Os gráficos que apresento abaixo (clicar para aumentar) visam comparar a estrutura produtiva da economia portuguesa com a média da UE25 em 1995 e 2005, tanto em termos de emprego como de VAB (nota: a soma do VAB dos vários sectores é aproximadamente igual ao PIB). Os números são retirados da base de dados EU KLEMS (infelizmente, não há dados mais recentes para este efeito; em qualquer caso, as mudanças tendem ser lentas).
Eis algumas ideias que resultam destes gráficos e que importa realçar:
1) O peso da agricultura e da pesca, tanto no VAB como no emprego, continua a ser muito maior em Portugal do que na média da UE (sugerindo que é de esperar a continuação da contracção destes sectores).
2) O peso da indústria transformadora reduziu-se ligeiramente, não se afastando muito significativamente da média europeia (sendo no entanto maior no emprego do que no VAB, reflectindo a menor produtividade da indústria nacional). Ou seja, em comparação com os parceiros europeus, não podemos falar de um processo de desindustrialização acentuado.
3) Em 2005, o peso da construção no emprego era 50% superior à média da UE, antecipando a quase inevitabilidade de perda de muitos milhares de empregos nesse sector (como vinha a verificar-se, mesmo antes da crise financeira).
4) O peso do alojamento e da restauração é acentuado não apenas no emprego (o que é de esperar, dada a importância do turismo em Portugal), mas especialmente no VAB (o que, provavelmente, se explica pelo facto de uma parcela significativa destes sectores em Portugal ter como alvo clientes – nacionais e estrangeiros – com um poder de compra muito superior à média de rendimentos do país).
5) Por fim, e seguramente não menos importante, a intermediação financeira (bancos e seguradoras), a energia (gás e electricidade) e a água são casos à parte – o seu peso no emprego é muito inferior à média da UE, enquanto o seu peso no VAB é superior à média europeia. É aqui que reside uma das maiores debilidades da economia portuguesa – a protecção que é dada a estes sectores (através, nomeadamente, de uma regulação que favorece as empresas produtoras face aos seus clientes), tem como implicação não apenas um peso desmesurado no PIB, mas também a imposição de custos para os restantes sectores de actividade que se reflectem na sua baixa competitividade.
Isto mostra que os partidos de esquerda fazem bem em trazer para o debate público o enquadramento institucional dos sectores energético e financeiro em Portugal. Por aqui passa uma parte importante do desenvolvimento do país, sistematicamente ignorada pelos economistas do regime.
Muito bom Ricardo.
ResponderEliminarImporta notar que, pelo menos por aquilo que percebi através da imprensa, o BE e o PCP se diferenciam pelo alcance do seu «programa de nacionalizações». Se bem percebi o BE deixou de fora o sector financeiro, ainda que tenha vincado bem o uso estratégico a dar à CGD. Já o PCP, não diz muito acerca do uso a dar-lhe, mas, fiel a Abril, defende a nacionalização de toda a banca comercial. Que fazer?