Dos comentários à posta anterior emergiu uma discussão recorrente quando se fala de revoluções tecnológicas - trata-se de saber em que medida estas poderão ser responsabilizadas por períodos prolongados de desemprego.
Um coisa que já devíamos suspeitar é que esta questão é menos simples do que pode parecer. Vista em termos agregados, a mudança tecnológica tem efeitos contraditórios sobre o volume de emprego. Por um lado, tende a provocar uma perda de postos de trabalho, na medida em que conduz frequentemente à substituição de mão-de-obra por capital físico, bem como ao declínio de certas actividades que se vão tornando irrelevantes. Por outro lado, as novas tecnologias também significam a produção de novos bens e serviços, logo a oportunidade para criar novos empregos.
Posto noutros termos, tipicamente a mudança tecnológica implica a libertação de recursos produtivos (nomeadamente, a força de trabalho), os quais podem ou não ser aproveitados para outros fins. Se estes recursos são ou não utilizados produtivamente depende de muitos factores, nomeadamente das instituições do mercado de trabalho, das características dos trabalhadores envolvidos, das políticas macroeconómicas seguidas, entre outros.
Ao atribuir o desemprego francês na primeira metade da década de 1990 ao novo paradigma tecnológico, Viviane Forrester menorizava aspectos muito mais relavantes como sejam a política macroeconómica fortemente contracionista seguida desde o início da década de 1980 na generalidade dos países da Europa ocidental, mas também os efeitos da liberalização internacional dos mercados (associados simultaneamente à conclusão do Uruguay Round e à finalização do Mercado Interno na sequência do Acto Único Europeu), que se fizeram sentir em alguns sectores mais expostos à concorrência externa.
Não, não creio que o comentário do Nuno resulte de uma 'fézada', caro Diogo. Mesmo aceitando que é extremamente difícil identificar o peso de cada factor na determinação de um fenómeno tão complexo como o desemprego.
Meu caro Paes Mamede, você continua, tal como o Nuno, firmemente agarrado aos manuais escolares.
ResponderEliminarA tecnologia evolui de modo exponencial. A velocidade dessa evolução é hoje muito maior do que era há vinte anos, e infinitamente maior do que era há cinquenta anos atrás. Esqueça as políticas macroeconómicas. O impacto da tecnologia não é conjuntural, é cada vez mais real.
Os avanços no hardware, no software, na automação e na robótica são incontornáveis. Quantos engenheiros e arquitectos são substituídos por CADs? Quantos contabilistas são substituídos por programas de contabilidade? Quantos administrativos são substituídos pelas folhas de cálculo? Já observou fábricas quase totalmente robotizadas?
Os trabalhos de colarinho branco estão a desaparecer a grande velocidade. Não é por acaso que os recém-licenciados não arranjam emprego. Não é por acaso que os serviços públicos «têm agora muita gente a mais». Não é por acaso que as empresas de serviços despedem pessoal e são downsizadas. Não é por acaso que «small is beautifull», embora a empresa produza o dobro ou o triplo do que produzia anteriormente.
É certo que ainda sobra algum trabalho de «baixa categoria». Alguém dizia que é mais fácil mandar um robot à lua do que ao fundo da rua comprar tabaco. A complexidade de uma tarefa é enganadora quando se fala em automação. É mais fácil a um computador fazer um projecto completo de uma auto-estrada, com cálculos, aterros e desaterros, pontes e túneis, do que varrer uma sala.
O homem está a ser substituído no trabalho pela máquina. Essa é uma excelente notícia. Mas temos de alterar radicalmente a forma como organizamos a sociedade. Quanto mais tempo demorarmos a fazê-lo, mais gente sofrerá. Viviane Forrester tem toda a razão.
Permitam uma certa discórdia em particular em relação a CAD, robótica, automação...o que sinto é que requerem uma especialização, ou seja cria oportunidades ainda durante a formação dos engenheiros e arquitectos. Por exemplo em CAD dispensa-se o "lápis e a régua", mas convém dizer que facilita a vida do engenheiro/arquitecto, não o dispensa.
ResponderEliminarAlém disso todo este esquema neoliberal tem de ser demolido para podermos falar seriamente destas coisas, falamos das repercussões da evolução tecnológica num mercado que funciona para a concentração abusiva de capital e que não planeia (não quer) a evolução do des/emprego. Assim não nos resta nada se não uma mudança de paradigma, ou seja criar o mercado do emprego, ou seja se o mercado sempre foi feito para satisfazer as necessidades das pessoas (e caprichos também), agora as pessoas precisam de emprego, de dinheiro e oportunidades diversificadas. Não podemos ter um mercado só pensado para o consumo, temos de criar um mercado pensado para criar emprego. Obviamente que esta é uma lógica de pleno emprego e de dispersão de capital, que é antagónica à vigente neste mercado.
