O artigo de Francisco Louçã no Midplo - «Ibéria de costas voltadas - os modelos de desenvolvimento de Portugal e Espanha» - ilustra bem as virtudes dos exercícios de economia política comparada. De facto, as comparações, pelas diferenças e semelhanças que revelam, podem iluminar aspectos importantes da realidade socioeconómica. Principais diferenças destacadas e exploradas no artigo: (1) Portugal é mais pobre; (2) os nossos níveis de produtividade na indústria transformadora explicam parte dessa diferença e apontam para uma estrutura empresarial muito mais frágil e dependente: «enquanto que a Espanha criou fontes de acumulação assentes em empresas fortes, com uma intensa acumulação de capital e suficientemente competitivas para ganharem partes de mercado internacional, em Portugal a história é a contrária». (3) «o atraso português determina maiores assimetrias»; (4) a economia portuguesa parece não ter sabido tirar proveito das vantagens da imigração.
As semelhanças também são sublinhadas. Recorrendo à evidência disponível em matéria de políticas socioeconómicas, Francisco Louçã contraria «a boa fama que Zapatero tem em Portugal»: «Neste contexto, os governos - fosse aqueles que dispunham de superavite orçamental fosse os que estavam subordinados a um défice - mantiveram um nível de protecção social extraordinariamente baixo para o padrão europeu. Este é talvez a melhor demonstração da vacuidade da disciplina orçamental: com dinheiro ou sem ele, os dois governos fizeram o mesmo». Assim, para Francisco Louçã o défice social define um modelo de desenvolvimento com traços comuns: «um reajustamento das normas sociais de rentabilidade e de acumulação por via do desemprego e sobretudo da precarização, pressionando os salários, ao mesmo tempo que a readaptação tecnológica se vai fazendo». E conclui: «A ibéria aprendeu pouco com as suas virtudes e muito com os seus defeitos».
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