Desde meados de Agosto que o Jornal de Negócios tem dedicado 3 a 4 páginas de cada edição diária a uma área governativa específica, dando conta da situação do país nesse domínio, fazendo o balanço do que foi feito pelo actual governo, comparando as propostas dos principais partidos e entrevistando figuras de destaque na área respectiva.
Algumas das peças que li são do melhor jornalismo que se faz em Portugal. Destaco o tratamento que foi dado a temas como a desigualdade (24/8), a segurança social (25/8) ou o código do trabalho (26/8). Infelizmente também há temas cujo tratamento merece menos elogios - o de hoje é um desses casos.
Há pouco se possa deixar de criticar no tratamento dado ao tema da competitividade, na edição de hoje: desde a confusão de conceitos (fala-se em produtividade, competitividade e concorrência como se fosse tudo a mesma coisa), aos indicadores e fontes utilizadas (o ranking de competitividade da empresa IMD - que está longe de ser uma referência consensual; ou a balança de pagamentos tecnológica - a qual, por muito sexy que seja, tem um valor verdadeiramente residual nas contas externas e que, contrariamente ao que vem no texto do artigo, tem muito pouco a ver com ‘produtos tecnológicos’), terminando na personagem escolhida para falar sobre competitividade - a eminência parda do liberalismo-conservador em Portugal, Pedro Ferraz da Costa (PFC).
Para PFC o problema da competitividade em Portugal não tem nada a ver com o padrão de especialização da economia portuguesa (fruto de uma história de baixas qualificações, empresários que não gostam de arriscar e uma intervenção do Estado que oscila entre a protecção dos interesses instalados e a demissão na promoção do desenvolvimento), com o baixo valor acrescentado produzido pela generalidade das empresas portuguesas (fruto de ausência de dinâmicas de inovação e da má inserção nas cadeias de valor internacional), com os elevados custos de alguns inputs transversais (desde logo, a energia, fruto de uma política de regulação ao serviço das grandes empresas do sector) e das dificuldades de acesso a crédito (idem).
Não, para PFC a falta de competitividade em Portugal tem a ver, só e apenas, com o crescimento dos salários acima da produtividade. Não importa que os salários em Portugal sejam já dos mais baixos da UE. Não importa que a política de baixos salários constitua um incentivo para continuarmos a investir em sectores de baixo valor acrescentado e que estão condenados a enfrentar uma concorrência crescente de economias com custos de produção muitíssimos mais reduzidos. Não importa também que a história económica nos mostre que os países mais competitivos no longo-prazo são aqueles onde os salários mais crescem (e que a competitividade-preço não faz mais do que contribuir para resolver desequilíbrios externos conjunturais).
Nada disto interessa, por uma razão: é que PFC está muito mais preocupado com os lucros que os empresários podem obter no imediato do que com o desenvolvimento sustentado do país. É pena que o Jornal de Negócios não tenha imaginação para escolher um entrevistado menos previsível e limitado.
PFC, antigo presidente do Fórum para a Competitividade, é uma das pessoas que mais critico no meu blogue quando escrevo sobre produtividade.
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PFC não diz nenhuma mentira, aliás diz uma grande verdade, quando diz que a falta de competitividade do país se deve a um crescimento dos salários acima da produtividade.
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O grande problema de PFC, de Vítor Bento e de muitos outros é o de associarem o aumento da produtividade única e exclusivamente à redução dos custos. O grande problema é que PFC só olha para o denominador da equação da produtividade. Produzir o mesmo tipo de bens a custos mais baixos. Isso só nos arrastará numa espiral de empobrecimento ao tentarmos competir pelo preço mais baixo.
O que PFC não fala, nunca fala, e sigo-o há vários anos, é do numerador da equação da produtividade, do aumento da criação de valor, do aumento da produtividade através do aumento dos preços ao produzir bens com maior valor acrescentado. Bens que não competem pelo preço mais baixo.
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2009/04/produtividade-parte-v.html
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2009/04/produtividade-parte-iv-ainda-nos.html
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2009/03/esta-dificil-fazer-passar-para-o.html
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Bastava perguntar a PFC como é que ele explica o aumento em mais de 250% da produtividade do sector do calçado português?
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2009/06/they-dont-get-it.html
O que PFC faz ao colocar a tónica na redução dos custos é desculpabilizar os gestores da responsabilidade de melhorar o numerador da equação da produtividade. Só eles têm autoridade para o fazer.
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Até admira o Ladrões de Bicicletas não trazer à liça o caricato desabafo de Van Zeller(?) sobre o tempo perdido para ir fumar e a sua relação com a produtividade.
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2007/12/conceitos-pr-histricos-de-produtividade.html
Óptimo post e comentário. Parabéns.
ResponderEliminarA copiar para o blog Luminária.
PFC e a insustentável leveza de opinião.
ResponderEliminarUm desastre.
E pensar que PFC já foi o representante máximo, oficial, do patronato.
Está tudo dito.
Com patrões assim, não país que aguente.
Esta, aliás, é uma das razões pelas quais em Portugal os pobres estão cada vez mais pobres e os PFC cada vez mais ricos.