Este mercado neoliberal pensa para o bolso e não tem visão de futuro nem está preocupado com repercussões, a tecnologia só surge no mercado porque é uma excelente aliada do lucro...e está relacionada principalmente com o aumento da cadência de produção.
Já agora uma dica, numa sociedade que tende a evoluir para a automatização de processos, temos de nos habituar a pagar às pessoas para...estudar, projectar, desenvolver, investigar. Ou seja se eventualmente houver uma menor necessidade de "mão-de-obra" vai começar a ser preciso mais massa cefálica, as oportunidades estão lá, é só querer.
João Dias: «Por exemplo em CAD dispensa-se o "lápis e a régua", mas convém dizer que facilita a vida do engenheiro/arquitecto, não o dispensa»
ResponderEliminarAo facilitar, dispensa. Uma empresa que precisava há trinta anos de 100 engenheiros, precisa hoje de 10 ou menos, para fazer o mesmo trabalho. Amanhã precisará de um ou dois.
João Dias: «Não podemos ter um mercado só pensado para o consumo, temos de criar um mercado pensado para criar emprego»
Volta a laborar no mesmo erro. O emprego está a extinguir-se. A sociedade baseada no emprego está a desaparecer. O paradigma mudou. Continuar a persistir no velho paradigma é tão inútil como doloroso. Milhões e milhões de pessoas nos «países desenvolvidos» passam a vida a responder a anúncios, a ir a entrevistas e a enviar curricula. Vidas inteiras à procura daquilo que já não existe. Existência inúteis em nome de do deus «emprego»
Tiro o chapéu à análise do Diogo.
ResponderEliminarDos efeitos da tecnologia há um que se sobrepõe a todos os outros, tornando-os desprezáveis quando comparados com ele: a diminuição da necessidade de mão de obra. Que não haja dúvidas. Isto aplica-se a todas as tarefas, desde a engenharia aeroespacial (a combinação matlab+simulink permite a um recém-licenciado reproduzir em meses o trabalho que Hills, com equipas de centenas de assistentes, desenvolveu numa vida) à irrigação agrícola.
Isto só é mascarado pela espiral desenfreada de aumento de consumo, e pelo emprego gerado por ela.
E friso "mascarado"!
Se num cenário se acabasse o sector de 500 000 000 000 $/ano que é a publicidade e o marketing, os trabalhadores libertados desse sector aliado à diminuição drástica de consumo permitiriam que se diminuisse o horário de trabalho enormemente.
É graças ao TeleMarketing, Call Centers , design de páginas web, conteúdos para telemóveis, etc. que grande parte dos recém-licenciados portugueses têm emprego.
Concordo com Tárique.
ResponderEliminarO evolucionário paradigma tecnológico está a tornar obsoleto o paradigma social dos últimos 50 anos baseado no emprego. No entanto as pessoas continuam agarradas aos mesmos dogmas, às mesmas crenças, à procura do mesmo Graal – o louvado emprego.
Os neoliberais (cujo blog nacional mais conhecido é o Blasfémias), cegos à mudança, encetaram uma fuga em frente: mais mercado, mais desregulação, mais liberalismo. Se o liberalismo actual, com milhões de contratados a prazo, de avençados, de pessoas a recibos verdes e de desempregados funciona mal, é porque, na opinião dos blasfemos, é necessário ainda mais liberalismo e menos regulação. Só assim, estão convencidos, teremos «crescimento económico» e, portanto, emprego.
O neoliberalismo é a imagem espelhada do comunismo. Tão radical um como o outro. Tão ultrapassado um como o outro. A tecnologia encarregar-se-á de os enviar a curto prazo para o caixote do lixo da história.
Se decidirem dar uma vista de olhos pela "Sociedade em Rede", de Castells, podem verificar, com dados mensuráveis, que, como tendência geral, não há relação estrutural sistemática entre a difusão das tecnologias da informação e a evolução dos níveis de emprego na economia como um todo. Há empregos que estão a ser criados e outros a ser extintos, mas a relação quantitativa entre as perdas e os ganhos varia entre empresas, indústrias, sectores, regiões e países em função da competitividade, estratégias empresariais, políticas governamentais, ambientes institucionais e posição relativa na economia global.
ResponderEliminarNo Wikipedia:
ResponderEliminar«Castells argumenta que, mais do que as novas tecnologias, as políticas empresariais e governamentais, bem como aspectos institucionais e culturais é que determinam os impactos na questão do emprego.»
