O artigo de José Reis no Mdiplo - «O tempo dos regressos ao futuro: por um desenvolvimento inclusivo» - mostra bem as virtudes de se conceber a economia como uma ciência social histórica e institucional. José Reis inicia a sua análise pelo lastro e bloqueamentos deixados pelo arranque nos anos sessenta do chamado moderno crescimento económico português: «um crescimento que desconsiderava o trabalho, o ‘desutilizava’ e, portanto, o rejeitava, enviando massivamente mão-de-obra para as economias em que crescimento, industrialização e expansão do mercado de trabalho iam a par». Isto permite-lhe destacar três variáveis que desde aí não têm sido bem articuladas: «capacidade produtiva, trabalho e valor internacional». A análise das semelhanças dos três ciclos económicos do regime democrático (1976-1984, 1985-1993 e 1994-2003) revela a prevalência de um «modelo extensivo» que não promoveu a qualificação da força de trabalho. Segundo José Reis, isto explica parte do seu esgotamento na fase actual em que o fraquíssimo crescimento económico se conjuga com uma política económica que parece incapaz de construir um modelo de desenvolvimento socioeconómico inclusivo.
José Reis termina com a definição de três pilares que devem suportar uma política económica de esquerda: (1) qualificação e valorização do trabalho, no quadro de uma redefinição das regras que combata «relações de poder assimétricas» e que reconheça a «relação salarial como relação organizacional e não apenas como relação mercantil simples»; (2) melhor articulação entre os princípios da concorrência mercantil e as «lógicas de organização da economia para lá dos mercados», superando os simplistas dilemas liberais; (3) «falar sem inibições de boa despesa pública, do necessário papel do Estado perante a ‘sociedade privada’, bem mais ineficiente e tacanha que o próprio Estado nas suas piores facetas». A luta por um modelo de desenvolvimento inclusivo começa sempre pela luta das ideias.
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