1. O que se passa em Portugal não é um fenómeno só português. Ao recusarem por em prática os instrumentos que permitiriam evitar taxas de juro especulativas sobre as dívidas do Estado, os actuais dirigentes da UE deixam claro ao que vêm: estão determinados a fazer implodir o que resta de Estado Social na Europa através de uma recessão prolongada no espaço da União. É que no curto e no médio prazo é muito mais verdade que não há sustentabilidade orçamental sem crescimento económico do que o inverso. No longo prazo estamos todos mortos.
2. Na maioria dos casos, os Estados europeus que estão a sentir a pressão dos ‘mercados’ não tinham situações orçamentais insustentáveis antes da crise. Em grande parte, o prémio de risco que está a ser cobrado ao Estados resulta directamente da assunção por estes dos riscos que residiam num sistema financeiro moribundo, nomeadamente através das garantias dadas aos bancos. Os problemas orçamentais derivam também da queda abrupta da actividade económcia a partir do final de 2008 (com a consequente perda de receitas fiscais e o aumento das despesas sociais) e com o esforço dos Estados para atenuar os efeitos da crise através de medidas específicas. Não, não andámos a viver acima das nossas possibilidades. Andámos a permitir a formação de um monstro chamado sistema financeiro desregulado e sobredimensionado, cujos desvarios já tivemos de pagar – e agora pagamos a dobrar.
3. Dentro do pouco espaço de manobra que havia, o governo português escolheu os seus aliados. Num dos países mais desiguais da Europa, não se atreveu a subir os impostos aos mais ricos (o que, além do mais, teria um impacto marginal sobre a procura agregada mais reduzido). A fraqueza das medidas menos injustas do pacote anunciado está mal disfarçada: (i) a «Imposição de uma contribuição ao sistema financeiro em linha com a iniciativa em curso na UE» tem valores risíveis – juntamente com o aumento do IVA em 2 pontos percentuais (p.p.), tem um contributo para a redução do défice de 0,6% do PIB; ora, só o aumento do IVA em 1 p.p. anunciado em Maio tinha um efeito estimado pelo governo de 0,7% em 2011; já se vê a determinação de taxar os bancos; (ii) a «Revisão dos benefícios fiscais para pessoas coletivas» juntamente com a «Alteração do sistema de deduções e de benefícios fiscais no âmbito do IRS» valem 0,4% do PIB; ora, nas medidas anunciadas em Maio, a redução das deduções em sede de IRS valia 0,47% do PIB; já se vê a determinação em acabar com as escandalosas benesses fiscais que são dadas a algumas grandes empresas, a começar pelos bancos.
4. O governo decidiu reocupar o espaço político de origem, o centro direita (depois de um ensaio de encosto à esquerda nas últimas eleições). O PSD que se cuide – é cada vez mais escasso o espaço que tem para se afirmar.
as escandalosas benesses dos bancos
ResponderEliminarque estão endividados em extremo
com casas que lhes vão ficando
nas mãos e não valem o que eles emprestaram
tentemos de outro modo
uma casa em Dublin em 1991 custava o equivalente a 50 a 70mil moedas da 200$
em 2004 o mesmo tipo de casa custava 400mil agora em euros
o problema irlandês é similar no nº de casas
mas infelizmente para eles tem menos gente que portugal
esqueceram-se que havia mais casas que irlandeses
geralmente dá mau resultado
agora pense quantos bancos irlandeses se fundiram e quais as razões
os irlandeses tinham este discurso dos bancos há 2 anos
infelizmente o dinheiro que os ingleses refugiaram em 2008/09
voltou para Inglaterra
de lucros gigantescos
teremos em 2 a 3 anos ou menos
qual é o antónimo de lucro???
não me lembro
Aiden McKenna,
ResponderEliminartente de outro modo de uma vez por todas...gaita...
Por causa de se pensar que "no longo prazo estamos todos mortos" durante tanto tempo é que agora estamos onde estamos.
ResponderEliminarO país está permanentemente a consumir (importar) mais do que produz (exporta). Como é que assim podemos não estar dependentes de quem nos empresta dinheiro?
Não me parece que a austeridade seja a forma de resolver esta crise, mas depois de a resolvermos, vamos ter que começar a usar o que temos mais responsavelmente.
...o dramático da situação é o sacrifício sem metas plausíveis....que dessem sentido a um esforço colectivo. Como vamos estar motivados para os nossos trabalhos e nossas vidas? Urge criar uma "força de entidades independentes" que ultrapasse a mesquinhez dos oportunismos partidários e vaidade pelo poder...pobre Portugal, pobres de nós
ResponderEliminarFrancisco Torres, professor
Por favor, pode explicar-me quais são "os instrumentos que permitiriam evitar taxas de juro especulativas sobre as dívidas do Estado"? - estou tão, mas tão desiludida!
ResponderEliminarP.S.: ou então, cite-me uma fonte onde procurar a informação. Obrigada
Ana Paula,
ResponderEliminarjá aqui referimos várias ideias. As mais óbvias são:
(i) um esforço anti-cíclico coordenado a nível europeu, mesmo que associado às regras orçamentais mais restritivas que agora se estão a desenvolver, dariam mais garantias de sustentabilidade orçamental a prazo do que a imposição destas regras acompanhada do aprofundamento da recessão (logo, da erosão das contas públicas); é que um dos motivos pelos quais há investidores a sair da Europa é o facto de as perspectivas de crescimento, em contexto de recessão politicamente induzida, serem reduzidas;
(ii) a emissão de obrigações europeias - uma União dogna desse nome tiraria partido don seu poder económico para assegurar o acesso a financiamento em termos razoáveis a todos os seus membros - mesmo que isso fosse acompanhado de regras mais restritivas do ponto de vista da monitorização multilateral das despesas públicas; estas sem aquela só servem para acentuar a recessão;
(iii) existe espaço para uma acção mais agressiva do BCE no mercado de obrigações soberanas; é irónico que os bancos tivessem (e continuem a ter) acesso a financiamentoi em condições priveligiadas, mas que os Estados continuem a ter de 'enfrentar os mercados'; o argumento de que existem riscos sérios de inflação é cada vez mais absurdo.
Um post com ideias interessantes. Mas o ponto 3 é basicamente falacioso: o fraco contributo de uma medida para aumentar a receita não resulta necessariamente do pouco significado intrínseco dessa medida; pode resultar simplesmente de não haver um grande número de casos na situação prevista. Se criar um escalão de imposto com uma taxa elevadíssima para um nível de rendimentos onde só estejam 10 pessoas - recolho pouco com isso, mas não por a medida ser intrinsecamente irrelevante. Para substanciar as afirmações do ponto 3 seria preciso mostrar que as modificações propostas são intrinsecamente irrelevantes (não mudam nada de significativo nos casos abrangidos).
ResponderEliminarobrigada.
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