«Castells sustenta, ainda, que há um processo tendente à dualização do trabalho, com aumento substancial dos trabalhadores de alto nível e também de nível de menor qualificação, havendo um claro achatamento dos empregados de padrão intermediário de conhecimento e rendimento.»
A segunda frase da tese de Castells contraria abertamente a primeira. Para Castells as novas tecnologias provocam um «achatamento» dos empregados de padrão intermediário de conhecimento e rendimento (porque o substituem). Sobram para Castells os extremos, o trabalho de alto e baixo nível. Mas a tecnologia acabará, igualmente, por «achatá-los».
Relembro uma frase minha do meu primeiro comentário:
É certo que ainda sobra algum trabalho de «baixa categoria». Alguém dizia que é mais fácil mandar um robot à lua do que ao fundo da rua comprar tabaco. A complexidade de uma tarefa é enganadora quando se fala em automação. É mais fácil a um computador fazer um projecto completo de uma auto-estrada, com cálculos, aterros e desaterros, pontes e túneis, do que varrer uma sala sem atropelar o gato.
Diogo:
ResponderEliminar"Ao facilitar, dispensa. Uma empresa que precisava há trinta anos de 100 engenheiros, precisa hoje de 10 ou menos, para fazer o mesmo trabalho. Amanhã precisará de um ou dois."
Faço notar o erro principal no seu comentário:"precisa hoje de 10 ou menos, para fazer o mesmo trabalho.". Para já essa proporção é dificilmente mensurável, mas o trabalho não é o mesmo, é muito mais, eu vejo isso, eu sei isso. A verdade é que podemos e devemos ter mais trabalhadores e cada vez mais produtivos. Isso já acontece no presente, aliás os paises mais desenvolvidos são os que têm melhores níveis de emprego, o que contraria essa teoria de forma clara.
"A sociedade baseada no emprego está a desaparecer. O paradigma mudou. Continuar a persistir no velho paradigma é tão inútil como doloroso. Milhões e milhões de pessoas nos «países desenvolvidos» passam a vida a responder a anúncios, a ir a entrevistas e a enviar curricula. Vidas inteiras à procura daquilo que já não existe. Existência inúteis em nome de do deus «emprego»"
Explique-me então o que farão os indíviduos que não têm meios de produção, não me vai falar na lenga lenga do empreendorismo? Aliás curioso que quem fala de empreendorismo são empresários já estabelecidos no mercado. Mas pergunto então, se o paradigma mudou, diga-me lá qual é o novo, e diga lá qual a fonte de rendimento de indivíduos desempregados...
Tarique:
"É graças ao TeleMarketing, Call Centers , design de páginas web, conteúdos para telemóveis, etc. que grande parte dos recém-licenciados portugueses têm emprego."
Acho que acabou de enunciar uma das tragédias do sistema laboral actual como sendo uma maravilha...
Mas que maravilha é essa de Call Centers para recém licenciados? Indivíduos que investiram na sua formação e intelectuo, é maravilhosa a experiência de emprego precário, mal pago e instável?
É para isso que formamos gente, para ir para Call Centers e Telemarketing? Parece-me que não, aliás parece-me capital intelectual deitado fora.
Caro João, interpretou-me mal. Eu acho que isto da publicidade, marketing, telemarketing etc é um dos mais terríveis flagelos na nossa sociedade.
ResponderEliminarO que eu estava a dizer é que dado o aumento enorme de produtividade que a tecnologia possibilita, poderia haver uma diminuição proporcional dos horários de trabalho e se não o há é porque não é essa política e em vez disso o consumo é estimulado de forma exagerada. Assim, é preciso novos serviços para estimular esse consumo, que empregam muita gente e estimulam a procura, que estimula a necessidade de produção que faz com que continuemos a trabalhar 40 a 60 horas por semana quando podíamos trabalhar 10.
4 pescadores numa ilha trabalham 10 horas por dia para se alimentarem.
De repente descobrem uma técnica que lhes permite pescar 4 vezes mais no mesmo tempo. O que ocorre?
-três pescadores pescam 10 horas por dia apanhando o triplo do peixe.
-um torna-se publicitário para convencer todos que precisam de 3 vezes mais peixe do que precisavam antes.
É assim que vivemos: Para manter horários de trabalho e níveis de emprego precisamos de estimular o consumo exponencialmente porque os seus custos de produção decrescem exponencialmente.
