quinta-feira, 27 de novembro de 2008

'Há qualquer coisa no ar' ou a hipótese de um novo ciclo de esquerda

Manuel Alegre afirmou recentemente ao DN: «Há pessoas da esquerda que estão a falar umas com as outras e isso não existia dantes». Há «qualquer coisa no ar». Bem verdade. Acho que há três coisas no ar do tempo: (1) a ideia de uma crise terminal do ciclo de liberalização predatória do país, cujas brutais desigualdades corroem o laço social e geram níveis de sofrimento social e de desconfiança sem paralelo na Europa; (2) a constatação de que só a esquerda pode ser hoje portadora de um programa igualitário de reformas capaz de inverter este desgraçado ciclo – uma grande responsabilidade intelectual e política para todos; (3) a urgência de forjar encontros e arranjos políticos de geometria variável para um «novo ciclo de esquerda». Isto é um processo de descoberta que passa por iniciativas como as que São José Almeida descreve no Público de hoje. Os ladrões participarão activamente. Marquem nas vossas agendas:

« [A] 14 de Dezembro, um domingo, decorre na Aula Magna, em Lisboa, um debate sobre Democracia e serviços públicos, que junta o deputado do PS Manuel Alegre, o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, a deputada do BE Ana Drago, e a militante socialista e presidente do conselho executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, Maria do Rosário Gama. No dia seguinte, dia 15 de Dezembro, à noite, no Hotel Zurique, também em Lisboa, realiza-se um debate plural sobre o tema Crise, oportunidade de viragem. Para onde queremos ir?, que reúne o ex-Presidente da República e enviado da ONU para luta contra a tuberculose, Jorge Sampaio, o deputado do PS António José Seguro, o ex-secretário-geral do PCP Carlos Carvalhas e o economista Ricardo Pais Mamede.
(…)
O debate de dia 14 de Dezembro vem na sequência da iniciativa que juntou, em Junho, no Teatro da Trindade, em Lisboa, Manuel Alegre e o líder do BE, Francisco Louçã (…) Esta sessão decorre durante todo o dia e estará organizada em vários painéis. De manhã os temas são Economia e Educação. O primeiro é moderado por José Castro Caldas e tem como oradores João Rodrigues, André Freire, Alexandre Azevedo Pinto e Jorge Bateria. Já sobre Educação Paulo Sucena modera as intervenções de Cecília Honório, Nuno David, José Reis e Jorge Martins. À tarde, o painel sobre Cidades é moderado por Helena Roseta e tem a participação de Manuel Correia Fernandes, Pedro Soares, Pedro Bingre e Fernando Nunes da Silva. O debate sobre Trabalho tem moderação de Manuel Carvalho da Silva e conta com Jorge Leite, Elísio Estanque e Mariana Aiveca. Por fim, o painel sobre Saúde é moderado por António Nunes Diogo e tem a participação de Cipriano Justo, João Semedo, Mário Jorge e Manuel Correia da Cunha».

Adenda: apelo ao fórum de dia 14, programa e comissão promotora.

8 comentários:

  1. «a constatação de que só a esquerda pode ser hoje portadora de um programa igualitário de reformas capaz de inverter este desgraçado ciclo»

    Eh lá! Vocês têm-se mesmo em grande conta.

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  2. Quem me dera...

    Mas esta cena de uns quantos notáveis fazerem uns quantos discursosem prol de uma "nova qualquer coisa" já tem barbas.

    Quem tem a minha idade já viu isto um ror de vezes. Sou portanto céptico.

    Se alguém tem propostas a fazer que faça, se alguém tem soluções que as expresse e as justifique.

    É com base em propostas que se deve ir para um denate e não o contrário.

    Talvez o Orçamento de Estado devesse ser a base de partida.
    Venham de lá propostas sobre as receitas e como as gastar de uma forma mais justa e produtiva.

    É que exigir, em abstracto, tudo para todos é demasiado fácil.

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  3. Deixem-me sonhar com um amplo movimento de Esquerda que proponha Carvalho da Silva para primeiro-ministro, Manuel Alegre para Presidente da Républica, e tenha o apoio explícito do BE (seria pedir demais que o PCP também se juntasse?... afinal vivemos tempos extraordinários, que pedem visão de futuro). Será possível? Quão longe poderia chegar?...

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  4. Parem lá com a porra do igualitarismo, que é castrador e não leva a lado nenhum !

    Já TODA a gente percebeu que para vocês é melhor todos terem 100 do que os mais pobres terem 200 e os mais ricos 10000 ! Preferem a miséria !

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  5. O comentário do Pedro Sá explica por si porque é que o debate está a ser feito à esquerda.

    Muito gostava eu que descentralizassem debates, ainda vi um no Porto, com o Nuno Teles e o Maximiano Martins como convidados e o Jorge Bateira a moderador...

