Durão Barroso parece ter encontrado uma fórmula mágica para disfarçar - de tempos a tempos - a forma vegetativa, incapaz e sumbissa com que tem exercido o cargo de presidente da Comissão Europeia.
Há pouco mais de um mês anunciava - num momento de inspirada alucinação - um «novo plano Marshall» para a Europa. Como o Ricardo Paes Mamede aqui assinalou na altura, essa iniciativa «excepcionalmente ousada» resumia-se à antecipação de fundos comunitários já aprovados e à revisão pontual das taxas de comparticipação nacional. O que, em termos financeiros, corresponderia - na melhor das hipóteses - a um impacto duzentas vezes menor que o do verdadeiro plano Marshall, que Barroso tomou como referência.
Há dois dias, o presidente da Comissão Europeia tentou um truque de ilusionismo idêntico, ao apelar a um «novo momento federador» na Europa, capaz de resolver a crise do euro. Mas não explicou, concretamente, em que medida esse «impulso federativo» permitiria encarar os verdadeiros problemas que persistem. Entre eles, uma governação económica europeia disfuncional, a subjugação da política aos interesses e humores especulativos do capital financeiro, ou a imposição camuflada de agendas ideológicas liberais obsoletas (que estiveram de resto na génese da crise), através dos programas de «assistência financeira» aos países com défice excessivo. O reforço dos poderes dos órgãos comunitários (nomeadamente da própria Comissão) não é, de facto, um bem em si mesmo.
Barroso sabe que as coisas não estão a correr bem. E saberá até muito bem porque é que as coisas não estão a correr bem. Por isso, em vez de lançar efémeras cortinas de fumo, seria bom que assumisse com algum rasgo e coragem o lugar que ocupa. Reconhecer, por exemplo, que o fracasso do modelo de «cooperação intergovernamental» muito deve ao facto de se restringir - na prática - a uma cumplicidade (aliás pouco edificante) entre a França e a Alemanha, que impõem aos seus congéneres o rumo a seguir. Ou, perante a evidência cada vez mais indisfarçável do abismo a que a via austeritária está a conduzir a Europa, instar os estados-membros a um balanço sério sobre as opções de combate à crise adoptadas nos últimos dois anos. Ou ainda, num plano simbólico (mas relevante), dar o sinal de que comissários como Guenther Oettinger não podem continuar à frente dos destinos da União, nem sequer a meio-tempo.
Sendo que o Parlamento Europeu é o *único* orgäo eleito democraticamente, seria a esse orgäo que deveriam ser dados mais poderes.
ResponderEliminarMais poderes à Comissäo deveriam ser aceites apenas e só se ela passasse a ser eleita directamente pelos cidadäos europeus (preferencialmente em listas transnacionais), e näo a panelinha que é hoje em dia.
É claro que sim, caro Maquiavel. É claro que sim. Mas isso não basta. Continuaria de todo a não bastar, com uma uma comissão que é "dona" apenas de um orçamento tão reduzido (1 por cento do PIB), como é actualmente o orçamento "federal".
ResponderEliminarE, para além disso, ainda vem a questão de "independência" do BCE face ao PE e face à própria Comissão.
Sabe que mais? A UE vai ser "corrigida", basicamente, no dia em que... deixar de ser UE. Ela até poderia ser "reformada" para melhor, sim... tal como as galinhas até poderiam vir eventualmente a ter dentes, etc.
Os PIGS não deviam ficar com bandeiras a meia haste, não senhor. Deviam era retirar-SE. De todo e voluntariamente.
E a soi-disant "esquerda" que não explicou isso aos respectivos povos (no plural), antes passou o tempo a garantir o contrário, é que devia ela própria ficar politicamente "a meia haste".
Mas isso já é, claro, uma outra história...
http://benjaminfulford.typepad.com/benjaminfulford/2011/09/neil-keenan-and-keith-scott.html
ResponderEliminarAgradeço, Maquiavel, essa importante chamada de atenção para a diferença entre o Parlamento e a Comissão - do ponto de vista da sua democraticidade - que o post, de facto, não deixou clara.
ResponderEliminarE obrigado também, caríssimo João Carlos Graça, pelas condições adicionais apontadas, sem as quais - efectivamente - se torna difícil conceber uma verdadeira refundação da Europa.