Mas há outra consequência a analisar:
- Para manter consumos elevados há que produzir produtos com cada vez pior qualidade. Diz-se (não sei se e´verdade) que a Phillips inventou há décadas uma lâmpada que nunca se fundia, mas decidiu nunca a pôr no mercado, porque isso "tiraria o emprego" a milhares de trabalhadores.
Peço desculpa, mas de facto tinha ficado essa impressão, mas lendo agora o que escreveu ainda percebo menos a sua concordância com as palavras de Diogo que não acredita numa sociedade virada para o emprego. Concordo em pleno com as suas últimas palavras. Aliás uma das medidas numa sociedade virada para o emprego é diminuição de carga laboral que referiu, isso permitiria controlar os níveis de desemprego. Aliás se aumentarmos a produtividade é lógico que podemos diminuir a carga horária, dado que aumento da produtividade é o aumento de produção por unidade de tempo.
ResponderEliminarOu seja eu não sou crítico da tecnologia, eu critico a forma que está a ser empregue no mercado e como pode afectar o mercado de trabalho. A tecnologia pode:
aumentar produtividade -> diminuição da carga horária
criar novas oportunidades -> criação de emprego
exigir qualificação -> aposta no ensino
Quer dizer pode ter repercussões positivas se fizermos as coisas nesse sentido. Mas a tecnologia está a ser usada em sentido oposto, em criar exclusividade, concentração...
Em última análise existe empresários que despediriam (se pudessem) de bom grado inclusive o indivíduo que lhes automatizou o sistema de produção, porque o desemprego reflecte a vontade dos proprietários dos meios de produção de concentrarem as mais valias só para si.
Sabemos que 95% da riqueza está em 5% da população, acho que isso esmaga todas as teorias de que a miséria, a pobreza e desemprego é um mal inevitável criado por estranhas forças externas à vontade do Homem.
"É assim que vivemos: Para manter horários de trabalho e níveis de emprego precisamos de estimular o consumo exponencialmente porque os seus custos de produção decrescem exponencialmente."
É assim que vivemos, mas não é assim que temos de viver, podemos reduzir carga horária para manter emprego. E em última análise se chegassemos a um situação utópica em que não precisássemos de ninguém para trabalhar, melhor ainda poderíamos ter acesso a bens materiais a custo zero, visto que não havendo a necessidade de prestação de serviços poderíamos perfeitamente viver numa sociedade mais calma e com garantias de bem estar.
A Philips foi bastante demagógica, porque na realidade uma lâmpada desse calibre não existe, poderia existir é um lâmpada que dure uma vida humana. Além disso, poderia afixar um preço para essa lâmpada um pouco abaixo ao custo de troca de sucessivas lâmpadas no tempo de duração dessa "lâmpada vitalícia". Isto possibilitaria pagar anos de actividade dos seus trabalhadores que, tendo sido pagos pelos anos de trabalho que seriam dispensados em função de tal lâmpada, podiam ainda por cima concentrarem-se noutras actividades. Acho que a Philips estava preocupada com outras coisas mais umbiguistas.
«"precisa hoje de 10 ou menos, para fazer o mesmo trabalho.". Para já essa proporção é dificilmente mensurável»
ResponderEliminarO que eu pretendo dizer é que para um mesmo trabalho de padrão intermédio, graças à tecnologia, o número de trabalhadores necessário é francamente menor.
«A verdade é que podemos e devemos ter mais trabalhadores e cada vez mais produtivos. Isso já acontece no presente, aliás os países mais desenvolvidos são os que têm melhores níveis de emprego»
Diário de Notícias: Desemprego na Alemanha a níveis "catastróficos" - O número de alemães sem trabalho, de acordo com os dados da Agência Federal do Emprego, atingiu 5,22 milhões em Fevereiro, mais 180 mil que no mês anterior e um novo recorde desde a II Guerra Mundial.
«Explique-me então o que farão os indivíduos que não têm meios de produção, não me vai falar na lenga lenga do empreendorismo?»
Muito resumidamente, meu caro João Dias, penso que tendemos para uma sociedade do tipo «faça-você-mesmo» numa nova base tecnológica. Deixe-me dar-lhe dois exemplos:
Exemplo 1 - Há uns anos, se você queria meter gasolina, parava o carro na bomba, vinha o empregado, você dizia-lhe quanto queria, ele atestava, você pagava-lhe (e dava-lhe uma gorjeta), e arrancava. Tudo sem se levantar do assento.
Agora, você sai do carro, atesta, dirige-se à caixa, paga e arranca.
Com a via verde você sai do carro, digita o código do seu cartão, atesta, tira o recibo e arranca.
Exemplo 2 – Na empresa onde trabalho existe um bar explorado por duas senhoras. O bar tinha um movimento razoável: pequenos-almoços, cafés, sopas, sandes, etc.
