Claro que não. Agora conseguem imaginar o que aconteceria se não existisse dívida pública? Actualmente, os especuladores refugiam-se na segurança dos títulos do Estado. O colapso dos mercados revela os pilares públicos em que assenta toda a sua arquitectura.
O Financial Times reconhece, em editorial de sexta-feira, que «as loucuras de uma geração de financeiros irresponsáveis terão de ser pagas pelos contribuintes». As estruturas económicas neoliberais que nutriram a irresponsabilidade foram construídas nas três últimas décadas. Diz ainda o FT que «uma regulação mais apertada é o preço a pagar. Mas isso fica para outro dia». Claro que sim. Quando esse dia chegar, esperem toda a resistência dos «irresponsáveis» e dos seus intelectuais na imprensa e na academia.
No entanto, o cálculo pode sair furado: as medidas de emergência, que se multiplicam nos EUA, podem dar origem a uma forte corrente de opinião a favor da reintrodução de mecanismos de controlo e de regras muito mais apertadas para as operações financeiras. Isto não pode ficar pela pura socialização das perdas. Senso comum.
A crise revela que a economia também é um sistema de regras – de autorizações, de constrangimentos, de proibições – que definem quem é que pode fazer o quê com o quê e quem é que está exposto às consequências dessas acções. As operações de venda a descoberto de acções acabam de ser limitadas nos EUA e no Reino Unido. Não custou nada. Mudar as regras para controlar a especulação que desestabiliza as economias. Instrumentos não faltam: das taxas (Keynes e Tobin) à proibição pura e simples. O princípio é claro e admite muita flexibilidade: é preciso diminuir a liberdade dos agentes financeiros. Para que aumente a liberdade do resto da sociedade, sobretudo para que aumente a liberdade da maioria dos trabalhadores que hoje estão expostos às consequências socioeconómicas perversas que advêm da liberdade irrestrita de circulação do capital.
No curto prazo importa perceber sobre quem é que vai reacair o fardo do ajustamento. O economista Dean Baker oferece preciosas indicações para uma operação de salvamento justa do sistema financeiro.
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