Como mostra este estudo, as comparações internacionais podem ser reveladoras. Portugal acompanhou as perniciosas tendências do mundo anglo-saxónico (ver os trabalhos recentes de Facundo Alvarez da Paris School of Economics ou de Jordi Rafecas da Universidade de Barcelona). A economia política da restauração neoliberal do cavaquismo deixou marcas que estão por reverter. Os resultados da «criação de incentivos» (é assim que se diz, não é?) estão à vista. Neste país quem se preocupa com estes problemas e se atreve a propor soluções igualitárias ainda é acusado de incitar à inveja social ou de ser populista. Consequências da hegemonia do «empresarialmente correcto», cada vez mais desfasado do país e do mundo. Não interessa que a explosão das desigualdades esteja na raiz dos problemas socioeconómicos ou que, tal como aconteceu nos anos vinte, esteja na base de crises devastadoras, para já não falar da forma como distorce os critérios de avaliação moral: o ter substitui o ser. A realidade interessa cada vez menos à direita e à esquerda mínima relaxada com as desigualdades. Agora colhemos as tempestades do egoísmo e autismo sociais que o empresarialmente correcto ajudou a semear através de mudanças institucionais regressivas.
terça-feira, 28 de abril de 2009
Será que se trata de mais um invejoso?
Emmanuel Saez ganhou o mais importante galardão da American Economic Association (AEA) – a John Bates Clark Medal – atribuído a economistas com menos de quarenta anos (via Paul Krugman). Saez é um dos principais estudiosos do fenómeno das desigualdades económicas, em geral, e do fenómeno da concentração de rendimentos no topo da distribuição, em particular. Estuda-se muito a pobreza, mas não são muitos os que estudam também o outro lado da moeda: como os ricos ficaram cada vez mais ricos. Os seus estudos empíricos ajudaram-nos a ter uma ideia mais precisa da extensão e das fontes das crescentes desigualdades, sobretudo nos EUA: por exemplo, este gráfico, que fala por si, foi retirado de um estudo famoso, escrito em co-autoria com Thomas Piketty, que muito contribuiu para mudar os termos do debate nos EUA. A chamada curva de Kuznets, segundo a qual as desigualdades teriam a forma de um U invertido, aumentando no início do processo de desenvolvimento e diminuindo a seguir, foi posta em causa. Nos EUA, o século vinte foi mesmo mais em forma de U. Em Portugal também. Entre outras, as variáveis institucionais, as dinâmicas do conflito social e as normas sociais baralham muito as coisas.
Como mostra este estudo, as comparações internacionais podem ser reveladoras. Portugal acompanhou as perniciosas tendências do mundo anglo-saxónico (ver os trabalhos recentes de Facundo Alvarez da Paris School of Economics ou de Jordi Rafecas da Universidade de Barcelona). A economia política da restauração neoliberal do cavaquismo deixou marcas que estão por reverter. Os resultados da «criação de incentivos» (é assim que se diz, não é?) estão à vista. Neste país quem se preocupa com estes problemas e se atreve a propor soluções igualitárias ainda é acusado de incitar à inveja social ou de ser populista. Consequências da hegemonia do «empresarialmente correcto», cada vez mais desfasado do país e do mundo. Não interessa que a explosão das desigualdades esteja na raiz dos problemas socioeconómicos ou que, tal como aconteceu nos anos vinte, esteja na base de crises devastadoras, para já não falar da forma como distorce os critérios de avaliação moral: o ter substitui o ser. A realidade interessa cada vez menos à direita e à esquerda mínima relaxada com as desigualdades. Agora colhemos as tempestades do egoísmo e autismo sociais que o empresarialmente correcto ajudou a semear através de mudanças institucionais regressivas.
Como mostra este estudo, as comparações internacionais podem ser reveladoras. Portugal acompanhou as perniciosas tendências do mundo anglo-saxónico (ver os trabalhos recentes de Facundo Alvarez da Paris School of Economics ou de Jordi Rafecas da Universidade de Barcelona). A economia política da restauração neoliberal do cavaquismo deixou marcas que estão por reverter. Os resultados da «criação de incentivos» (é assim que se diz, não é?) estão à vista. Neste país quem se preocupa com estes problemas e se atreve a propor soluções igualitárias ainda é acusado de incitar à inveja social ou de ser populista. Consequências da hegemonia do «empresarialmente correcto», cada vez mais desfasado do país e do mundo. Não interessa que a explosão das desigualdades esteja na raiz dos problemas socioeconómicos ou que, tal como aconteceu nos anos vinte, esteja na base de crises devastadoras, para já não falar da forma como distorce os critérios de avaliação moral: o ter substitui o ser. A realidade interessa cada vez menos à direita e à esquerda mínima relaxada com as desigualdades. Agora colhemos as tempestades do egoísmo e autismo sociais que o empresarialmente correcto ajudou a semear através de mudanças institucionais regressivas.
Mas anda tudo cego??