Há menos de seis meses outra empresa instalou uma máquina automática que vende vários tipos de sandes e doces, e vários tipos de bebidas: café, café curto, descafeinado, chá, garoto, galão, etc.
As pessoas chegam à máquina, seleccionam as várias opções que desejam, inserem as moedas necessárias e servem-se. Como resultado o bar perdeu mais de metade da clientela.
Conclusão: Numa sociedade cada vez mais automatizada nós somos mais intervenientes na satisfação das nossas necessidades sem necessidade de pessoas intermediárias.
Diogo:
ResponderEliminarAs respostas são claramente insatisfatórias.
Vejamos...
"O que eu pretendo dizer é que para um mesmo trabalho de padrão intermédio, graças à tecnologia, o número de trabalhadores necessário é francamente menor."
Eu percebi o que pretende dizer, isso ficou bem claro, aliás como acho que ficou claro a insuficiência dessa premissa, visto que se agora é preciso menos trabalhadores para fazer o mesmo trabalho (aumento da produtividade), a verdade é que a tecnologia também cria novas oportunidades e um aumento exponencial de volume de trabalho directo e principalmente indirecto.
"Desemprego na Alemanha a níveis "catastróficos" "
Obrigado pelo exemplo, falamos de um país agora regido por um partido democrata cristão (não que Schroder fosse muito melhor), não podemos dissociar os países dos seus rumos políticos. Quando falo de países desenvolvidos falo de Dinamarca, Suécia...países que consistentemente tem níveis elevados de emprego, e cuja visão mais social torna a sua economia mais acíclica. Além disso o desemprego num país com protecção social não é o mesmo que num país sem ela. Um desempregado português estará logicamente bem mais aflito que um desempregado sueco.
"Muito resumidamente, meu caro João Dias, penso que tendemos para uma sociedade do tipo «faça-você-mesmo» numa nova base tecnológica. Deixe-me dar-lhe dois exemplos:"
Ou seja, uma versão light do empreendorismo??
Obviamente nada do que me diz nega o que eu disse, nem nada do que diz aponta um solução para o problema.
Primeiro:
Nos dois exemplos o meu caro parece negligenciar toda um dinâmica de emprego que existe por detrás disso, repare uma máquina requer assitência, os descafeínados e etc não chegam lá por obra da nossa senhora, o leite é produzido nas empresas, as máquinas são produzidas em empresas e para culminar a máquina foi posta numa empresa para servir as necessidades dos que trabalham nessa empresa. Quer dizer tudo esprimido está afinal, e outra vez, aqui uma dinâmica de esforços conjuntos e de oportunidades de emprego.
Segundo:
Nada do que disse aponta soluções, você diz faça você mesmo e parece que fica resolvido...mas não fica. Aliás o facto de você poder tirar um descafeínado ou servir-se a si mesmo na gasolineira...o que é que isso implica na lógica de emprego? É isso que estamos a discutir.
"Numa sociedade cada vez mais automatizada nós somos mais intervenientes na satisfação das nossas necessidades sem necessidade de pessoas intermediárias."
Estão aqui grandes contradições, porque a satisfação dessas necessidades na ausência de pessoal intermédio não deixa de implicar contudo que o consumidor entre com dinheiro. O consumidor paga, logo tem de ter alguma fonte de rendimento. Se a lógica do emprego está obsoleta então como é que uma pessoa obtem capital? Mesmo que o meu caro pense em empreendorismo está a esquecer que falamos de criação de empresas, de esforços colectivos, de relações laborais...de emprego. Nada do que disse põe em causa a necessidade de criar emprego, ou outra qualquer fonte de obtenção de redimento que o meu caro imagine.
João Dias:
ResponderEliminar«a verdade é que a tecnologia também cria novas oportunidades e um aumento exponencial de volume de trabalho directo e principalmente indirecto»
Falso. As novas oportunidades não vão aumentar (e muito menos exponencialmente) o volume de trabalho humano. Esse novo trabalho será igualmente absorvido pelas máquinas.
«"Desemprego na Alemanha a níveis "catastróficos" "Obrigado pelo exemplo»
A Alemanha não é um país desenvolvido? Você afirmou «aliás os países mais desenvolvidos são os que têm melhores níveis de emprego»
«"Muito resumidamente, meu caro João Dias, penso que tendemos para uma sociedade do tipo «faça-você-mesmo» numa nova base tecnológica." Ou seja, uma versão light do empreendorismo??»
A esta vou-lhe responder depois do jogo do Benfica. Tem a minha palavra. Vai ver que não existem contradições nenhumas.
