Existem basicamente três narrativas sobre a crise do euro que circulam amplamente: a Republicana, a alemã e a verdade.
Paul Krugman
Krugman, “o Nobel contra a austeridade”, foi homenageado pelas três universidades públicas lisboetas. O problema, como Krugman assinala no poste de onde a citação foi tirada, é que a destruição do Estado social nada faz pela performance exportadora e a austeridade só melhora, temporariamente, digo eu, a situação na balança corrente na medida em que a recessão assim induzida diminui a procura por importações, quebrando os salários através do desemprego. Um processo deflacionário, a tal desvalorização interna, lento e destrutivo e, em última instância, como Krugman reconhece, ineficaz, ainda para mais tendo em conta que a deflação interage com a dívida, cujo fardo aumenta, o ingrediente fundamental da economia depressão, e que todo o ajustamento teria de ser feito, neste contexto europeu, pelos países periféricos dependentes. Isto para já não falar no que acontece quando todos prosseguem a mesma politica.
Se a Economia serve para alguma coisa é para evitar estes encadeamentos, estes exercícios de engenharia política votados ao fracasso, já que nenhuma economia realmente existente consegue efectuar o ajustamento que está a ser imposto às periferias. A única proposta decente de Krugman para evitar um triste destino tem a escala da moeda, claro, e passa pela acção do BCE, pelo impulso deliberado à procura puxada pela recuperação salarial nos países com superávites na balança corrente, alcançados em parte devido à custa da sua perversa compressão, no quadro de um centro menos obcecado com a inflação e de uma Zona Euro dotada de mecanismos de transferências.
Que Krugman possa ainda parecer de alguma forma heterodoxo diz mais sobre os tempos sombrios que ainda atravessamos, depois de décadas de hegemonia do fundamentalismo de mercado, do que sobre Krugman, um economista da chamada síntese neoclássica à Samuelson, a síntese que integrou algumas teses de Keynes, e que sobre Portugal se ficou, no início de 2011, por uma meia verdade, uma formulação equívoca sobre a evolução salarial, infelizmente repetida, e que até o Banco de Portugal não parece aceitar. Um dos riscos no meio disto é ver-se os salários apenas como um custo. De resto, os salários reais em Portugal estiveram, em média, alinhados com a produtividade, o mínimo num país com salários tão baixos, até a austeridade começar, sendo que a média engana num país tão desigual. O problema europeu nesta área foi que na Alemanha os salários reais diminuíram, ficando assim muito distantes da evolução, medíocre, da produtividade.
A política assente na quebra salarial na periferia, a tal desvalorização interna unilateral, requer perversas políticas “alemãs” e “republicanas”, transformando a periferia numa ruína, quando a existir ajustamento em matéria salarial, repito, este deve ser sempre um ajustamento em alta no centro depois de anos de perda de peso dos salários no rendimento nacional. É claro que neste euro, feito para comprimir salários e para destruir os Estados sociais, toda a recomendável coordenação progressista em matéria salarial ou outra, parece ser uma utopia.
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