sábado, 24 de maio de 2008

Desigualdade e corrosão dos sentimentos morais

A jornalista Barbara Ehrenreich identificou no seu livro Salário de Pobreza, um notável ensaio/reportagem sobre as trabalhadoras pobres nos EUA, «uma estranha propriedade óptica da nossa sociedade altamente polarizada e desigual». Esta «estranha propriedade» torna «os pobres quase invisíveis aos seus superiores económicos». E já se sabe que o desconhecimento alimenta todos os preconceitos de classe. De facto, investigação em economia política crítica tem sublinhado que «regras do jogo» que produzem resultados socioeconómicos desiguais tendem, por sua vez, a gerar normas sociais que legitimam este padrão e que fortalecem a ideologia do individualismo possessivo. Esta ideologia tende a ver a pobreza como o resultado de más escolhas individuais ou de simples falta de sorte na lotaria da vida. Surge assim um discurso que procura separar os pobres merecedores de caridade e de piedade dos pobres perigosos, moralmente deformados, e que devem por isso ser controlados e punidos. A hegemonia de ideias erradas e moralmente repugnantes sobre a questão social é então a expressão de um sistema socioeconómico crescentemente injusto e que tende a alimentar, num círculo vicioso, visões cada vez mais distorcidas do mundo e da vida. Segue-se a apresentação de alguma evidência empírica que suporta a ideia de que os problemas da pobreza e da desigualdade não são separáveis. O artigo completo pode ser lido no esquerda.

16 comentários:

  1. Argumento Circular: As pessoas com recursos precisam de ter conhecimento da condição das pessoas pobres, mesmo que isso lhes seja irrelevante. É muito necessário que se preocupem com elas, basicamente porque sim. Prova disso é que a jornalista BE, que eu acho uma pessoa notável, concorda. Mais: se eu não concordar em resolver os problemas dos outros, estou a ajudar a desenvolver uma sociedade em que não se ajudam os outros. Não se predispor a resolver os problemas dos outros é moralmente errado e repugnante, porque eu o digo. Até acho que a pobreza é igual à desigualdade. Quem não acredita que leia livros, está tudo lá.

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  2. Sousa, nao é irrelevante.
    E não digo que é porque sim. Digo que é porque podemos olhar para a história e ver que quando os que estão em situação de privilégio à custa de outros perdem essa noção, acontecem revoluções e eles ficam sem cabeça. Eles e muitos que não têm culpa nenhuma.
    Eu não sou dos que dizem que os guilhotinados tiveram o que mereciam. Mas as coisas podem correr de outra maneira com outro tipo de sensibilidade e bom senso.
    Não adianta protestar e gritar "coacção!". Quem tem fome e foi injustiçado não quer saber. Não se interrogam "o que é que eu tenho a ganhar" mas sim "o que é que eu tenho a perder".
    São egoismos simétricos. Agora você, que é um especialista em egoismos, me dirá porque é que um tem mais valor que outro.

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  3. Gosto quando deixam cair a máscara. Afinal o apelo "voluntário" à solidariedade que me fazem não passa de uma ameaça, que passa por pegar em armas para tirar o ouro e a vida a quem não se deixa roubar voluntariamente.

    Esquece-se que ser fome e ser injustiçado são duas variáveis independentes. Como sempre, na cabeça de uma pessoa de esquerda, o egoísmo é a injusta usurpação do saque que não se deixa roubar ao seu legítimo dono. Assim, aquele que rouba é para si igual àquele que não se predispõe a ser cordeiro sacrificial dos seus parasitas.

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  4. O filipe melo sousa faz uma enorme distinção entre quem tem uma arma e a usa para tirar aos outros o que eles têm, e quem tem uma posição de poder e a usa para tirar aos outros o que eles têm.

    Eu abomino ambas as formas de violência. Você não.

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  5. Agora assiste-se a uma cascata de falsidades de palmatória. A desonestidade do seu raciocínio consiste em utilizar a palavra "tirar" como sinónimo de "não dar".

    A sua última frase pode ser duplamente falseada: (1)você acha desejável a pilhagem dos mais abastados pela força, e (2) eu oponho-me realmente a qualquer forma de violência. Em suma: antes pelo contrário.

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  6. Quando digo "tirar" quero dizer "tirar".

    Porque considero que há muita gente que tem o que não fez por merecer.

    Quando um gestor dá a si mesmo a aumento obsceno numa empresa que apresenta resultados resultados mediocres, considera que ele "tirou" dos "accionistas", ou "não deu" aos accionistas?

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  7. Errado: você aqui usou várias vezes "tirar" como sinónimo de não dar, em contextos bem distintos deste exemplo do "pobre" accionista, que até nomeou o gestor em primeiro lugar.

    Não se preocupe com o bem dos outros. Que importa se tiveram o seu conforto sem esforço? Tanto melhor para eles. Se receberam dos pais, da amante, ou do accionista desprendido, foi doado livremente. Com o bem dos outros posso eu bem. Não padeço dessa sua inveja corrosiva.

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  8. "você aqui usou várias vezes "tirar" como sinónimo de não dar"

    Você mente. Torna impossivel o debate.

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  9. De nada vale afirmar e depois negar, o histórico da discussão está aqui. A sua mente continua alimentada pela inveja e pelo ódio, o que lhe baralha o raciocínio.

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  10. Inveja e ódio? Devo ser uma pessoa abominável pelo facto de querer viver num país melhor, mais próspero e mais justo.

    A história do debate está ali:

    Usei UMA VEZ o termo "tirar" num contexto preciso: o do abuso da posição de poder.

    Depois disso apenas se repetiram tentativas suas de dar a esta minha constatação um significado que não tem para assim tentar controlar o debate.

    É como debater com um criacionista... não vale a pena.

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  11. Devo ser uma pessoa abominável pelo facto de querer viver num país melhor, mais próspero e mais justo...

    .. para os parasitas que não fazem nenhum.

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  12. Deve achar que se prega alegremente a pilhagem do património dos outros, e que leva.. a minha bênção? .|.

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  13. "Estás errado, toma .|. "
    É afinal o seu nivel de argumentação.

    Factos, questões, analogias, estudos, trabalhos de campo, a medicina, a psicologia, a história, a sociologia contradizem-no? Não interessa.

    "Estão todos errados! Tomem .|. "

    Caiu-lhe a máscara e ficou... menos que nada.

    Uma coisa posso garantir: Não o invejo, nem o odeio. Apenas tenho pena.

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  14. Quando se tem pena de alguém não se lhe aponta uma arma para lhe levar a carteira.

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  15. Adam Smith (1723-1790)
    on Equity: The Visible Hand

    "Is this improvement in the circumstances of the lower ranks of the people to be regarded as an advantage or as an inconveniency to the society? The answer seems at first sight abundantly plain. Servants, labourers, and workmen of different kinds, make up the far greater part of every great political society. But what improves the circumstances of the greater part can never be regarded as an inconveniency to the whole. No society can surely be flourishing and happy, of which the far greater part of the members are poor and miserable. It is but equity, besides, that they who feed, clothe, and lodge the whole body of the people, should have such a share of the produce of their own labour as to be themselves tolerably well fed, clothed, and lodged."

    Abracos
    Joao Farinha

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