ResponderEliminarTanta teoria tanta teoria.. e esquecem-se da teoria base.. a lei da procura e da oferta. O mundo hoje não é o mundo de ontem, as fronteiras caíram, a economia é global, e isso criou um sério desequilíbrio. Tenho a certeza que se este gráfico fosse visto de uma perspectiva mundial, e não apenas dos Estado Unidos, o resultado seria bem diferente. Obvio que quem saiu prejudicado neste ainda curto prazo, foram os ocidentais, e sobretudo os acidentais pouco qualificados. Claro que isso cria graves problemas sociais que devem ser combatidos, sobretudo com bom senso. Mas assim como muitos alemães perderam os seus empregos para portugueses, mas no final desse processo todos beneficiamos, hoje o mesmo está a acontecer entre o mundo ocidental e o restante. Não há aqui qualquer dúvida de que as a economia de mercado está a seguir tudo aquilo que é descrito pelos modelos Neo-Clássicos.. mas os modelos mostram dinâmicas, não soluções, e as dinâmicas não têm de ser necessariamente a nosso favor.. resta-nos a nós perceber os modelos e tentar reverter os factos a nosso favor. Ou seja, apesar de ser necessário agir sobre os efeitos (protecção social), a maior prioridade é agir sobre as causas, concluo, TEMOS de promover mais as iniciativas individuais de empreendedorismo, formação, desenvolvimento de competências e conquista do mercado externo. Isso dá-se com colaboração, cooperação e responsabilidades individuais, não com a promoção crispações sociais que não nos levam a lado nenhum...
Ui! Temos outro randiano por estas bandas?
ResponderEliminarAinda hoje saiu a notícia de que cerca de 60 000 jovens portugueses entre os 16 e 18 anos estão fora do ensino secundário.. Isso sim é um factor que promove baixos salários e desigualdades sociais..
ResponderEliminarMas ao que parece, para muito boa gente, isto não passa de fait diver.. o que importa é mais a redistribuição cega de riqueza do que a criação!
Uma pergunta: e o que leva esses jovens a saírem do ensino?
ResponderEliminarCaro Wyrm
ResponderEliminarCada caso é um caso... mas não me venha com tretas.. sei que alguns saem para ajudar a família.. mas uma muito considerável parte é por irresponsabilidade, tanto deles como dos pais.. há muita gente que mesmo passando por muitas dificuldades tira o secundário ou cursos superiores.. existem bolsas para os mais desfavorecidos.. Não os tente vitimizar a todos..
Como é que alguém consegue dizer que quem mais sofre com a crise são os ocidentais?Há coisas que não consigo perceber...
ResponderEliminarJoão Costa, desde que frequento este e outros blogs que já não tenho grande pachorra para conversa de café.
ResponderEliminarA afirmação de "que cerca de 60 000 jovens portugueses entre os 16 e 18 anos estão fora do ensino secundário" é por si só inutil. Tem de se saber os motivos e isso só com dados concretos e não com "muitos fazem assim e assado"ou seja, opiniões.
Eu não tentei vitimizar ninguém, mas para se inferir o que quer que seja dos números então temos de saber as razões para o abandono e também o grupo socio-económico em que os jovens se inserem.
De resto é incrivel a cegueira ou desonestidade de muita gente. O Jão e o Bruno também acreditam que só é pobre quem quer?
Muitas pessoas esquecem-se que esta Republica de Abril tem como base não só a liberdade como também a igualdade e a democracia.
ResponderEliminarNesta perspectiva, a liberdade de acumulação de capital só se justifica se existir igualdade na distribuição dos rendimentos e transparência na sua obtenção. O objectivo das decisões políticas só pode ser o caminho para uma economia democrática.
Este é o meu modelo para reverter os factos a favor de todos.
"De resto é incrivel a cegueira ou desonestidade de muita gente. O Jão e o Bruno também acreditam que só é pobre quem quer?"
ResponderEliminarEu chamo-lhe surto de estereótipo socialmente criado. Mas também pode ser uma análise baseada no empirismo de um universo muito reduzido.
De qualquer forma, ou parece uma cassete da feira ou então uma calculadora viciada ...
A verdade é que ninguém é pobre sozinho, nem rico...
ResponderEliminarSe nos esquecermos do quanto dependemos das condições (ou falta delas) que os outros nos dão acabaremos por cair na injustiça social...
"Como é que alguém consegue dizer que quem mais sofre com a crise são os ocidentais?Há coisas que não consigo perceber..."
ResponderEliminarConsegue, consegue. Os que conseguem são os que se consideram "big players". Para estes senhores, o resto é o resto. Em que o resto só serve para ser explorado. Não conta !
Talvez um dia enfiem esta prepotência, o "Rei na Barriga" no sitio onde o sol nunca brilha. Talvez então os que não contam passem a contar. Por enquanto ainda mantêm o "status quo". No entanto, e a História é incontornável, quando o perderem certamente vão gritar pela mesma igualdade que "os que não contam" hoje gritam.