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  6. Ahh... é tão reconfortante ver como anda nervosa gente como o Pedro Sá. Continuam a debitar as suas mentiras de sempre, a demonstrar a mesma desonestidade habitual, a cobardia de quem sabe que as suas teses são impopulares e que por isso não se atreve a defendê-las abertamente. Mas, sabem, já não resulta! Continuam a tentar assustar as pessoas com o que acham ser palavrões: igualdade: nacionalizações; aumento de impostos. E, incrédulos, constatam que a resposta é: há sim?!, pois acho muito bem. Perderam completamente o controlo dos termos da discussão. E quanto mais disfarçarem as suas propostas, mais ajudam na consolidação do novo consenso. Estão tramados.

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  7. Vim aqui parar pelo último post do Tarzan. E concordo, a crise resulta de o rendimento da maioria das pessoas estar a diminuir, e isto é uma consequência fatal do sistema económico liberal. Não é um mal nem é um bem, é assim, simplesmente.

    O remédio, quando se chega aqui, é começar «a jogar de novo», ou seja, é preciso redistribuir a riqueza, como disse o Obama (esse perigoso esquerdista), aumentar o rendimento das «familias» (um eufemismo para «povo»)para restaurar o funcionamento da economia. Além doutras medidas destinadas a adequar a produção às necessidadas (por exemplo, produzir menos automóveis e mais geradores eólicos ou solares).

    Acho que o meu penúltimo post mostra à saciedade donde nasce a crise e porque é que ela é inerente ao sistema.

    E se ela explodiu primeiro nos EUA foi, também, porque lá a economia não está protegido pelo ordenado mínimo - essa perigosa ideia esquerdista mas que não existe por uma questão social mas sim económica.

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  8. Politicamente a esquerda em Portugal apresenta hoje algumas particularidades. O B.E. é um partido jovem, urbano e de oposição, ainda agora vimos com o Vereador eleito pelo B.E. a quem foi retirada a confiança política após portar-se como uma prima dona do Presidente António Costa, meteu argolada no apoio ao Terminal de Alcântara e no apoio à Vereadora Ana Sara Brito, entre outros lapsos fulminantes. Perde Sá Fernandes e o Bloco, ganha António Costa, de resto tem vindo a conquistar os adversários de uma forma inteligente e muito eficaz.


    O P.C.P. tem um discurso de oposição constante, basta espreitar as Teses para o Congresso deste fim-de-semana e percebemos que na sua óptica todos estão errados, apenas o partido de massas e anti-fascista, onde se corre com os renovadores concomitantemente com a defesa do comunismo chinês e norte coreano para não falar do regime de Fidel Castro, goza de boa saúde.


    O P.S. do Eng.º Sócrates ao governar no centro-direita numa atitude reformista obsessiva, não digo que desnecessárias, internamente vê perfilar-se movimentos de contestação onde surgem por exemplo Alegre, Seguro, Pedroso e outros que postulam um P.S. mais à esquerda onde a via do diálogo e de participação dos cidadãos é a opção considerada.

    Hoje é lançado o site da Fundação Res Pública, aqui vai estar alojado um Fórum e um Blog onde escrevem 20 socialistas. A par desta iniciativa com as "Novas Fronteiras" nota-se uma tentativa de abertura aos independentes e à sociedade civil, mas há uma crispação em alguns sectores da sociedade e das corporações profissionais fabulosamente aproveitadas pelos movimentos sindicais.

    Não sei se será possível conciliar um movimento de repelência e de atracção em simultâneo, ou seja, a tendência para fazer reformas implica a perda de alguns poderes e até mesmo direitos adquiridos de alguns, nesse sentido, duvido que quem perca direitos adquiridos reaja a qualquer chamamento, a tendência desses será para penalizar, e que melhor local do que nas urnas.


    Neste caldo vão surgindo aqui e ali movimentos à espreita da oportunidade para se afirmar, por exemplo, o partido político "Melhor é Possível" (MEP) de Rui Marques que mesmo posicionado ao centro-direita pode vir a beneficiar dos desacertos da esquerda, acumulando com o facto de ser novidade, numa fase crítica da economia e da sociedade as pessoas podem embarcar em novas aventuras. O M.E.P. tem uma presença excelente na Internet, recorre a várias plataformas tecnológicas assentes num excelente site utilizando as potencialidades deste importante instrumento.

    Os quadros do M.E.P. são pessoas preparadas mas com pouca experiência dos aparelhos político-partidários, isso comporta obviamente algumas vantagens e desvantagens. Este partido vai concorrer às europeias e legislativas, à imagem do B.E. quando apareceu. Julgo que por não ter estratégia autárquica e proximidade aos cidadãos da província vão passar completamente despercebidos no interior e nas zonas rurais, mas nas metrópoles vão com certeza obter um bom resultado. Quem sabe se não estará aqui a muleta do Engenheiro.

    http://polvorosa.blogs.sapo.pt

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