quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A caminho da destruição do euro?

Milhões de portugueses viram e ouviram ontem à noite nas televisões os formatadores de opinião com lugar cativo nos media - que tenho designado de "comentadores da economia doméstica" - dizer que estas medidas de austeridade eram inevitáveis porque os mercados assim o exigiam. Caso contrário, deixariam de nos comprar a dívida pública.

E para dar mais força ao argumento, diziam: "ponham os olhos na Espanha que não deixou apodrecer a situação e cortou a despesa logo em Maio. Agora pagam taxas bem inferiores às nossas." E parecia que tinham razão.

Mas não tinham. Como temos explicado no Ladrões (mais recentemente aqui e aqui), quer a boa teoria económica - aquela que deixa a realidade questionar os seus pressupostos e as causalidades que propõe - quer a trajectória recente dos países do euro que aplicaram a política económica do FMI, dizem-nos que políticas de austeridade em períodos de recessão são contraproducentes, sobretudo quando não podem ser apoiadas por desvalorizações competitivas.

Ou seja, os países do euro que adoptaram a austeridade continuam a apresentar "fracas perspectivas de crescimento", o que aliás levou a uma recente queda da notação da dívida irlandesa. Em consequência, a Irlanda já está outra vez a pagar juros proibitivos. Mas foi para acalmar estas agências que o governo da Irlanda tinha reduzido os salários dos funcionários públicos por duas vezes num total de mais de 20%.

Pois bem, a Espanha acaba de saber que também está na mesma espiral recessiva da Grécia, Hungria, países do Báltico e Irlanda. Hoje no Público (electrónico): "a agência de notação financeira (rating) Moodys baixou hoje a nota da Espanha em um nível devido às fracas perspectivas de crescimento económico, adiantando que a recuperação dos sectores de construção e imobiliário vai demorar vários anos."

Recordo que a Espanha é o maior destino das nossas exportações.

Apesar da esmagadora propaganda que a SIC e a TVI fazem quanto à necessidade desta política, mais tarde ou mais cedo a maioria dos portugueses vai perceber que Portugal entrou numa espiral recessiva: em finais de 2011 teremos muito mais desemprego, um défice público que resiste à descida e uma dívida pública ainda maior. E mesmo com um orçamento aprovado/tolerado pelo PSD, as agências acabarão por dizer que o país tem "fracas perspectivas de crescimento económico" e decretarão que a dívida pública portuguesa é "lixo".

E o Banco Central Europeu não terá outro remédio senão continuar a financiar os bancos portugueses, e os dos restantes países em dificuldades, enquanto a Alemanha não decidir mudar de orientação ou ... acabar com o euro. Sim, este caminho foi uma decisão política da Alemanha. Recusou uma política expansionista de relançamento coordenado da economia europeia e entregou a nossa sorte aos humores das agências financeiras.

Paul De Grauwe, professor na universidade de Lovaina e especialista de economia europeia, explica tudo (aqui e aqui).

O problema é que em Portugal a esmagadora maioria dos actores políticos não sabe e/ou não quer ver. E, como se sabe, o pior cego é o que não quer ver. Até quando teremos de esperar por uma alternativa política?

PS: Sugiro aos nossos leitores que gravem os vídeos dos debates de ontem à noite e os revejam em finais de Janeiro do próximo ano.

10 comentários:

  1. O P.S.pela mão do Socrates e dos seus cumplices(Almeida Santos e Cª)continua alegremente a fazer as piores patifarias - e depois destas outras se lhe seguirão, não tenhamos dúvidas - e nínguém naquele maldito partido (vendido ás politicas neoliberais miseráveis, desde o militante mais pequeno ao maior) protesta contra.!!!!!!?
    Onde é que está a UGTide(a tal que lava mais branco as porcarias do Governo ...).!?
    Pobre país este assim tão mal governado por estas pandilhas (melhor dito quadrilhas de malfeitores...PS/PSD/CDS).

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  2. Há 6 anos quando estive em Istambul, perguntava aos turcos o que pensavam sobre a entrada na Europa, pensavam que sim..!! há 4 voltei a istambul e perguntei às mesmas pessoas se ainda pensavam que era bom entrarem na UE. Aí já me fizeram algumas perguntas como por ex. se o nosso nível de vida era igual ao dos alemães... (quando lhes disse o valor do salário mínimo nem queriam acreditar, qd lhes falei dos impostos, idem...); no ano passado fui mais uma vez e a opinião dos turcos era de que "a europa ainda acaba primeiro que a turquia entra nessa comunidade (?!?!)"

    começo a pensar que os turcos têm razão...

    Enquanto o povinho for alimentado por "informação" que consta das televisões, não há nada a fazer! não há contraditório que chegue!! viu-se aquando dos debates para as anteriores eleições, as audiências dispararam! por isso não venham dizer que o Povo não se interessa!!! ao poder é que não interessa que o Povo pense e anote as diversas opções que existem numa sociedade!!!

    não (foi) é a televisão a grande difusora de TUDO!! então as forças alternativas à esquerda, têm que ter uma Televisão...!!! uma pedrada no charco!! Agitar a malta!!!

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  3. ECONOMIA: "Não negue à partida uma ciência que desconhece", Alcina Lameiras.

