sexta-feira, 14 de outubro de 2011
O Governo Coveiro
Se alguma dúvida ainda restasse, agora se dissipara: a ofensiva de classe deste governo não tem limites e arrastará para o fundo todas e quaisquer perspectivas de futuro da economia e sociedade portuguesas.
Para que fique mais uma vez bem claro, este Governo é culpado de duas opções criminosas: 1) procurar resolver o problema da dívida pública, num contexto de recessão internacional, através da contracção da despesa; e 2) fazer recair sobre os trabalhadores, classes populares e serviços públicos todos os custos do selvático “ajustamento” estrutural a que estamos a ser sujeitos.
Procurar resolver o problema da dívida através da contracção da despesa mais não faz do que somar recessão à recessão e desemprego ao desemprego. Até mesmo algumas vozes conservadoras mais esclarecidas já reconheceram que o problema da dívida só se resolve com crescimento económico – o mesmo crescimento que estas políticas impedem. Alguém consegue imaginar que uma economia em que 15% a 20% dos trabalhadores estarão em breve desempregados – precisamente em consequência destas políticas – conseguirá produzir a riqueza necessária ao cumprimento da sua dívida? Ainda alguém – mesmo entre os apaniguados dos partidos do poder e os fantoches que passam por seus intelectuais orgânicos – consegue seriamente acreditar que esta austeridade selvagem levará ao crescimento, à criação de emprego e à sustentabilidade da dívida?
O segundo crime pelo qual este Governo será julgado no futuro é o da destruição social que as suas opções distributivas estão a causar e irão aprofundar. Portugal tem dos mais elevados níveis de desigualdade de rendimento da Europa. Não, não estamos todos no mesmo barco. Não, não temos estado a viver acima das nossas possibilidades. Alguns têm estado a viver acima das possibilidades de outros – e o Governo toma a opção clara e cristalina de penalizar os segundos em detrimento dos primeiros. Penaliza os rendimentos do trabalho em favor do capital, aumenta os impostos indirectos que incidem desproporcionalmente sobre os mais pobres, aumenta o tempo de trabalho, destrói os serviços públicos que ainda vão assegurando o que resta de decência e coesão social no nosso país. É a luta de classes, pura e simples – e vai deixar um rasto de sangue e miséria. É bom que os membros do Governo saibam que nós sabemos de quem é a responsabilidade por esse sangue e essa miséria.
Não nos deixemos enganar: há alternativas à destruição da economia e da sociedade portuguesas. Amanhã estaremos na rua para juntar a nossa voz à dos muitos milhares que se recusam a aceitar esta destruição.
Compreendo e dou razão... mas o que me choca nisto tudo é que parece que só acordaram agora!
ResponderEliminarNa verdade foi o povo que elegeu o governo e não assim há tanto tempo.
E já tinha sido o povo a eleger o governo anterior e o anterior e por aí fora...
De quem é a culpa afinal?
Do desinteresse demonstrado em números estupidamente elevados de abstenção e de uma passividade extrema desde 1975...
Podem e devem sair à rua, mas deviam ter saído à rua no dia das eleições... agora servirá de pouco.
Disclaimer: não fui votar, nem estou no país... acredito que traço o meu próprio destino, por isso luto por ele... e infelizmente não é em Portugal.
Claro que há alternativas e é preciso dizê-lo bem alto!
ResponderEliminarÉ necessário um novo manifesto pelo investimento público.
Felizmente, e apesar das medidas adoptadas por este governo , os investimentos públicos realizados nos últimos anos terão certamente um efeito multiplicador na economia (vem nos livros, vide Keynes!) que farão aumentar o PIB, diminuir o défice e o desemprego. Na Madeira, em particular, esse efeito será extraordinário!
Auto-estradas, aeroporto de Beja, novas escolas, Magalhães, Novas Oportunidades, ... serão a salvação deste país.
Por exemplo, está calculado (é sabido!) que a Estradas de Portugal, terá um saldo positivo relativo às concessões rodoviárias de 26 mil milhões de euros até 2050!
Benditos visionários!
Caro Alexandre,
ResponderEliminarFiz link... e agradeço.
Um abraço.
"Portugal tem dos mais elevados níveis de desigualdade de rendimento da Europa"
ResponderEliminarPorque razão esta desigualdade nunca foi suficiente para mobilizar as pessoas?O antes da austeridade era também uma realidade austera, a indignação razoável do agora parece tão lógica como o confrangedor silêncio do antes.
O acto é sempre o aspecto mais superficial da verdadeira revolução.