Meu caro João Dias,
ResponderEliminarFaçamos um recuo de 10.000 anos na história e voltemos ao pré-neolítico (anterior à agricultura). Para o objectivo desta tese vamos subestimar o peso da tecnologia desse tempo. Nessa altura existem duas grandes forças de trabalho: o homem e a natureza.
Por um lado a natureza produzia as plantas (árvores que forneciam madeira, frutos, cereais, legumes, erva para os animais, etc.), a natureza produzia os animais (reproduzia-os, alimentava-os e desenvolvia-os), e a natureza produzia os minerais (minérios de vários tipos). O homem nada tem a ver com esta produção. É uma produção totalmente autónoma. É a natureza que coloca o fruto na árvore, que faz crescer o cereal, que põe o coelho na toca e o veado na floresta. Tudo isto aconteceria mesmo que o homem não existisse.
Por outro lado temos o homem. O homem pega na madeira das árvores e nas pedras e constrói a sua casa. O homem caça o coelho, o veado, o javali e alimenta-se. O homem colhe o fruto, o cereal, o legume e alimenta-se. Com peles de animais e com determinadas plantas tece as suas roupas. Com as peles cose os seus sapatos. Com madeira e minérios produz os seus utensílios e as suas armas.
Em suma, a natureza produz de forma totalmente autónoma determinados bens e o homem recolhe-os e com mais ou menos alterações consome-os.
A estas duas forças de trabalho (a natureza e o homem), junta-se uma terceira que ganha peso a cada século que passa: a tecnologia.
A civilização vai evoluindo com a tecnologia e surge a roda, o moinho, o barco à vela, a carroça, a caldeira a vapor, o caminho de ferro, o motor de combustão interna, o motor eléctrico, as ferramentas eléctricas, o computador, o software, as telecomunicações e a automação.
Na soma do trabalho total (natureza + homem + tecnologia), esta última vai ganhando cada vez mais peso e autonomia.
Da espada que tinha de ser empunhada e brandida pelo homem, passou-se para o míssil que dispara automaticamente assim que percebe uma ameaça. Da conta feita à mão passou-se ao bilião de cálculos por segundo em computador. Da manufactura básica passou-se à fábrica crescentemente automatizada. Em qualquer processo produtivo a tecnologia tem um peso exponencialmente maior.
A automação e a inteligência artificial têm tido um desenvolvimento avassalador. A máquina, cada vez mais, possui mais dados, tem mais conhecimento e melhor capacidade de decisão. Cada vez é mais inteligente e cada vez é mais autónoma. E cada vez menos precisa de ser dirigida pelo homem.
Tal como a natureza produzia sozinha há 10.000 anos (e ainda o faz em muitos produtos que utilizamos), também a tecnologia está cada vez mais próxima de produzir sozinha. O desenvolvimento tecnológico é exponencial em todos os campos que se considere. Donde, no binómio homem-máquina na produção, o homem tem cada vez menos peso. Em breve não terá nenhum e a máquina produzirá sozinha.
Nessa altura, a fábrica totalmente automatizada não poderá ser privada. Porque não existirão trabalhadores com salários, e sem salários não há poder de compra. Sem poder de compra não há vendas. Sem vendas não há lucros. Sem lucros não há empresas privadas. Qualquer empresa automatizada, seja o que for que produza, pertencerá à sociedade.
Este novo paradigma será um faça-você-mesmo numa nova base tecnológica. A cada indivíduo será atribuído um determinado crédito para um certo período e ele poderá servir-se da tecnologia dentro desses parâmetros. Poderá chegar ao pé uma máquina que serve bebidas, pagar e pedir um café. Ou poderá escolher e personalizar a planta da sua casa num programa avançado de CAD que será depois construída por robots. Etc.
Isto não é ficção científica. O número crescente de desempregados e o desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego que cada vez existe menos?
Diogo:
ResponderEliminar"Falso. As novas oportunidades não vão aumentar (e muito menos exponencialmente) o volume de trabalho humano. Esse novo trabalho será igualmente absorvido pelas máquinas.
Em termos práticos eu já demonstrei o como está equivocado nessa matéria, com exemplo das funções associadas a uma simples máquina de cafés, bolos e afins. Por isso também não me vou repetir.
"A Alemanha não é um país desenvolvido? Você afirmou «aliás os países mais desenvolvidos são os que têm melhores níveis de emprego»"
Eu não disse em lado algum que a Alemanha não era um país desenvolvido, nem sequer vou por aí. Mas recapitulando é bastante óbvio o que digo, e repito de forma mais precisa, havendo países desenvolvidos tecnologicamente que têm baixos níveis de desemprego a teoria da tecnologia vs emprego cai por terra, e para isso basta um país desenvolvido...ora temos Suécia, Dinamarca, Holanda...
