Agora que é claro para a maioria que a austeridade falhou totalmente, apetece-me relembrar algumas posições públicas colectivas que por aqui e por outros lados têm sido dinamizadas nos últimos anos precisamente contra a ideologia económica da austeridade e os seus efeitos práticos, traduzidos em taxas de desemprego sem precedentes e na tentativa de tornar permanente uma opção de política económica tão desastrosa quanto evitável.
Assim, em final de Junho de 2009, um grupo de economistas e outros cientistas sociais portugueses publicou um manifesto pelo emprego, onde se concluía que o governo português deveria “exigir uma resposta muito mais coordenada por parte da União Europeia e dar mostras de disponibilidade para participar no esforço colectivo. Isto vale tanto para as políticas destinadas a debelar a crise como para o esforço de regulação dos fluxos económicos que é imprescindível para que ela não se repita. Precisamos de mais Europa e menos passividade no combate à crise.” A falácia da composição europeia, associada a uma resposta à crise assente na promoção generalizada das exportações através da compressão interna, foi então denunciada numa frase: “é preciso não esquecer que as exportações de uns são sempre importações de outros.”.
Infelizmente, a passividade nacional e europeia deu lugar a uma aposta na austeridade necessariamente recessiva e destruidora de emprego e a comunicação social, em especial a televisão, tratou de assegurar o quase monopólio dos economistas que a apoiaram e ainda a apoiam e que, até às eleições, por incompetência ou interesse político, insistiam em ignorar a dimensão europeia da crise. Por isso mesmo, em Outubro de 2010, uma petição, subscrita por mais de mil cidadãos em menos de uma semana, apelava ao pluralismo no debate político-económico: “Por ignorância, preguiça, hábito, desconsideração deliberada ou manifesto servilismo, os canais televisivos têm sistematicamente tratado a análise da crise económica como se o intenso debate quanto aos fundamentos doutrinários e às opções políticas que estão em jogo pura e simplesmente não existisse.”
Em Novembro de 2010, um grupo de economistas nacionais apresentava a petição pública “Para uma Nova Economia”, com muitas propostas de estímulo e reforma estrutural progressista com escala europeia, convergentes com as de um manifesto francês de economistas aterrados lançado em português em Março de 2011.
Finalmente, já em 2011, aquando dos apelos à união nacional pela intervenção externa, apelou-se a outras convergências, lembrando os desastrosos resultados de intervenções anteriores orientadas pelos interesses do capital financeiro. Agora que Portugal e a Europa estão numa crise cada vez mais profunda, julgo que já não restam grandes dúvidas que é preciso acabar com a economia de austeridade com escala europeia.
Neste blogue e noutros espaços, desde 2009 que muitos dizem que isso pode ser feito por cima, a solução europeísta partilhada por estas posições públicas, ou por baixo, dados os bloqueios políticos a nível europeu, que impedem qualquer correcção das assimetrias identificadas há muito neste euro disfuncional. O roteiro dessas posições – a auditoria e reestruturação como arma das periferias para forçar clarificações urgentes e que devem ser enfrentadas sem tabus – fica para um próximo poste.
Uma pergunta: mas o tipo de políticas defendidas nesse manifesto não foram seguidas por Sócrates desde 2009? O que aconteceu ao emprego e ao crescimento desde lá?
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