    PS: ECONOMIA Não negue à partida uma ciência que desconhece a Realidade; as minhas maiores desculpas á grande economista.. ups... vidente Alcina Lameiras.

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  4. Devo dizer que concordo que as medidas de austeridade ontem anunciadas vão inevitavelmente ter um efeito recessivo e que em 2011 teremos o PIB a descer e o desemprego a aumentar. Como também é verdade que, caso existisse essa possibilidade, a desvalorização seria um instrumento que indubitavelmente facilitaria o ajustamento da economia.

    Como também aceito que em vez das medidas ontem anunciadas fossem implementadas outras com (pelo menos) idêntico impacto orçamental e tenho defendido que seria desejável que os países com BTC superavitárias prosseguissem políticas mais expansionistas (ou, pelo menos, não restritivas).

    Onde me afasto da análise é no que me parece ser uma incapacidade de compreender as diferenças entre a situação da Europa no seu conjunto e a situação especifica da economia portuguesa.

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  5. Caro JP Santos, a situação de Portugal é semelhante à do resto da Europa pelo menos numa coisa: todas as medidas que se têm tomado em defesa do capitalismo têm consistido em destruir capital.

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  6. Vou seguir a recomendação e guardar esses videos... Entretanto guardo também parte do programa do Prós-e-Contras, pois é agradável registar Abel Mateus defendendo esta sua tese ao lado de Carvalho da Silva e, só depois, secundado por Jacinto Nunes

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  7. tchi o que aqui vai

    a Irlanda continuou a construir casas mesmo após a bolha imobiliária ter explodido em 2006

    e pouco fez para corrigir a situação

    o Euro é hoje uma moeda com flutuações mas garante uma unidade e uma força à europa

    acabar com o euro e voltar ao marco ao franco ao xelim e à lira?

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  8. Quais videos?Eu gostaria de ver esses debates.
    É necessário que as pessoas chamem a esta gente aquilo que elas são: extremistas de direita,ou seja,neofascistas.
    Daniel Oliveira já deu o primeiro passo a propósito de João Duque.
    Mas também não podemos esquecer o Medina Carreira que é um populista,demagogo e um neofascista fanático,ou seja,neoliberal.
    Reparem que os seus ódios de estimação são os mesmos dos fascistas clássicos:
    1-sindicatos e o direito à greve que atacam sempre, mesmo de forma velada,porque impedem os pobrezinhos que querem trabalhar.
    Não há dúvida que as suas políticas neofascistas revelam uma grande preocupação com as classes mais pobres e com a classe trabalhadora.
    Porquê que essas empresas ou esses senhores boys preocupados como o Luís Pedro Nunes não pagam do seu bolso o transporte para essas pessoas?
    Assim elas já podiam trabalhar como escravos o ano todo.

    2-legislação laboral que deve ser eliminada para que haja exploração intensiva nomeadamente sweetshops

    3-direitos sociais democráticos que são vistos como um empecilho e privilégios de preguiçosos que não querem trabalhar.
    Tudo o que é despesa social é desperdício e parasitismo,mas o financiamento do sector privado com dinheiros públicos é sempre bem gasto e fica oculto da discussão,aí não podem haver cortes.

    Depois temos aquilo que eles gostam:
    1-baixos salários,ou seja,a competitividade é feita através da desvalorização total da mão-de -obra,enfim vamos voltar ao século XIX.Aí é que era bom.
    2-grandes corporações privadas que
    são intocavéis e não pagam impostos
    nem podem pagar,porque senão zangam-se e vão-se embora para Marte.

    3-adoram especulação financeira,ie,são contra contra qqr legislação que regule a especulação que nos meteu neste buraco

    4-usura bancária,ou seja,qqr que seja o juro pedido pelos credores é sempre legítimo,agiotas não existem e por isso devmos pagar ou somos caloteiros.
    Viva o neofeudalismo,independente do que se trabalha ou produz a dívida é impossível de ser anulada,pq juros daqueles são impagáveis


    5-religião forte e o apelo
    à miséria conformada,nem pensar em protestar por democracia e justiça.

    Devemos aceitar tudo que os nossos senhores feudais que criam riqueza sentados numa cadeira a suar por todo lado.
    Quem trabalha por conta de outrem é um ser inferior
    A SIC e a TVI representam a média corporativa corrupta que manipula a informação e que é golpista pela mentira e manipulação dos factos e dos seus monólogos de discussão.

    E já agora informe o Nicolau Santos
    que a experiência Irlandesa não está a correr bem,porque ele disse o contrário num debate na SIC notícias.
    A propaganda mentirosa não tem limites.


    O Rafa Correa regulou a esta actividade e por isso é chamado de ditador.Quem criminaliza mentiras e propaganda de órgãos de informação
    que são propriedade de grandes empresários do sector privado
    como Balsemão.
    A informação deve ser neutra e verdadeira.Querem fazer propaganda façam-na nos partidos políticos.


    Por último, gostei de o ver disciplinar o Miguel beleza que fala muito bem contra as paredes,mas quando existe alguém a mencionar factos inconvenientes começa a ficar irritado e a mexer-se bastante na cadeira.

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