Acho que fui claro.
Agora em relação ao segundo comentário. Mais uma vez a solução para o problema...não está lá, aliás faz uma evolução temporal que vai do passado para o futuro, mas falo dos problemas do presente e o presente está muito longe desse futuro. Diga-se também que em comentários anteriores eu já tinha referido que na utópica possibilidade de não necessitarmos de operadores humanos, os nossos problemas estavam resolvidos, seriamos consumidores assalariados...concordo consigo nessa perspectiva de futuro. Mas eu falo da realidade, do presente e esse é manifestamente diferente do futuro que me fala.
Agora culmina com uma frase que de facto é um erro brutal:
"Isto não é ficção científica. O número crescente de desempregados e o desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego que cada vez existe menos?"
Neste momento é ficção, porque são precisas equipas imensas para desenvolver software e hardware, além disso e, paradoxalmente, em nome da evolução é que o homem tem de estar presente. Sempre que chega a sua casa um upgrade, um software novo, esteve muita gente envolvida. No presente aquilo que vemos é precisamente o que eu disse, a tecnologia pode dispensar alguma intervenção mais directa no processo produtivo mas requere imensa para a gestão, criação e manutenção dessa tecnologia. No futuro posso concordar consigo, agora no presente ignorar o flagelo do desemprego à espera desse futuro promissor é insensato e nada altruista. O meu caro teria lata de se virar para um desempregado e dizer-lhe para esperar por esse futuro? Então como se faz essa transição, dizemos aos desempregados para esperarem um bocadinho? E eles sobrevivem até esses tempos chegarem?
Além disso atribui as culpas do desemprego à tecnologia, criando uma almofada fantástica nas responsabilidades dos empregadores.
Ou seja não será o capitalismo e a vontade de acumular capital que geram desemprego, é a tecnologia que se impõe à vontade do ser humano e gera desemprego. Não me parece de todo, aliás estas explicações de vontades externas ao homem em aspectos que são, nada mais nada menos, produtos humanos (economia e tecnologia), parecem visar o branqueamento das injustiças criadas pelo Homem.
Diogo: "Falso. As novas oportunidades não vão aumentar (e muito menos exponencialmente) o volume de trabalho humano. Esse novo trabalho será igualmente absorvido pelas máquinas.
ResponderEliminarJoão Dias: Em termos práticos eu já demonstrei o como está equivocado nessa matéria, com exemplo das funções associadas a uma simples máquina de cafés, bolos e afins. Por isso também não me vou repetir.
Diogo: Não demonstrou nada. A produção de cafés, bolos e afins pode igualmente ser hoje quase completamente automatizada. O que não significa que essa automatização já seja economicamente viável.
Diogo: "A Alemanha não é um país desenvolvido? Você afirmou «aliás os países mais desenvolvidos são os que têm melhores níveis de emprego»"
João Dias: Eu não disse em lado algum que a Alemanha não era um país desenvolvido, nem sequer vou por aí. Mas recapitulando é bastante óbvio o que digo, e repito de forma mais precisa, havendo países desenvolvidos tecnologicamente que têm baixos níveis de desemprego a teoria da tecnologia vs emprego cai por terra, e para isso basta um país desenvolvido...ora temos Suécia, Dinamarca, Holanda...
Acho que fui claro.
Diogo:
Sweden (08/07) - The unemployment rate held steady in recent years at about 5% and in 2005 reached 7.8%. Since the mid-1990s, Sweden's export sector has grown significantly ...
CBS - Dutch unemployment
Unemployment in the Netherlands has grown considerably in the last few years. At the beginning of 2004 6.5 percent of the Dutch labour force were unemployed ...
João Dias: Agora em relação ao segundo comentário. Mais uma vez a solução para o problema...não está lá, aliás faz uma evolução temporal que vai do passado para o futuro, mas falo dos problemas do presente e o presente está muito longe desse futuro. Diga-se também que em comentários anteriores eu já tinha referido que na utópica possibilidade de não necessitarmos de operadores humanos, os nossos problemas estavam resolvidos, seríamos consumidores assalariados...concordo consigo nessa perspectiva de futuro. Mas eu falo da realidade, do presente e esse é manifestamente diferente do futuro que me fala.
