresponsabilidade? Os gpovernos "locais" fazem o seu papel, o papel que lhes foi atribuído e do qual recebem a sua devida recompensa.
"O funcionamento da UE reflete os interesses das oligarquias dos diversos países e suas clientelas com vistas à acrescida exploração dos trabalhadores. Nos países dependentes a oligarquia caracteriza-se por perder as referências nacionais (veja-se onde têm as sedes os seus grupos económicos e onde colocam os lucros). Tornam-se "correias de transmissão" dos centros imperialistas para conservar um certo domínio político e económico no país e partilhar os seus recursos. Uma "correia de transmissão" sem a qual a ação externa seria ineficaz ou não rentável. Os governos ao seu serviço falam então em "ganhar a confiança dos mercados". Como se as oligarquias não se estabelecessem na antítese do teoricamente livre mercado liberal".
Vaz de Carvalho
De
Que tal se considerasse-mos a possibilidade de copiar a Alemanha - trabalhando, reintroduzindo o racional na política, cultivando o sentimento nacional de 'ser capaz'?
ResponderEliminarE os treteiros, perguntar-se-à?
Sem dúvida o principal obstáculo a que, se outra solução não for encontrada, a miséria do escudo soberano saberá dar resposta...
Sim, copiemos a Alemanha, os seus sindicatos fortes, a sua cultura de participação dos trabalhadores na gestão das empresas, o respeito pelo seu tribunal constitucional, o su respeito pelos horários de saída dos trabalhadores e a sua cultura de empresa de responsabilização. Sim, copiemos a Alemanha!
ResponderEliminarO fim do euro não necessita de ser turbulento, se fôr iniciado pelos países (Alemanha, etc) que têm excedente comercial. Esses países deveriam fazer-nos o favor de abandonar o euro, criando uma nova moeda só para eles. A valorização dessa nova moeda face ao euro (no qual permaneceriam os países com défice comercial) automaticamente equilibraria as coisas.
ResponderEliminarÉ um bocado falacioso agregar os dados da França com os da Espanha, etc. Porque a balança comercial francesa esteve tradicionalmente equilibada e só recentemente começou a registar défice, enquanto que a balança comercial espanhola (tal como a portuguesa) tradicionalmente registava défices mas recentemente equilibrou-se. Não se deve agregar países que de facto foram, e continuam a ser, diferentes.
ResponderEliminar"Só resta a continuação do empobrecimento, no quadro da presente germanização da UE, ou o fim do euro (“controlado”, havendo negociação e acordo, OU “turbulento”, por saída unilateral de um país)."
ResponderEliminarEstas 3 alternativas não são apresentadas de forma neutra. Enquanto a manutenção do presente quadro é automaticamente associada a empobrecimento, nada é dito quanto às 2 outras alternativas. Será que com isto quer dizer que às 2 outras alternativas corresponde enriquecimento?
Aqui reside uma grande falácia nesta discussão. Qualquer que seja a alternativa escolhida vai sempre depender de nós o enriquecimento ou o empobrecimento. Qualquer das alternativas estabelece um enquadramento externo que condiciona a nossa acção (ao sair do euro, por exemplo, continuamos sujeitos ao condicionamento do financiamento externo). Ou seja. Há efectivamente alternativas mas não podemos levianamente associar automaticamente umas a empobrecimento e outras a enriquecimento. Isso é criar falsas expectativas que, caso se opte pelas 2 outras alternativas, poderão inclusivamente contribuir para o seu insucesso.
portugal deve sair do euro, e deve sair do euro já enquanto o preço do petróleo está a baixar. Deve equilibrar os direitos e deveres entre quem trabalha e quem emprega (banindo a praga das erh ou consolidando o sector e entregando-o à cgtp!) mas como somos governados por vendilhões míopes vai ser preciso a economia alemã implodir mas depois vai ser tarde
ResponderEliminarÀ atenção do anónimo das 12:26.
ResponderEliminarNuma consultoria numa empresa flamenga, tive necessidade de propôr uma reunião pós-laboral de uma meia-hora. O chefe da equipa envolvida reagiu com o pior dos humores.
No fim da reunião deu-me boleia, ofereceu-me uma cerveja no caminho e conversou descontraídamente.
Perguntei-lhe: se não tinhas pressa porquê aquela reacção? 'Para mim tempo extra é sinal de ineficiência, e isso irrita-me!'
Que diferença para direitos e garantias....
A atençao do Luis Lavoura.
ResponderEliminarA balança comercial francesa está a afundar desde 2004...
Copiar a alemanha?
ResponderEliminarEssa frase faz-me lembrar com a devida distância claro,frases de calibre idêntico proferidas pelos germanófilos da década de trinta do século passado, em que paralelamente à sua admiração pelo nazismo nascente na alemanha e pelos seus "feitos económicos" pugnavam pelo seguir a via (pelo copianço) do gigante que se reerguia
Diga-se em abono da verdade que esta ânsia de copiar a alemanha era partilhada por uma boa parte da trupe fascista que governava Portugal na altura.
Quanto ao "sentimento nacional" essa só mesmo como piada triste. Há dias alguém esconjurava as questões da soberania nacional com a "globalzação e o século XXI". Coisas que denotam a forma como o neoliberalismo vende também países (e se necessário for pais, mães,filhas e filhos).
É tudo uma questão de lucro.Mesmo que seja necessária alguma hipocrisia
Uma questão fica sem resposta.É sobre os treteiros que o sr jose inquire.
Mas aí francamente não sei.Com este seu governo, em que se afundam em casos de corrupção e em que se afundam na forma como traem o país e os trabalhadores não se acredita que tenham a dignidade de responder Mas pode-se tentar junto do passos, do portas, da cristas ou de crato ou de outro treteiro assim.
Mas há mais
ResponderEliminarA questão do trabalho citada pelo sr jose.
Os portugueses que têm trabalho trabalham e muito.São é pessimamente pagos e em muitos casos nem o salário consegue tirar os trabalhadores de situações de miséria.Acho que é inútil colocar aqui os links que o dmeonstram.
Porque há muitos portugueses que não têm emprego.Estão desempregados.Em que a responsabilidade por esta situação foi fruto directo das políticas da troika.E em que vozes fanáticas que clamam por mais desemprego( por exemplo quando falam da função publica) permitem ver que quando se fala na questão do trabalho o que se oculta é outra coisa. É que a distribuição dos rendimentos continue a cair sobretudo para o capital.Como o que se está a passar. E também aqui os dados e os factos são demasiado poderosos para poderem ser contraditados pelos neoliberais governmentais.
De
A estória edificante do amigo do sr jose. o tal chefe de equipa que anda de mau humor para uns mas que bebe cervejas com o jose é ,com todo o respeito, uma treta. Tem no entanto uma virtude.Mostrar como os medíocres auditores, consultores ou outros treteiros se comportam como agentes sórdidos e de como as irritações pessoais se soprepõem às análises ponderadas.
ResponderEliminarO cúmulo da estoria é que estes pequenos trastes são dados depois como exemplos.Exemplares exemplos de exemplos exemplares
De