Diogo: Esse futuro não está tão longe como isso. Aliás, uma boa parte dele já é presente. Há muita fábrica cuja percentagem de automação já ultrapassará os 80%:
Automation – Wikipedia
One irony is that in recent years, outsourcing has been blamed for the loss of jobs in which automation is the more likely culprit[3]. This argument is supported by the fact that in the U.S., the number of insourced jobs is increasing at a greater rate than those outsourced[4]. Further, the rate of decline in U.S. manufacturing employment is no greater than the worldwide average: 11 percent between 1995 and 2002[5]. In the same period, China, which has been frequently criticized for "stealing" American manufacturing jobs, lost 15 million manufacturing jobs of its own (about 15% of its total), compared with 2 million lost in the U.S.[6].
Millions of human telephone operators and answerers, throughout the world, have been replaced wholly (or almost wholly) by automated telephone switchboards and answering machines (not by Indian or Chinese workers). Thousands of medical researchers have been replaced in many medical tasks from 'primary' screeners in electrocardiography or radiography, to laboratory analyses of human genes, sera, cells, and tissues by automated systems. Even physicians have been partly replaced by remote, automated robots and by highly sophisticated surgical robots that allow them to perform remotely and at levels of accuracy and precision otherwise not normally possible for the average physician. See Robot doctors and Surgical robots.
João Dias: Agora culmina com uma frase que de facto é um erro brutal: “"Isto não é ficção científica. O número crescente de desempregados e o desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego que cada vez existe menos?" Neste momento é ficção, porque são precisas equipas imensas para desenvolver software e hardware, além disso e, paradoxalmente, em nome da evolução é que o homem tem de estar presente. Sempre que chega a sua casa um upgrade, um software novo, esteve muita gente envolvida. No presente aquilo que vemos é precisamente o que eu disse, a tecnologia pode dispensar alguma intervenção mais directa no processo produtivo mas requer imensa para a gestão, criação e manutenção dessa tecnologia.
Diogo: Informe-se melhor João. Os exemplos são aos milhares:
Inside UVA
"We might call this ‘software that creates software,’" Grisham suggested. He envisions a center at the University that would be devoted to development of ...
Salon Technology | Software that writes software
Genetic programming is the new frontier: A human creates the environment, and a computer hacks the code …
Software Generator, Idea - Cambrian House, Home of Crowdsourcing
In order to produce software that creates software, the product needs to be able to avoid:. a) over generalisation (making the product useless because it ...
João Dias: No futuro posso concordar consigo, agora no presente ignorar o flagelo do desemprego à espera desse futuro promissor é insensato e nada altruísta. O meu caro teria lata de se virar para um desempregado e dizer-lhe para esperar por esse futuro? Então como se faz essa transição, dizemos aos desempregados para esperarem um bocadinho? E eles sobrevivem até esses tempos chegarem?
Diogo: Esse acréscimo produzido pelas máquinas, que aumenta de dia para dia, deve reverter para todas as pessoas. Foi por isso que afirmei: «Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego que cada vez existe menos?». Diminua-se as cargas horárias e redistribua-se a riqueza produzida. Aceitam-se sugestões. Simplesmente, este período de transição não pode continuar tão doloroso como está a ser.
João Dias: Além disso atribui as culpas do desemprego à tecnologia, criando uma almofada fantástica nas responsabilidades dos empregadores.
Ou seja não será o capitalismo e a vontade de acumular capital que geram desemprego, é a tecnologia que se impõe à vontade do ser humano e gera desemprego. Não me parece de todo, aliás estas explicações de vontades externas ao homem em aspectos que são, nada mais nada menos, produtos humanos (economia e tecnologia), parecem visar o branqueamento das injustiças criadas pelo Homem.
Diogo: É a tecnologia que está a substituir o homem no trabalho. É por isso que o velho paradigma do emprego está moribundo. Vamos criar um mundo mais justo, mais redistributivo e mais humano.
O meu caro parece mais professar uma religião do que estar preocupado em argumentar...mas eu respeito diferentes opiniões e considero que a religião tem direito ao seu espaço.
ResponderEliminarAutomation – Wikipedia
ResponderEliminarEven physicians have been partly replaced by remote, automated robots and by highly sophisticated surgical robots that allow them to perform remotely and at levels of accuracy and precision otherwise not normally possible for the average physician.
Não meu caro Dias, não é religião. É uma nova realidade que você parece desconhecer.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEu não queria usar um pretenso argumento de autoridade, mas fique sabendo que estou envolvido no ramo de automação e robótica, portanto, essa é a minha realidade...e no entanto não a divinizo.
ResponderEliminarNão tem necessidade de a divinizar. Basta reconhecer as suas potencialidades actuais e futuras. Se está envolvido no ramo deve saber do que estou a falar.
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